Variedades https://perfectdailygrind.com/pt/category/variedades/ Revista digital sobre café, da fazenda à xícara Wed, 19 Apr 2023 18:57:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://perfectdailygrind.com/pt/wp-content/uploads/sites/5/2020/02/cropped-pdgbr-icon-32x32.png Variedades https://perfectdailygrind.com/pt/category/variedades/ 32 32 O que é erva-mate? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/05/01/o-que-e-erva-mate/ Mon, 01 May 2023 10:06:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12638 Em todo o mundo, muitas pessoas bebem café por seu teor de cafeína – um estimulante natural que pode melhorar uma série de funções cognitivas. Além do café, essa substância também é encontrada em outros produtos, como chá, cacau, guaraná e erva-mate. Consumida há séculos em alguns países da América do Sul, a erva-mate (Ilex […]

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Em todo o mundo, muitas pessoas bebem café por seu teor de cafeína – um estimulante natural que pode melhorar uma série de funções cognitivas. Além do café, essa substância também é encontrada em outros produtos, como chá, cacau, guaraná e erva-mate.

Consumida há séculos em alguns países da América do Sul, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é um vegetal que pertence ao gênero llex. Uma vez secos, seus caules e folhas podem ser mergulhados em água quente para produzir uma bebida terrosa e ligeiramente amarga, semelhante a um chá.

Atualmente, as bebidas à base de erva-mate podem ser encontradas em todo o mundo, incluindo as opções de bebidas prontas para consumo (RTD), cada vez mais populares nos EUA e na Europa. Segundo a BevNet, o mercado de erva-mate RTD foi avaliado em US$ 93,2 milhões em 2016 e é provável que esse número tenha crescido desde então.

Para saber mais sobre a erva-mate, como ela é tradicionalmente preparada e consumida e seu crescente mercado de RTD, conversei com três especialistas da indústria. Continue lendo para saber mais sobre eles.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o chá verde contém mais cafeína do que o café.

Erva-mate preparada da forma tradicional

Uma breve história

Acredita-se que a planta Ilex paraguariensis tenha sido descoberta por indígenas guaranis que viviam no que hoje é conhecido como Paraguai. Durante séculos, ela foi consumida por tribos indígenas por razões culturais e espirituais, bem como por seus supostos efeitos medicinais.

O povo Guarani inicialmente mastigava as folhas e caules da planta, mas depois começou a mergulhá-la em água para criar uma bebida semelhante ao chá. Isso era feito em panelas de barro ou em cabaças ocas e secas. E a bebida era consumida usando varas ocas como uma espécie de canudo.

No entanto, quando os colonos europeus chegaram ao Paraguai em  meados do século XVI , o consumo de  erva-mate foi inicialmente proibido. As potências coloniais europeias consideraram a planta viciante à época.

Nos anos que se seguiram, no entanto, os colonos europeus reverteram a proibição e forçaram os povos nativos escravizados a aumentar a produção da erva. A primeira rota  comercial para a erva-mate foi estabelecida em 1645, permitindo que folhas e caules secos fossem exportados para países europeus.

Com o aumento do consumo de erva-mate – tanto no país quanto no exterior – tornou-se uma das maiores culturas de renda da colônia. No entanto, esse crescimento veio às custas da exploração dos povos indígenas. A produção então começou a aumentar constantemente em países vizinhos, como Argentina e Brasil.

No final dos anos 1700, colonos europeus foram expulsos do Paraguai, o que significou que muitas plantações de erva-mate foram abandonadas e, por sua vez, a produção começou a diminuir.  Após uma guerra devastadora ocorrida de 1864 a 1870, a Argentina e o Brasil anexaram algumas das terras paraguaias, que incluíam grandes regiões de cultivo. Isso significou que a produção no país chegou ao fim, enquanto na Argentina e no Brasil ela cresceu e ambos países passaram a exportar mais.

Pessoa com uma caneca de erva-mate nas mãos

A importância cultural da erva-mate

A Erva-mate tem profundas histórias enraizadas em várias culturas diferentes na América do Sul. De acordo com a Statista, a Argentina produziu mais de 837.200 toneladas em 2019. Além disso, o Instituto Nacional de Erva-mate afirma que 100 litros da bebida são consumidos a cada ano per capita. O Brasil, hoje, é o maior produtor mundial de mate com base em estatísticas da FAO-ONU.

De acordo com Callum Berry, proprietário da importadora britânica Anam Mate, beber erva-mate é culturalmente significativo em alguns países da América do Sul. “Lá as pessoas cresceram bebendo e ainda bebem hoje – é parte de sua tradição e herança”, diz.

Durante séculos, a bebida foi preparada e consumida em comunidade. Seguindo a colonização do povo nativo paraguaio, os gaúchos (que são considerados caubóis sul-americanos) preservaram a tradição de compartilhar erva-mate entre amigos e familiares.

Andrés Puras Fernández é chileno e dirige um canal do YouTube sobre erva-mate. Ele conta que a bebida ainda é consumida por meios tradicionais em toda a América do Sul. “Em supermercados e casas na Argentina, Brasil e Uruguai, você verá muitos produtos de erva-mate. E encontrará pessoas bebendo em muitos lugares”, diz.

Cada vez mais conhecida fora de seu berço

No entanto, tanto Andrés quanto Callum mencionam que a bebida não é tão popular em outras partes do mundo, mas dizem que a demanda parece ter aumentado nos últimos anos.

Na verdade, a erva-mate também é comumente consumida no Líbano, na Síria e em outras partes do Oriente Médio (principalmente pelo povo druso e alauita). Mas isso está em grande parte ligado à migração histórica da América do Sul.

