25 de agosto de 2022

Explorando o café brasileiro na Suécia

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A Europa é um grande consumidor de café, consome mais de 3,2 milhões de toneladas por ano e representa um terço do consumo mundial. Entre os países europeus que mais consomem café, a Suécia se encontra nas primeiras posições da lista per capita, tornando os suecos alguns dos maiores consumidores de café mundial. 

Para um país com cerca de 10,5 milhões de pessoas, sendo uma população relativamente jovem e dividida em 49,7% mulheres e 50,3% homens, os suecos têm consumido mais de 8 kg de café por ano por pessoa desde a década de 1960. E o interessante é que esse consumo tem se mantido sempre alto e relativamente estável. 

No início de 2022, os preços do café na Suécia aumentaram quase 30%, em decorrência do aumento de preço do café brasileiro, que é um fornecedor expressivo, e também devido à inflação mundial e gargalos logísticos. 

Fika é um ritual da cultura sueca, é uma longa tradição em que as pessoas podem dar uma pausa no dia e compartilhar de interação social. Portanto com esse aumento no preço, será que os suecos podem querer alterar suas tradições e desistirem de beber café? 

O PDG Brasil conversou com uma engenheira ambiental e também consumidora de café sueca que trabalha na TVRT | BRAZIL COFFEES, uma corretora de café, e com a Lofbergs, uma das maiores torrefadoras da Suécia, para examinar como e por que os suecos bebem tanto café, bem como identificar as tendências e o relacionamento com o café brasileiro.

consumo de café Suécia

O consumo de café entre os suecos

A Suécia tem uma longa tradição com o “fika”, aquele ritual de parar e apreciar um café, que ocorre entre o café da manhã e o almoço ou à tarde entre o almoço e o jantar. Durante a semana, é uma pausa prolongada no trabalho ou nos estudos, onde você socializa com seus colegas e amigos, já durante os fins de semana, é uma maneira de se aproximar e interagir com pessoas para conversar sobre sua vida. 

No “fika” é comum ter um doce para acompanhar o café, como um pão de canela ou um biscoito, mas o ingrediente principal é sempre o café. Bem parecido com o cafezinho da manhã ou tarde de muitos brasileiros, o “fika” é servido em bule de café e também acompanhado de alguns biscoitos e pãezinhos saborosos. 

café brasileiro no mercado sueco

Martin Löfberg, diretor de compras e quarta geração da Löfbergs, que é provavelmente a maior importadora e torrefadora da Suécia, concorda que o “fika” ainda é a base da tradição sueca do café. Para ele os suecos ficam felizes em beber seu café onde quer que estejam, seja em uma caminhada na floresta ou mesmo no escritório com os colegas. 

“Os suecos bebem em média de 3 a 4 xícaras de café todos os dias, tendo preferência por café arábica e filtrado (…) durante os invernos frios, em que as temperaturas podem variar de -5oC a até -40oC. E os sabores tropicais são os que mais atraem os suecos ao café.”

Ao examinarmos as maiores torrefadoras da Suécia (Gevalia, Zoégas e Löfbergs), percebe-se que todas oferecem muitos cafés com grãos do Brasil. Essa longa tradição do café brasileiro na Suécia pode ser resultado das antigas rotas comerciais que ligavam o Brasil à Escandinávia. 

Martin Löfberg explica que o café brasileiro é muito consumido em blends. Ele comentou que, quando eles fizeram um teste no mercado com café 100% brasileiro, os consumidores acharam que o café apresentou um sabor clássico e bastante leve. 

No entanto, ele reforçou que, além dos blends, a Löfberg vende alguns produtos 100% brasileiros, e que, apesar de leve, esse consumo está crescendo, assim como a associação do café à sustentabilidade.

café do Brasil na Suécia

A relação entre o café brasileiro e a Suécia

Quando se trata da importação de café do Brasil, Martin Löfberg acha que a “produção brasileira apresenta muito conhecimento e transparência”, o que acredita ser devido às muitas organizações nacionais que apoiam a produção, bem como muitas universidades com programas em assuntos fortemente ligados à agricultura. 

