18 de maio de 2022

Novas pesquisas do IAC exploram variedades exóticas e foco em cafés especiais

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O mercado de cafés especiais, ao longo dos anos, vem se tornando uma janela interessante para o setor cafeeiro do Brasil. Já é uma realidade para o produtor do Brasil falar que produz um café de qualidade.  O país, que é líder absoluto em produção, exportação e pesquisa, cada vez mais avança também na produção e comercialização dos cafés de alta qualidade, tanto no mercado interno, mas também abrindo novos mercados no exterior. 

Vislumbrando as oportunidades que viriam pela frente, em 2010 o pesquisador Gerson Giomo, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), criou o Programa para Cafés Especiais, com foco em estudar o nível da qualidade das variedades disponíveis para o cafeicultor brasileiro, buscar as melhores forma de manejo e o pós-colheita ideal para cada região de produção.

O PDG Brasil foi conversar com ele para saber mais sobre o programa e sobre os avanços do IAC nas pesquisas em torno de variedades que conferem excelente qualidade na xícara. 

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pesquisa de cafés IAC

O que é o Programa para Cafés Especiais do IAC?

Segundo a página oficial do Programa para Cafés Especiais do IAC, o projeto atua em diversas linhas de pesquisa para aprimoramento da qualidade do café brasileiro, com ênfase no estudo de varietais, interação Genótipo x Ambiente e processamento pós-colheita específicos para a valorização do terroir do café brasileiro.

O IAC é referência mundial em pesquisa para o café, há 90 anos sendo linha de frente quando o assunto é melhoramento genético. Localizado em Campinas (SP), antes tomado por fazendas cafeeiras e por fácil acesso às ferrovias, o Centro de Café Alcides Carvalho nasceu justamente para dar mais impulso à produção do grão. 

“O Programa de Cafés Especiais do IAC trabalha dois focos principais: prospecção e degustação de cafés que só IAC possui, por meio do seu Banco de Germoplasma, que vem sendo construído desde 1932. E o outro ponto é a conexão com o mercado por meio dos ‘cuppings’ realizados sob a coordenação do colega Gerson Giomo. Tenho certeza de que nos próximos anos o Programa entregará cafés diferenciados ao mercado, com atributos sensoriais únicos, e até exóticos”, explica o pesquisador Sérgio Parreiras, que desde o início acompanha os trabalhos dentro do IAC. 

Mas o que é um banco de germoplasma?

Um banco de germoplasma é um banco que faz armazenagem de cultivares com o objetivo principal de evitar que alguns tipos desapareçam do mercado ao longo dos anos. O banco germoplasma do IAC conta com cultivares tanto para café tipo arábica como para café conilon.

O material conservado ajuda na pesquisa brasileira em prol da cafeicultura, mantendo a evolução do setor, ajudando a minimizar os impactos climáticos e principalmente colaborando com o aumento da produtividade em áreas já existentes e reservadas ao cultivo de café. 

Além do pesquisador, o IAC destaca em sua página oficial que o programa de melhoramento do cafeeiro do Centro de Café conta com o suporte de grupos que atuam em biotecnologia, socioeconomia, agroclimatologia, fitopatologia, química e qualidade dos grãos e bebida do próprio Centro. 

cafés especiais

Avanço na produção de café especial 

O Projeto de Cafés Especiais do IAC que conta com plantio em vários pontos das principais regiões de produção do país já mostrou resultados sólidos, com cafés com perfis sensoriais exóticos e com potencial para atender qualquer demanda que possa surgir. 

Segundo Gerson, a colheita da safra 22 começa em algumas áreas, como por exemplo na Alta Mogiana, ainda no mês de maio com a expectativa elevada para uma produção de qualidade. 

“Cada ano é um ano de novidade para nós porque são novas variedades entrando em produção, então fica a ansiedade para saber como serão os frutos das novas variedades. Neste ano estamos colhendo alguns experimentos de materiais inéditos, só saberemos se serão bons assim forem torrados e provados, mas a expectativa é sempre positiva”, afirma Gerson. 

As cultivares desenvolvidas no próprio IAC apresentam boas condições de produção para o produtor, com o manejo adequado, cultivar adequada para cada região e as boas práticas e principalmente um pós-colheita bem feito, o bom trabalho por si só vem entregando cafés de qualidade ao mercado. 

cafés especiais

Cafés exóticos

Mas as variedades do estudo em questão, liderado por Gerson, têm chamado a atenção com perfis sensoriais que se destacam. A ideia, de acordo com o professor, é que com a pesquisa seja encontrada cultivar específica para cada área de cultivo. 

Gerson conta que, após 12 anos desde o início do projeto, os trabalhos continuam a todo vapor. “Tivemos avaliações de café e apareceram cafés excepcionais. Conseguimos fazer demonstrações externas desses cafés que confirmaram nossa percepção de cafés de alta qualidade, tanto na linha das variedades exóticas, quanto na linha das variedades clonais, e neste ano a expectativa é a mesma. A colheita está se iniciando, o café vai ser avaliado normalmente e espero que surjam novamente cafés com o mesmo potencial de qualidade”, comenta.

A cada ano que passa o projeto de pesquisa ganha novos ares, sendo apresentado em eventos voltados para a cafeicultura e também em algumas cafeterias. Recentemente, com a tomada das atividades pós pandemia, Gerson conseguiu levar os cafés exóticos em uma cafeteria localizada em um bairro de localização privilegiada, além das atividades externas, o Centro de Café do IAC também voltou a receber visitas técnicas para ajudar na avaliação das bebidas. 

