18 de agosto de 2022

Por que a promoção do café do Brasil no exterior é importante?

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Dois anos após a pausa forçada em decorrência da Covid-19, os eventos envolvendo a cafeicultura voltaram com força total, e as lideranças do setor no Brasil têm buscado participar ativamente das atividades no exterior.  Mas por que o Brasil, mesmo sendo o maior produtor e exportador de café do mundo, ainda precisa marcar presença em feiras e congressos internacionais para apresentar a qualidade dos cafés aqui produzidos? Por que a promoção do café do Brasil no exterior é importante?

O PDG Brasil conversou com líderes do setor para entender como essas ações podem ajudar a manter os negócios onde as parcerias já são consolidadas, mas principalmente como elas podem ajudar o Brasil na abertura de novos mercados.

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produção de café do Brasil

Um trabalho construído há décadas

Trabalhando há mais de 20 anos trabalhando com café, Edgard Bressani, presidente da Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC), relembra que até 1991 o café especial não tinha a força que tem nos dias de hoje no Brasil. Traçando a linha do tempo, ele recorda que, com a extinção do IBC, foi criada a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). 

“Em  2001, começou a nascer o movimento no mercado interno e, em 2002, organizamos o primeiro Campeonato Brasileiro de Barista, algumas marcas e cafeterias de especiais começaram a nascer”, lembra. 

“Nesse plano internacional, o Brasil tinha a participação em feiras no exterior, organização de roadshows com produtores para visitar compradores no exterior, comitivas estrangeiras que vinham visitar regiões produtoras no país.” 

Edgard ressalta também que houve o Concurso de Qualidade Cafés do Brasil e o patrocínio do Campeonato Mundial de Baristas. “A maioria dessas ações, pensadas lá atrás, é conduzida até hoje”, comenta. 

De volta aos dias atuais, Edgard ressalta que o país atualmente não deixa nada a desejar se comparado com os cafés produzidos em outras origens, destacando “o trabalho do produtor brasileiro que se dedicou, estudou e evoluiu muito na produção deste tipo de café”.

“Investir em qualidade exige maior compromisso, custa mais caro e nem sempre o pequeno produtor está capitalizado ou preparado para essa mudança. Muitas instituições, como o Sebrae, por exemplo, e cooperativas têm seus times a campo auxiliando na transformação”, comenta em relação às ações feitas em território nacional para alavancar a produção brasileira. 

Entre os perfis de café que se destacam no consumo no exterior, Edgard acrescenta que os perfis com chocolate, caramelo, com alto corpo e doçura são os mais conhecidos. “Mas o Brasil produz, além dos naturais, os honeys, os despolpados e mais recentemente preparos especiais com fermentação. Então existem diferentes preferências. Depende muito do foco da torrefação ou cafeteria lá fora”, complementa. 

Neste sentido, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), que desde sua fundação atua representando os cafés especiais do Brasil, explica que a instituição vem atuando em duas linhas de trabalho. A primeira levando em consideração a participação em atividades, conselhos de instituições globais, de modo a reforçar o conjunto de parceiras de modo a inserir os cafés especiais do Brasil num contexto global.

“Por exemplo, para que os concursos de qualidade BSCA fossem realizados com o reconhecimento de hoje foi necessário que a entidade se conectasse a uma rede global de cafés especiais”, destaca Vinicius Estrela, diretor executivo da BSCA.  

ações bsca café do Brasil

O projeto Brazil: The Coffee Nation

E foi nesse contexto que outra oportunidade de atuação no exterior surgiu, o projeto setorial Brazil: The Coffee Nation. Fruto de uma parceria entre a BSCA e ApexBrasil, a iniciativa promove os cafés brasileiros em uma agenda de promoção de negócios, com feiras, rodadas de negócios, defesa de interesses e promoção da imagem em mercados previamente selecionados. 

“Esse projeto faz com que vendamos cada vez mais e melhor o café brasileiro no exterior. Boa parte desse trabalho também é realizado no Brasil, trazendo compradores para visitar os principais eventos no Brasil”, afirma Vinicius. 

A parceria com a ApexBrasil, à que se refere Vinicius, já existe há mais de 10 anos e vem ajudando a manter a boa relação do Brasil com parceiros comerciais já consolidados e de peso, como Estados Unidos, Europa e Ásia. 

Nos últimos anos, se destacaram ainda a Coreia do Sul, Japão e China, que são países onde o mercado já entende que pode avançar de forma significativa no consumo de café nos próximos anos. 

Já quando falamos em buscar novos mercados, o trabalho de pesquisa é feito por meio de áreas de inteligência de mercado, que, conforme explica Vinicius, dividem informações sobre o dinamismo comercial dos mercados em observação com a realização de oficinas com empresas brasileiras para, a partir dessa análise, avaliar as oportunidades em cada nova oportunidade que venha surgir.” 