Löfberg também destaca que a importação tem sido “muito confiável”, apesar de alguns problemas recentes, acontecidos principalmente devido aos desafios logísticos impostos pela pandemia. 

Para Thiago Villela do Reis Teixeira, fundador e corretor de café na TVRT, manter a boa imagem do café brasileiro na Suécia é essencial. 

“A Europa é um mercado de fundamental importância para o Brasil. E, para continuar aumentando nossa participação na Suécia e nos países nórdicos, um mercado com forte presença do café brasileiro, precisamos criar e manter relacionamentos sólidos e transparentes, oferecer cafés de qualidade e constância, bem como atrelar nossos produtos às práticas sustentáveis.”   

suécia e brasil café

Jonna Halonen é uma estudante sueca de engenharia ambiental que está fazendo estágio no Brasil na TVRT em parceria com a Hagro Brasil, empresa especializada em consultoria no agronegócio brasileiro. 

Para ela, a sustentabilidade é algo que as pessoas associam a coisas diferentes. “Alguns pensam nos direitos dos trabalhadores, alguns na biodiversidade e outros na rentabilidade para os agricultores.”

‘’Não há certo ou errado e é difícil resumir as prioridades de todos os suecos. O mais importante é encontrar um equilíbrio para que o café possa ser apreciado sem impactos ambientais prejudiciais e condições injustas para o agricultor e seus trabalhadores.”

Ela está no Brasil realizando junto à TVRT, a Avaliação do Ciclo de Vida, um método para examinar os impactos ambientais em todas as etapas da vida de um produto, comparando junto aos produtores diferentes cultivares de café no Sul de Minas Gerais. 

Para ela, pode-se afirmar que o apelo da sustentabilidade ajuda a vender na Suécia. 

‘’Todas as três grandes torrefadoras suecas promovem projetos de sustentabilidade em suas páginas da web, onde verificam certificações, bem como projetos internos e colaborações para uma cadeia de fornecimento de café mais sustentável, desde o cultivo do grão até a torrefação e o consumo.”

café suécia

Martin Löfberg acredita que o café orgânico pode ser o futuro se for feito da maneira certa, mesmo que seja algo ainda pouco encontrado no Brasil. 

Entre os projetos de sustentabilidade de sucesso da Löfbergs, ele menciona o projeto “Next Generation Coffee”, que está ocorrendo na Colômbia, no Quênia e na Tanzânia com o objetivo de tornar o café um negócio mais atraente para a próxima geração de cafeicultores.

Para Thiago, o café orgânico está em expansão, mas ainda é um pequeno nicho. Para ele a preferência na Suécia é por cafés da espécie arábica e com perspectivas sustentáveis. 

“A produção sustentável de café é um conceito atual e que vai além do café orgânico. Estimular e controlar as práticas sustentáveis na produção de café é um diferencial e ajuda a conquistar novos mercados.” 

café na Suécia

O que esperar do café brasileiro na Suécia?

Como visto, os suecos bebem muito café, e felizmente o café brasileiro continua crescendo sua participação nesse mercado. Portanto, apesar da alta nos preços, como o café manteve por muitos anos preços relativamente estáveis na Suécia e como ele já faz parte da cultura do país, a tendência é que o consumo do café brasileiro continue crescendo.

A adoção de práticas sustentáveis na produção de café é algo já requerido no mercado europeu e desejado na Suécia. Portanto, além de produzir um produto de qualidade é importante produzir e comercializar um café que respeite esses critérios.

brasil e suécia café

Por fim, podemos perceber que o café brasileiro vai continuar aquecendo os suecos no inverno gelado ou mesmo alegrando as pausas casuais. E que transparência é a palavra que solidifica o relacionamento entre os dois países.

Créditos: Pradeep Javedar (preparo de café na V60 em cafeteria/destaque); Banco de imagens (Fika em cafeteria na Suécia, bandeira da Suécia na cidade, par de xícaras brancas); Divulgação Löfbergs (Martin Löfberg em visita a produtoras de café no Brasil, Tiago Villela analisa cafés brasileiros, Jonna Halonen em visita a lavouras de café no Brasil, sede da Löfbergs em Estocolmo).

PDG Brasil

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