“De modo geral as avaliações e observações corroboram a excelente qualidade dos cafés experimentais do IAC, onde vários foram classificados como exóticos. Isso confirma que estamos trilhando o caminho certo rumo à seleção de varietais com qualidade excepcional na xícara”, afirma a publicação na página oficial do projeto no Instagram Cafés Especiais do IAC

colheita de café

O pesquisador acrescenta ainda que os pesquisadores do IAC vêm se mostrando satisfeitos com os resultados e com as devolutivas durante as visitas. “Ficamos bastante satisfeitos e animados com a possibilidade de elaboração de novos projetos em parceria para a exploração de variedades não-convencionais para a produção de cafés especiais com qualidade sensorial diferenciada”, complementa. 

Para Camila Arcanjo, coordenadora do Centro de Preparação de Café do Sindicafé-SP, as pesquisas sob a liderança de Gerson abrem novas possibilidades para o setor em termos de inovação e diferencial estratégico. “Pois cultivares ou variedades nunca antes cultivadas ou comercializadas no setor brasileiro trazem uma vantagem em relação a outros mercados”, afirma. 

Camila que já provou algumas vezes o café do IAC destaca que o sabor da bebida surpreende em termos de perfil sensorial. “Sabemos que o Brasil é um dos maiores parques cafeeiros do mundo e temos uma vantagem que é ter uma alta latitude comparada a outros países produtores. Dados e pesquisas tanto dos mercados nacional e internacional mostram claramente que uma parcela de consumidores buscam exoticidade e raridade. Nada mais interessante do que utilizar cultivares ou variedades que não foram exploradas nas pesquisas das décadas anteriores, voltadas para a seleção de produtividade e resistência à pragas e doenças e qualidade de bebida como as do programa do IAC”, acrescenta. 

pesquisa em cafés

Como diferenciar a produção de café comum do café especial?

São muitas as características que comprovam a diferença da qualidade do grão do café comum e do café especial. Segundo dados coletados no site da Embrapa, as principais características estão nas cultivares, nas boas práticas durante o desenvolvimento da safra e principalmente no pós-colheita. 

“São cafés que apresentam qualidade superior de bebida e sem qualquer tipo de defeito que venha causar alguma percepção sensorial desagradável ao consumidor. Ainda que o aspecto físico do grão, principalmente relacionado ao tamanho e aparência, seja um fator relevante na determinação do valor comercial do café, a qualidade da bebida é, sem dúvida, o principal diferencial de um café especial”, destaca a Embrapa. 

Outro termo que pode causar dúvidas é o “café exótico”, justamente o que vem chamando atenção nas pesquisas realizadas no IAC. Segundo Gerson, esses cafés são os que vão além da qualidade da bebida, com aromas e sabores com mais complexidade sensorial. Essas duas características vêm sendo comprovadas por degustadores de café que provam os cafés provenientes do IAC. 

Esse tipo de café pode apresentar mais de uma característica sensorial ao mesmo tempo, e quanto mais esse perfil ficar evidente durante a degustação, mais raro se torna o café. “Por exemplo, não é comum encontrar nos cafés cultivados comercialmente nuances de sabor ou aroma que lembram eucalipto, alecrim, menta ou especiarias”, destaca a publicação da Embrapa. 

Cultivares mais utilizadas no Brasil, segundo o IAC 

Atualmente, das cultivares apresentadas pelo IAC, continuam se destacando no mercado a “Catuaí” e o “Mundo Novo”, utilizados por uma maioria esmagadora de produtores no Brasil. De acordo com dados do Instituto, as duas cultivares juntas correspondem por mais de 90% dos mais de 4 bilhões de pés de café arábica plantados no Brasil. 

“Os principais resultados das atividades do Centro são as cultivares de café IAC, que até 2013 somavam 65 registradas e uma protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Essas cultivares se caracterizam por diferenciais como elevada produção, ampla adaptação a diferentes regiões produtoras, resistência a pragas e doenças e excelente qualidade de bebida”, afirma Gerson. 

Fora do Brasil, cultivares do IAC como Bourbon Vermelho, Caturra Amarelo, Caturra Vermelho e Catuaí Vermelho também ganharam espaço na cafeicultura da América Central. “Da cultivar Típica, introduzida no país em 1727, às atuais cultivares de porte mais compacto e resistentes a doenças, um ganho de 240% de produtividade foi acumulado pelo contínuo processo de seleção realizado no IAC”, complementa. 

cafés raros e especiais

Quando pensamos no setor cafeeiro, nem sempre nos lembramos dos pesquisadores e das pesquisadoras dos institutos de pesquisa e das universidades. Com um trabalho dedicado e bastante aprofundado, essas instituições e esses profissionais têm uma contribuição imensamente importante para o mercado de café do Brasil e do mundo. 

Pudemos perceber no texto acima, como a pesquisa realizada no IAC tem apresentado resultados práticos que podem se converter em maior produtividade e maior valor agregado aos cafés brasileiros. Em um momento desafiador para cafeicultores e cafeicultoras, vale ficar de olho nesses resultados, entrar em contato caso haja interesse de testar essas novas cultivares e sempre valorizar esse segmento tão essencial do mercado de café. 

Créditos: Virginia Alves (destaque); acervo IAC; Déborah Perígolo (trabalhador colhendo café); Engin Akyurt (cafés torrados).

PDG Brasil

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