A partir dessas análises, ainda são produzidos estudos de mercado, seja pela Apex-Brasil, BSCA ou mesmo a rede de setores de promoção comercial do Ministério das Relações Exteriores e adidâncias agrícolas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, comenta. 

Vinicius acrescenta ainda que a outra ponta dos  trabalhos é ampliar a presença mesmo em mercados em que já estamos. “Façamos um exercício importante: se o mercado de cafés cresce a 10% ano, é natural que os competidores se esforcem para conquistar esses 10% de novo mercado, mas há um trabalho que demanda mais atenção e consistência que é o eventualmente deslocar algum share de um país para que o Brasil ocupe essa posição, ou seja, atuar na fatia do mercado que já está ocupada e não no novo mercado. E, sim, considerando mercados mais maduros, esse trabalho é importantíssimo”, afirma.

café do Brasil no exterior

A atuação do Cecafé na promoção do café do Brasil

Os números do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que o café brasileiro chega a mais de 120 países. O país segue líder mundial na exportação, avançando inclusive nos embarques dos cafés diferenciados. 

Marcos Matos, CEO do Cecafé, tem participado de ações no exterior, lidando diretamente com os importadores. “O foco do Conselho tem sido apresentar os reais números da cafeicultura brasileira, destacando principalmente as práticas ESG que já são consolidadas no país”, explica. As ações inclusive fazem parte do planejamento estratégico do Cecafé vigente até 2024. 

Segundo o porta-voz, há alguns o Cecafé já vem trabalhando nesse tipo de ação, mas, desde a aprovação do planejamento estratégico, o Conselho vem atuando mais fortemente nas ações de defesa da imagem do café do Brasil no mercado, mostrando a qualidade, diversidade e também o lado humano que envolve a produção brasileira, mudando inclusive a apresentação do país lá fora. 

“Nós não falamos mais sobre o Brasil, maior produtor e maior exportador. Nós damos ênfase para as histórias familiares, a diversidade de qualidade, ambientes de produção e a dignidade no campo”, afirma.

Segundo Marcos, há estudos com dados oficiais que mostram que onde o café é produzido é maior o índice de desenvolvimento humano. “Então passamos a mensagem dizendo: podem consumir o café do Brasil”, explica. 

Marcos considera que contar a história do café do Brasil tem sido uma ação que vem trazendo bons resultados. As ações foram realizadas em parceria com o Museu do Café

“O Museu do Café vem com a história, com a origem e o lado humano do café. O Cecafé com o fluxo do comércio de cooperativas, empresas internacionais e globais, 96% das exportações brasileiras, com todos os projetos de sustentabilidade e comunicação que são conhecidos e desenvolvidos pelo Cecafé. Esse casamento é interessante porque mostra perfeitamente a quebra daquele lado estritamente comercial que agrada mais os consumidores”, complementa.

O porta-voz dos exportadores conta ainda que a sustentabilidade – cada vez mais evidenciada para o consumidor final – também é uma pauta que não fica de fora nas ações do exterior. 

Os números do Projeto Carbono, realizado pelo Cecafé em parceria com a Imaflora, tem sido uma porta de entrada para mostrar no exterior que o produtor brasileiro está atento às urgências climáticas e exigências de mercado. 

divulgação do café do Brasil na china

As ações do Cecafé já foram realizadas na Itália – há anos um dos líderes na compra do café do Brasil. Mas o Conselho também realizou atividades especiais na China, promovendo o consumo por lá. Em janeiro deste ano, a Embaixada do Brasil em Pequim uniu forças com o Conselho Brasileiro de Exportadores de Café (Cecafé) e a rede de cafeterias Mellower. Isso para oferecer alguns dos melhores cafés especiais do Brasil diretamente ao público chinês.

divulgação do café do Brasil

Com a atuação de diversas entidades, promovendo de forma estratégica o café do Brasil no mercado externo (e também no interno), o setor cafeeiro nacional só tende a ganhar. Com mais valor agregado ao café brasileiro, a produção se fortalece e toda a cadeia produtiva evolui.

Os produtores brasileiros interessados em participar das ações da BSCA, podem procurar a associação por meio do e-mail: info@bsca.com.br. Os interessados em participar ou saber mais sobre as ações do Cecafé, podem entrar em contato pelo e-mail cecafe@cecafe.com.br.  

Créditos: Acervo CNA (produtor mexe café no terreiro/destaque e cafezal); Divulgação BSCA (equipe em ação no projeto Brazil: The Coffee Nation); Divulgação Cecafé (exposição em parceria com Museu do Café na Itália); Divulgação rede de cafeterias chinesa Mellower (fachada da unidade de Singapura e preparo de café na V60).

PDG Brasil

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