Andrés menciona especificamente que seu canal no YouTube viu um aumento significativo no tráfego durante a pandemia. E que, além disso, a popularidade da erva-mate entre os jogadores profissionais de futebol do Reino Unido pode ser atribuída ao aumento da demanda geral.

“Não vai agradar a todos porque algumas pessoas podem querer uma bebida mais rápida e conveniente”, diz ele. “Mas a maneira tradicional de consumir erva-mate se alinha com meus próprios valores pessoais. É algo para desacelerar e tirar um tempo do meu dia para aproveitar.”  Essa ideia é um pouco semelhante à filosofia  Slow Food, que abraça a ideia de reservar um tempo para desfrutar de alimentos e bebidas – incluindo o café e a erva-mate.

Uma bomba, espécie de canudo usado tradicionalmente para consumir o mate

Como se prepara o mate?

Tradicionalmente, as folhas de erva-mate secas são colocadas em uma cabaça. Em seguida, você adiciona água quente (mas não fervente). Aí então deixa que as folhas fiquem imersas por alguns minutos.

Uma vez preparado, o erva-mate é geralmente consumido através de uma bomba, que é um canudo de metal contendo um filtro embutido. A cabaça pode então ser recarregada com água quantas vezes forem necessárias ou até que as folhas tenham perdido a maior parte de seu sabor.

Callum me diz que enquanto alguns consumidores hoje optam por vasos de vidro ou aço, muitos ainda preferem cabaças artesanais e bombas feitas de materiais naturais. Estes podem incluir certos tipos de madeiras, como Palo Santo, ou podem até ser feitos de cabaças ocas, curadas e secas.

Muitas pessoas acreditam que beber erva-mate de uma cabaça tradicional confere mais sabor à bebida e melhora a experiência geral.

“Em comparação com beber de uma caneca, usar uma cabaça tradicional tem muito mais significado cultural”, explica Callum. “Você tem que cuidar da sua cabaça, então a conexão que você tem com ela é única.”

Os rituais associados e alternativas de consumo

Andrés diz que há uma cultura de entusiastas da erva-mate. “Há as pessoas que realmente gostam da bebida. E às vezes elas fazem suas próprias cabaças, bombas e outros acessórios, devido a cultura ser interessante para elas”, diz.

Victoria de la Torre é a fundadora da SouthmaTea, um fornecedor de erva-mate com sede em Buenos Aires, Argentina. Ela me diz que as crianças bebem mate nas escolas da Argentina, muitas vezes adicionando leite e açúcar para “torná-lo mais agradável” para paladares menos desenvolvidos.

Andrés diz que o clima pode influenciar como as pessoas preparam o erva-mate. Por exemplo, em países que experimentam períodos mais longos de clima quente, muitas pessoas optam por preparar a bebida usando água fria – o que, sem dúvida, afeta o tempo total de preparação e a extração de sabores.

Descrevendo os sabores da erva-mate

“Amargo” é muitas vezes uma palavra usada para descrever a erva-mate, mas Victoria diz que seus sabores podem variar de acordo com fatores como origem e métodos de secagem.

“Semelhante ao café e ao vinho, os sabores podem variar dependendo do terroir onde foi cultivado. Algumas origens podem ter um sabor mais terroso, enquanto outras podem ter um sabor mais complexo, picante e agridoce”, ela explica.

Victoria acrescenta ainda que o mate argentino é geralmente cultivado em solo rico em minerais na floresta tropical do país, e que as folhas são secas sobre o fogo, o que pode trazer notas defumadas à bebida. Andrés concorda, dizendo que uma vez que você se familiariza com os sabores do mate, é provável que você saiba onde ele foi cultivado. Isso se assemelha com os cafés de origem única. Ele diz ainda que a erva-mate argentina é mais doce, indicada para quem bebe pela primeira vez. 

Benefícios e riscos para a saúde

Em todo o mundo, muitas pessoas bebem erva-mate por seus supostos benefícios à saúde. Pesquisas descobriram que o consumo de mate está associado à perda de peso e à proteção do sistema  imunológico. Além disso, a erva contém antioxidantes como saponinas e polifenóis. Essas substâncias têm propriedades anti-inflamatórias e redutoras do colesterol.

No entanto, esses benefícios para a saúde variam conforme a quantidade de erva-mate que você consome e como você bebe, além de como as folhas são secas e processadas.

Segundo Callum, existem muitas variedades de mate e o sabor e a composição química de cada uma delas é diferente. “Como ela pode ser consumido por longos períodos, não resulta em uma injeção muito alta de cafeína”, diz.

“A erva-mate pode ser comparado ao café em termos de teor de cafeína”, explica Victoria. “Ele pode ser consumido ao longo do dia e pode ajudar a mantê-lo alerta e energizado.”

Normalmente, uma porção de 150 ml de erva-mate contém cerca de 80 mg de cafeína, mas diferentes variedades podem ter quantidades variáveis de cafeína. No entanto, adicionar continuamente mais água à bebida significa que a ingestão de cafeína pode aumentar significativamente.

Além disso, os caules e as folhas são frequentemente secos sobre o fogo, e algumas fontes sugerem que isso pode formar hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Estes são conhecidos por serem cancerígenos, mas mais pesquisas clínicas são necessárias para verificar cientificamente quaisquer supostos riscos e benefícios para a saúde da erva-mate.

Lata de bebida gelada e pronta para o consumo à base de mate.

Bebidas prontas para o consumo à base de erva-mate

Andrés diz que, embora os métodos de consumo mais tradicionais possam não atrair a maioria das pessoas, a crescente diversificação dos produtos de erva-mate e dos métodos de preparação está ajudando a tornar a bebida mais popular. 

“Nos EUA, algumas pessoas a preparam em uma prensa francesa”, diz ele, que acrescenta: “As bebidas energéticas RTD (prontas para o consumo) à base de erva-mate também estão se tornando mais populares. Pode-se incluir frutas para criar diferentes sabores.” 

Atualmente, existem vários produtos de mate enlatados RTD, em especial nos EUA e na Europa. Uma marca proeminente é a Guayakí, criada na Califórnia em 1996. Além de vender folhas soltas de erva-mate, a empresa também vende bebidas em latas e gaseificadas.

Em 2021, a subsidiária da Coca-Cola, Honest Tea, lançou uma bebida de erva mate RTD, que incluía várias opções diferentes de sabor.

Mais inovações e potencial de mercado

Callum também observa a variedade de sacos de mate de dose única adoçados agora disponíveis no mercado para aqueles que procuram métodos de preparação mais convenientes.

Em relação ao seu potencial de mercado, Andrés diz que a erva-mate é tipicamente mais barata do que o café, o que poderia ajudar a torná-la mais popular. No entanto, ele ressalta que, devido ao pequeno número de países produtores de mate, é improvável que a produção possa escalar significativamente. Callum considera que é necessário estabelecer uma distinção entre as opções tradicionais de erva-mate e as opções de RTD, em grande parte porque oferecem experiências diferentes aos consumidores.

Uma cuia de mate

A rica história da erva-mate, sem dúvida, a torna uma bebida culturalmente significativa para muitas pessoas na América do Sul. Para os bebedores mais tradicionais, o ritual de preparar e compartilhar mate com amigos e familiares é de vital importância.

No entanto, com o crescente número de produtos mate disponíveis em todo o mundo, é claro que as formas mais modernas de consumir a bebida também estão se tornando cada vez mais populares.

“Mais pessoas deveriam experimentar”, conclui Andrés. “É uma bebida interessante com muita herança tradicional, mas não é valorizada o suficiente.”

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o que é um matcha latte?

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Há espaço para novas competições de baristas e café? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/04/19/ha-espaco-para-novas-competicoes-de-baristas-e-cafe/ Wed, 19 Apr 2023 10:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12647 No café especial, há uma gama de competições projetadas para testar as habilidades e o conhecimento de diferentes profissionais. Dentre estes, os Campeonatos Mundiais de Café (WCC) são amplamente reconhecidos como os respeitados e conceituados no setor. E entre eles, o destaque fica com os Campeonatos Mundiais de Baristas (WBC). Sem dúvida, há muitas razões […]

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No café especial, há uma gama de competições projetadas para testar as habilidades e o conhecimento de diferentes profissionais. Dentre estes, os Campeonatos Mundiais de Café (WCC) são amplamente reconhecidos como os respeitados e conceituados no setor. E entre eles, o destaque fica com os Campeonatos Mundiais de Baristas (WBC).

Sem dúvida, há muitas razões para celebrar eventos WCC, incluindo as tendências inovadoras e únicas que podem surgir a partir das performances dos concorrentes. No entanto, nos últimos anos, o WBC, em particular, tem recebido críticas por falta de inclusão e acessibilidade, levando alguns a propor mudanças no formato dessas competições.

Então, há espaço para novas competições de café na indústria? E como podemos tornar as competições existentes mais inclusivas? Para saber mais, conversei com dois organizadores de eventos de café. 

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o Campeonato Mundial de Baristas precisa mudar.

Juízes trabalhando em competição de baristas

Entendendo o WBC – Campeonato Mundial de Baristas

Ola Brattås é o fundador do Kokekaffe Championships, uma competição anual em que os competidores preparam seus cafés usando um método tradicional nórdico.

Segundo ele, o organizador do WCC, World Coffee Events (WCE), é uma grande organização que ajudou a estabelecer a autoridade e a credibilidade das competições. “Organizou eventos do WCC por muitos anos e reformulou as regras à medida que as competições evoluíram ao longo dos anos”, ele acrescenta.

Embora existam sete eventos WCC, incluindo a World Brewers Cup e o World Coffee in Good Spirits Championship, a WBC é sem dúvida a mais impactante. 

Os vencedores anteriores do WBC muitas vezes lançam tendências, adotadas pelo café especial mais amplamente. Por exemplo, o Campeão Mundial de Baristas de 2015 Saša Šestić usou um lote da variedade Sudan Rume processada através de maceração carbônica em sua rotina vencedora – levando a um crescente interesse no método e na variedade. Além disso, competir no WBC permite que os baristas mostrem suas habilidades e conhecimentos em uma plataforma global – potencialmente levando a novas oportunidades de carreira e negócios.

A questão do formato das competições WCC

Os eventos do WCC também são conhecidos por serem muito formais e focados em regras, aumentando seu prestígio e credibilidade. Para alguns, essa abordagem fornece aos concorrentes orientações claras sobre como desenvolver suas rotinas na esperança de receber pontuações mais altas.

No entanto, alguns afirmam que isso pode tornar os eventos WCC exclusivos e inacessíveis – especialmente para concorrentes que não são de países de língua inglesa.

Steve Moloney é o fundador da Ordna  Event Agency e da The Barista League, uma competição de estilo barista que acontece em vários países todos os anos. De acordo com ele, a A WCE ajudou a estabelecer padrões internacionais para competições de café há cerca de 20 anos.

“No entanto, o conceito original para o WBC foi criado em um momento em que havia mais necessidade de estabelecer padrões e práticas comuns às competições de café. Apesar das críticas, devemos reconhecer que as competições em geral se beneficiaram do formato padronizado da WBC”, acrescenta ele.

Competição The Barista League

E Quanto a outras competições de baristas ou de café?

Ao lado de eventos WCC, há uma série de competições de café que ocorrem todos os anos. Um desses eventos é o World AeroPress Championship (WAC), que foi criado em 2008. Há ainda a The Barista League que acontece anualmente desde 2015 e o Coffee Masters que acontece bianualmente durante os festivais de café de Londres e NY.

No caso do WAC, todos os anos cerca de 3.000 profissionais de café de 60 aproximadamente países participam de competições nacionais e regionais. Nelas, o preparo do café é feito sempre usando a AeroPress e o ambiente é bem menos formal e focado em regras.

Da mesma forma, a The Barista League é outro exemplo de uma competição de café inclusiva e informal. Nela, os participantes competem em várias rodadas de desafios com um foco significativo em práticas sustentáveis – incluindo o uso exclusivo de leite de aveia. Já no Coffee Masters, os concorrentes são testados em várias habilidades diferentes – incluindo cupping, preparo com filtro e latte art.

Outros exemplos de competições alternativas

Além disso, há as competições de café que se concentram em outros métodos de preparo que estão se tornando mais comuns.

Entre elas está o primeiro Toddy Cold Brew Championship, realizado na PRF Colômbia no início deste ano. Nele, os concorrentes prepararem três tipos diferentes de bebidas frias.

Há ainda o Campeonato Mundial de Kokekaffe, uma competição relativamente nova na indústria do café que, segundo Ola, é um pequeno evento com algumas regras simples que são fáceis de entender.

“A competição dura cerca de duas horas, e também há a opção de ter um substituto participando em seu nome para reduzir os custos dos concorrentes, se necessário. No campeonato, um mesmo café é fornecido a todos e não é necessário criar uma apresentação para participar”, ele acrescenta.

Steve destaca a importância de incentivar o surgimento de novas competições de café. “Quanto mais eventos e competições diferentes tivermos na indústria do café, melhor para todos”, diz.

“Somos uma indústria diversificada, mas às vezes pode haver muito foco em um padrão de competição de café, o que significa que estamos potencialmente perdendo o apoio a outros tipos de criatividade e inovação. Novos formatos de competição e eventos podem inspirar as pessoas e impulsionar o setor em direções novas”, conclui.

Competidores na The Barista League

Os desafios de lançar uma nova competição de baristas

Tendo em conta os valores da indústria do café especial, há, sem dúvida, espaço para mais inovação e diversificação no que diz respeito a eventos e competições.

“Em todo o mundo, há tanta inovação acontecendo com as competições de café que podem não ser exibidas em uma plataforma global”, diz Steve. “É uma oportunidade de criar algo novo – testar diferentes ideias e ultrapassar os limites de outras competições.”

No entanto, Ola explica que pode levar vários anos para estabelecer uma competição de café. “Pode depender de vários fatores, como o nível de cobertura da mídia e a aceitação dos profissionais de café”, diz ele.

“Pode levar cerca de quatro a cinco anos para que um organizador estabeleça plenamente uma competição na indústria do café especial. O Campeonato Mundial de Kokekaffe foi realizado por seis anos consecutivos. Estamos começando a receber mais credibilidade no circuito à medida em que o evento cresceu nos últimos anos”, ele acrescenta.

O fator diversão

Steve acredita que, embora as competições testem, na maior parte das vezes, as habilidades dos concorrentes, elas também precisam ser divertidas e positivas para aqueles que estão envolvidos.

“Mesmo a equipe que ficou em último lugar na competição precisa obter tanto valor do evento quanto a equipe vencedora, ou como um juiz ou voluntário”, explica. “Ao fazer isso, mudamos o foco predominante da vitória e mais para a criação de mais oportunidades para as pessoas na indústria do café.”

Ola concorda, dizendo: “Para muitos baristas, as competições apresentam a possibilidade de criar uma plataforma a partir da qual possam iniciar seu próprio negócio.”

Participante da competição de baristas The Barista League

Sobre acessibilidade e inclusão nas competições

Uma das maiores críticas aos eventos da WCC, particularmente a WBC, é que os concorrentes muitas vezes têm que gastar uma quantia significativa de dinheiro em equipamentos e recursos para suas rotinas. Isso também inclui seus cafés, que normalmente são lotes, variedades ou até espécies mais sofisticadas e únicas.

Em última análise, isso pode significar que os concorrentes com menos apoio financeiro tendem a estar em desvantagem.

“O WBC é o maior evento da indústria do café”, diz Steve. “A competição tem, indiscutivelmente, as maiores apostas, mas também é caro participar, o que significa que tem uma grande barreira à entrada em comparação com outras competições.

“Acredito que esse problema possa ser facilmente abordado pela WCE”, acrescenta.

Igualdade de condições entre os participantes

Eventos mais acessíveis, entretanto, poderiam criar condições de concorrência mais equitativas para os concorrentes. Ao melhorar o acesso às competições para aqueles com menos apoio financeiro, eles podem conseguir mostrar suas habilidades e conhecimentos em uma escala muito maior.

“Quando se trata de desenvolver regras para competições de café, às vezes precisamos olhar fora da caixa. E à medida que a competição acontece todos os anos, os organizadores podem estabelecer mais facilmente quais elementos do evento precisam mudar para garantir que desenvolvam uma competição alinhada com seus objetivos”, conclui Steve.

The Barista League

É provável que os eventos WCC continuem a ser considerados as competições mais prestigiadas na indústria do café, mas há claramente uma necessidade crescente de eventos mais acessíveis e inclusivos que também ocorram ao lado deles.

Ao organizar e organizar competições de café mais acessíveis, podemos incentivar e apoiar uma gama mais ampla de profissionais de café a participar – ajudando a criar uma comunidade de café mais diversificada.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre se  devemos permitir leites vegetais nos Campeonatos Mundiais de Baristas.

Créditos das fotos: The Barista League

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Aquisições estão se tornando mais comuns na indústria do café? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/03/31/fusoes-e-aquisicoes-na-industria-do-cafe/ Fri, 31 Mar 2023 10:04:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12547 Aquisições são comuns em todos os tipos de indústrias ao redor do mundo, e o setor de café não é exceção. Nos últimos anos, temos visto uma tendência crescente de marcas multinacionais de café adquirindo redes de cafeterias e torrefações focadas em cafés especiais. Muitos estão se perguntando se esta consolidação do mercado é o […]

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Aquisições são comuns em todos os tipos de indústrias ao redor do mundo, e o setor de café não é exceção. Nos últimos anos, temos visto uma tendência crescente de marcas multinacionais de café adquirindo redes de cafeterias e torrefações focadas em cafés especiais.

Muitos estão se perguntando se esta consolidação do mercado é o início de uma mudança mais ampla para a indústria, e se o café especial pode ser dominado por holdings, em vez de distribuído entre uma grande variedade de marcas de menor porte.

No entanto, é claro que a Covid-19 mudou o modo como as empresas de café operam, o que acaba influenciando os motivos por trás dessas aquisições. Com cada vez mais empresas do setor de café buscando oportunidades garantidas de crescimento, a aquisição de marcas desse segmento de marcado pode ser um caminho a seguir.

Para entender por que as aquisições de empresas de café estão se tornando cada vez mais comuns e o que essa mudança pode significar para o mercado global de café, conversei com vários especialistas do setor. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como abrir e gerenciar várias cafeteroas de forma eficaz.

pacotes de café da Starbucks em prateleira de mercado

O que são fusões e aquisições?

Fusões e aquisições são comumente agrupadas quando se fala sobre a transferência de propriedade de negócios ou sua consolidação dentro do mercado. Mas quais são as principais diferenças?

Resumidamente, uma fusão é um acordo entre duas empresas para se unirem e formarem uma única empresa. Isso é feito por uma série de razões, incluindo a ampliação do alcance o aumento na participação de mercado.

Aquisições, entretanto, acontecem quando uma empresa compra algumas ou todas as ações de outra. Nesse caso, as empresas tanto podem manter seus próprios nomes e marcas, quanto abrir caminho para que haja a absorção de uma das marcas pela outra.

Há muitas razões pelas quais as empresas optam por comprar ações de outros negócios ou permitir que suas ações sejam adquiridas. Assim como nas fusões, as maiores razões são expandir ou diversificar seu alcance e ter acesso a novos mercados usando a experiência pré-existente de outra marca.

Alternativamente, as empresas podem adquirir outras marcas para obter acesso a novas tecnologias ou propriedades intelectuais. Isso não só pode ajudar uma empresa a acompanhar os concorrentes, mas também permitir a contratação mais rápida de funcionários e o acesso a recursos necessários para lançar novos produtos e serviços.

Embalagens de café da marca Stumptown, que passou por processo de aquisição, em prateleira

Principais aquisições recentes no setor cafeeiro

Ao longo da última década, houve uma série de aquisições significativas na indústria do café – incluindo grandes redes e marcas menores de cafés especiais. Isso demonstra que o interesse corporativo em marcas de café especial tem aumentado na última década.

Um dos exemplos mais significativos aconteceu em 2019, quando a Coca-Cola adquiriu a rede de café britânica Costa Coffee por cerca de US$ 5 bilhões. A aquisição foi impulsionada por uma série de fatores, mas possivelmente porque o consumo de refrigerantes gaseificados nos EUA atingiu o menor volume em 30 anos em 2017.

Em 2021, a Coca-Cola HBC (terceira maior engarrafadora de produtos Coca-Cola do mundo) comprou uma participação de 30% na Caffè Vergnano – uma das torrefações de café mais antigas da Itália.

Outro exemplo é a Nestlé, que comprou uma participação majoritária na Blue Bottle Coffee, uma torrefação de café especial que atua nos EUA e no Japão, em 2017.

Em 2012, o conglomerado alemão JAB Holding Company adquiriu a Peet ‘s Coffee de São Francisco – pioneira na indústria do café especial. Três anos depois, a Peet’s comprou o Stumptown Coffee Roasters, torrefação especial de destaque em Portland, Oregon. A JAB Holding também adquiriu a cadeia de café e alimentos para viagem Pret A Manger, em 2018.

Em termos gerais, essas aquisições de marcas de café são um meio de expandir para novos mercados (como o café especial), aproveitando a experiência existente e as marcas estabelecidas. Por exemplo, a Starbucks e a Blue Bottle oferecem produtos diferentes para duas bases de consumidores muito diferentes, proporcionando-lhes alcance em dois segmentos de mercado importantes (e lucrativos).

As aquisições também podem ajudar as marcas existentes a se mudarem para novos mercados internacionais. Por exemplo, a empresa internacional de alimentos e ingredientes OFI concluiu a aquisição da empresa canadense de torradas e embalagens de café de 116 anos Club Coffee no início de 2022. Por fim, isso dá à empresa a chance de expansão na América do Norte (um dos maiores mercados globais de café), mantendo a experiência do Club Coffee e a imagem de marca estabelecida.

Executivo de marca de café comemora aquisição de sua companhia em frente a painel da bolsa de NY

A Covid-19 mudou as coisas?

Embora o movimento de fusões e aquisições entre marcas de café venha se intensificando há mais de uma década, a Covid-19 certamente influenciou as estratégias de muitas empresas.

No início da pandemia, 95% dos negócios de café fora de casa foram forçados a fechar as operações por vários meses. Naturalmente, isso resultou em um enorme aumento no consumo de café em casa, à medida que os consumidores começaram a preparar mais bebidas de café com qualidade em casa.

Sem dúvida, as empresas maiores passaram a querer capitalizar esta mudança no comportamento do consumidor de café, mas essa missão não seria fácil.

Umberto Doglioni Majer é presidente e diretor-executivo da Vea Ventures, uma holding que possui várias marcas de máquinas de café, incluindo Carimali, Elektra e Bellezza.

Ele explica que pode ser difícil escalar rapidamente o alcance de uma marca de café especial devido aos desafios inerentes que vêm com ela, como a obtenção de café de alta qualidade e rastreável.

Segundo ele, as empresas de café especial podem ser consideradas empresas em crescimento. “Este termo descreve marcas menores que empresas maiores podem adquirir como plataformas para construir. No entanto, os retornos de um investimento como esse geralmente não acontecem rapidamente. Pode levar anos para gerar lucro”, afirma.

Umberto diz que muitas empresas maiores estão agora buscando oportunidades de crescimento com uma melhor chance de sucesso. Em sua experiência, ele diz que isso significa adquirir ações de marcas mais estabelecidas, com um histórico comprovado de lucratividade e uma base de clientes leal.

Ele afirma que fatores como a pandemia, o aumento da inflação e as quedas no mercado de ações levaram a um aumento do interesse em adquirir empresas mais estabelecidas. “Isso porque essas marcas já terão melhores margens de lucro e maiores bases de consumidores”, acrescenta.

Balcão da cafeteria Blue Bottle, que passou por processo de aquisição recentemente.

As marcas de café especial se manterão competitivas se o mercado se consolidar?

O atual clima econômico para as pequenas empresas de café é, no mínimo, desafiador. O mercado atingiu recentemente a maior alta em 10 anos, o transporte é incrivelmente caro e as margens de lucro para os torrefadores aumentaram nos últimos meses.

Isso tornou mais difícil para os torrefadores e cafés menores se manterem lucrativos, e menos poder de compra significa que eles podem ter dificuldade em competir com marcas mais estabelecidas que foram adquiridas por uma multinacional.

Então, o que eles podem fazer para competir? Em alguns casos, as empresas de café menores podem se fundir.

Por exemplo, a Fairwave é um coletivo de marcas de café especial que decidiram se fundir após a pandemia. Ele foi formado pelas empresas The Roasterie, Messenger Coffee Company e Spyhouse Coffee Roasters.

No entanto, a consolidação de marcas não acontece apenas por meio de aquisições e fusões – também pode ocorrer por meio de parcerias estratégicas e iniciativas de serviços compartilhados. 

Um exemplo é o The Curate Coffee Collective, uma instalação de torrefação compartilhada em Portland (EUA). Desde 2020 ela está aberta a torrefadores de todos os tamanhos e oferece acesso a equipamentos e espaço de escritório, bem como recursos educacionais. 

No entanto, esse modelo não é tão comum na indústria do café – particularmente no setor de café especial.

De acordo com Spencer Turer, vice-presidente da consultoria de café Coffee Enterprises, apesar de ser difícil para as marcas de café menores permanecerem lucrativas, fusões e aquisições podem nem sempre ser a melhor solução.

“A espinha dorsal da indústria do café especial ainda é formada, na maioria das vezes, por pequenas empresas regionais”, explica. “Se esses torrefadores e cafés têm as habilidades, o conhecimento e a experiência – e são bem-sucedidos no que fazem – então por que eles deveriam se fundirem ou serem adquiridos por uma empresa maior?”

Embora fusões e aquisições com marcas maiores certamente possam ajudar marcas de café menores a crescer e alcançar novas bases de consumidores, também existem preocupações compreensíveis sobre como o controle de qualidade pode ser dimensionado e mantido.

Latas de cold brew da Blue Bottle

Nos meses e anos seguintes à pandemia da Covid-19, veremos como as fusões e aquisições prevalecerão no café especial – especialmente se o mundo caminhar para um período definido por uma recessão econômica global. 

É claro que a consolidação por meio de aquisições e fusões continuará, no entanto, a fazer parte da conversa sobre como o setor evolui e se encaminha para o futuro. Isso levanta questões sobre como as empresas regionais menores podem permanecer lucrativas.

Contudo, para cafés e torrefadores menores, o mais importante é entender como você pode continuar a atrair sua base de clientes. Em alguns casos, isso pode significar inovar conforme as tendências do café da terceira onda, mas em outros, pode significar apenas ouvir o que os consumidores querem de você – e atender a isso de acordo.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como mudar a estratégia de café do seu negócio após a Covid-19.

PDG Brasil

traduzido por Daniela Melfi

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Explorando a relação entre os óleos do café e o colesterol https://perfectdailygrind.com/pt/2023/02/06/os-oleos-do-cafe-e-o-colesterol/ Mon, 06 Feb 2023 11:04:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12236 Apesar da riqueza da pesquisa científica documentando os muitos benefícios do café para a saúde ao longo das últimas décadas, surgiram alegações nos últimos anos sobre uma ligação entre os óleos no café e o colesterol. Embora o café como bebida seja livre de colesterol, pesquisas recentes aparentemente sugerem que os óleos do café podem […]

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Apesar da riqueza da pesquisa científica documentando os muitos benefícios do café para a saúde ao longo das últimas décadas, surgiram alegações nos últimos anos sobre uma ligação entre os óleos no café e o colesterol.

Embora o café como bebida seja livre de colesterol, pesquisas recentes aparentemente sugerem que os óleos do café podem afetar a forma como o corpo o metaboliza e regula.

Então, quão preocupado você deve ficar? Há uma maneira de extrair menos dos óleos do café caso eles possam impactar sua saúde negativamente? Falei com dois pesquisadores de café para descobrir mais.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre café, saúde e bem-estar.

coador de café sobre uma balança - os óleos do café e o colesterol

O que é o colesterol?

O colesterol é um lipídio (uma substância gordurosa) que ocorre naturalmente em humanos e animais. Para os seres humanos, cerca de 80% do colesterol é produzido pelo fígado, mas também absorvemos colesterol dos alimentos que ingerimos, principalmente produtos de origem animal.

O fígado combina colesterol com gorduras triglicérides para produzir lipoproteínas que depois circulam por todo o nosso sangue. Embora carregue muitas vezes conotações negativas em um contexto nutricional, o colesterol desempenha um papel importante na manutenção da função normal dos órgãos. Especialmente no cérebro, nervos e pele.

Mas muito de um determinado tipo de colesterol (lipoproteína de baixa densidade ou colesterol LDL) pode resultar em vários problemas de saúde, incluindo um risco aumentado de doenças cardíacas.

Chahan Yeretzian, chefe do Centro de Excelência do Café da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, explica que nosso corpo precisa do colesterol para produzir vitaminas e outros hormônios.

 Quanto à presença da substância no café, ele acrescenta: “O café não contém colesterol, mas afeta a maneira como nossos corpos produzem a substância. Portanto, ele afeta seus níveis em nossos corpos.”

Isso é por causa dos óleos presentes no café. Pesquisas do Institute for Scientific Information on Coffee descobriram que dois compostos encontrados em óleos de café – cafestol e kahweol – podem aumentar os níveis de colesterol.

“Cafestol e kahweol são dois compostos específicos que pertencem à família dos óleos de café. O cafestol, em particular, afeta os níveis de colesterol no sangue. Ele é o composto de aumento de colesterol mais potente identificado na dieta humana”, afirma Chahan. No entanto, há alguns benefícios em consumir esses compostos. Um estudo de 2002 do Food and Chemical Toxicology Journal concluiu que tanto o cafestol quanto o kahweol têm propriedades que auxiliam na prevenção ao câncer em animais. Issosignifica que eles podem prevenir ou retardar o desenvolvimento de tumores.

Extração dos óleos do café

Anja Rahn é cientista sênior do Instituto de Pesquisa de Segurança Alimentar de Wageningen, na Holanda. Segundo ela, o teor de lipídios no café varia entre arábica e robusta, bem como entre variedades de café e origens. Geralmente, o café arábica contém cerca de 60% mais lipídios do que o robusta, mas isso pode mudar dependendo da variedade.

É inevitável que, ao preparar café, alguns desses óleos sejam extraídos e consumidos. No entanto, isso depende do método de extração usado. O espresso tem o maior rendimento de lipídios porque é uma bebida mais concentrada em comparação com o café coado. O tamanho de moagem mais fino e temperaturas de infusão mais altas também extraem mais compostos do café”, afirma Anja.

O café turco é o segundo com níveis mais altos de lipídios, com cerca de metade do rendimento do espresso”, acrescenta. “Isso ocorre porque no seu preparo se usa uma moagem muito fina e temperaturas mais elevadas, além de haver a extração de um volume maior de líquido.”

Em geral, os métodos de infusão de imersão total (incluindo café turco) são mais propensos a extrair mais desses óleos. Isso ocorre porque os grãos de café estão em contato com a água de infusão durante todo o período de extração.

No entanto, Chahan ressalta que não há ligação direta entre o consumo de café e o aumento do risco de doenças cardíacas, pois existem muitas outras variáveis não contabilizadas que também podem elevá-lo.

“O consumo de café não aumenta diretamente o risco de ataques cardíacos e derrames. Há indicações de que o consumo moderado de café pode até mesmo reduzir a incidência desses eventos”, afirma ele. “Isso pode ocorrer porque o café tem mais do que apenas cafestol”, acrescenta. “Outros compostos no café podem neutralizar ou até mesmo reverter os efeitos negativos para a saúde do consumo de mais lipídios no café.”

Espresso em copo transparente - os óleos do café e o colesterol

Os níveis de óleos no café podem ser reduzidos?

Embora o cafestol represente apenas entre 0,4% e 0,7% do peso total do café arábica, alguns consumidores ainda podem querer reduzir sua ingestão. É possível?

“O cafestol não é solúvel em água porque é um óleo”, diz Chahan. “Mas se o café for extraído em temperaturas muito altas (como quando se usa uma cafeteira moka) ou se os grãos forem derramados na xícara e consumidos, a ingestão de cafestol pode aumentar.

“Pesquisas mostraram que beber café turco pode levar a níveis mais altos de colesterol à medida que mais lipídios são extraídos”, acrescenta. “No entanto, ao beber café filtrado, geralmente não há aumento nos níveis de colesterol porque há muito poucos desses óleos no líquido.”

Para os consumidores preocupados com a diferença na ingestão, Anja recomenda beber café coado, pois menos desses óleos serão extraídos no preparo. Para fazer isso, os consumidores podem usar equipamentos como V60 ou Kalita Wave.

“O filtro de café é tecnicamente um método de extração menos eficiente do que a preparação por imersão”, explica Anja. “Isso ocorre porque o filtro atua como uma barreira física, o tamanho da moagem é mais grosso e a temperatura de infusão é mais baixa.” Assim, isso significa que menos óleos serão extraídos do café.

Os filtros de papel também ajudam a minimizar os níveis de óleos extraídos. Isso ocorre porque o papel os absorve mais do que o tecido, enquanto o metal permite a passagem deles em sua totalidade. “Se você preferir mais óleos em seu café, você pode usar um filtro de metal para aumentar o rendimento de lipídios”, diz Anja.

Segundo Anja, o perfil de torra também pode afetar os níveis de cafestol nos grãos. “Perfis de torra mais longos podem diminuir os níveis de cafestol no café. Cafés torrados para café espresso terão níveis mais baixos de cafestol, mas o tamanho de moagem mais fino e a concentração da bebida podem fazer com que esses níveis aumentem na xícara.” Para os bebedores de café que estão conscientes disso, optar por torras médias a escuras pode ajudar.

Xícara de espresso sobre uma mesa, vista de cima

Considerando os benefícios do café para a saúde

Embora o cafestol e kahweol sejam influenciem os níveis de colesterol, eles também podem trazer uma série de benefícios significativos na saúde humana em geral.

“A maioria das pesquisas neste campo se concentra em óleos no café verde, que são usados na indústria farmacêutica”, explica Anja. Acredita-se que as propriedades nutracêuticas dos subprodutos do café (incluindo casca e o pergaminho) tenham vários benefícios para a saúde.

Além desses óleos, há outros compostos no café com efeitos positivos na saúde. Um estudo da revista científica Nature descobriu que a cafeína é um dos 24 compostos que podem ajudar a regular a produção de enzimas no cérebro.

Com base em décadas de pesquisa, é evidente que o café pode ser apreciado como parte de um estilo de vida saudável. Recomenda-se apenas que os bebedores de café regulem sensatamente seu consumo para mitigar a probabilidade de aumentar seus níveis de colesterol.

Anja me diz que um estilo de vida equilibrado é essencial para experimentar os muitos efeitos positivos do café. “Seu corpo produz colesterol naturalmente, então a principal coisa que os consumidores precisam fazer é viver um estilo de vida saudável e evitar beber volumes muito altos de café”.

“O café não é uma necessidade, mas muitas pessoas gostam dele em todo o mundo”, conclui ela.

É claro a partir deste artigo que, embora haja uma ligação entre os óleos no café e regulação do colesterol, esta é uma preocupação muito menor para muitos. Para aqueles que precisam estar mais conscientes de seu colesterol, no entanto, há uma série de maneiras de reduzir a quantidade de cafestol e kahweol que você consome.

No entanto, também vale a pena notar que o consumo de uma quantidade razoável de café realmente tem uma série de benefícios notáveis para a saúde, incluindo ajudar a mitigar a doença de Alzheimer, diabete, doenças cardíacas e outras condições médicas graves.

Mas para aqueles que querem ou precisam estar mais conscientes de seus níveis de colesterol, existem várias maneiras de reduzir os níveis de óleos extraídos do café, minimizando assim o risco de aumento do colesterol.

Ao ter uma abordagem mais consciente do consumo de café, podemos garantir que ele seja apreciado como parte de um estilo de vida equilibrado e saudável para muitas pessoas em todo o mundo.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como explorar bebidas alternativas de café.

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

Isenção de responsabilidade: esta não é uma publicação médica. Nenhum material neste artigo se destina a ser um substituto para aconselhamento médico profissional, diagnóstico ou tratamento. Procure sempre aconselhamento médico junto de um profissional de saúde qualificado.

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Desvendando os grãos moca https://perfectdailygrind.com/pt/2022/09/15/desvendando-os-graos-moca/ Thu, 15 Sep 2022 12:23:59 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=10853 Estima-se que cerca de 5–15% de uma colheita de grãos ainda não selecionados contenha mocas. Nesta safra no Brasil, há uma expectativa de um volume ainda maior. Mutação genética, nutrição do terreno, irrigação, dificuldades da árvore de café quanto à nutrição em ambientes não florestais – o habitat natural da planta do café… afinal, qual […]

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Estima-se que cerca de 5–15% de uma colheita de grãos ainda não selecionados contenha mocas. Nesta safra no Brasil, há uma expectativa de um volume ainda maior. Mutação genética, nutrição do terreno, irrigação, dificuldades da árvore de café quanto à nutrição em ambientes não florestais – o habitat natural da planta do café… afinal, qual seria o veredicto da ciência quanto às razões pelas quais se formam o grão moca/peaberry?

Neste artigo o PDG Brasil também explora as particularidades do grão moca em relação às boas práticas de cultivo para diminuir a incidência na plantação, e explica a valorização e precificação dos grãos nos mercados commodity e de venda direta (cafés especiais).  

Você também pode gostar de ler Classificação de café no Brasil explicada: análise sensorial

grãos moca

O que são os grãos moca?

Os grãos chamados de moca, moquinhas ou grãos ‘mocados’, (um jargão usado pelo mercado de exportação), como são conhecidos no Brasil, se desenvolvem quando apenas um óvulo maduro se desenvolve no fruto (seriam dois), formando apenas uma semente. O espaço em que caberiam duas sementes na cereja do café fica preenchido por uma só, que ocupa todo o espaço.

Os grãos moca são ovais, pequenos, arredondados e com uma fenda profunda, e requerem um perfil de torra particular, já que são menores do que os demais, e possuem uma quantidade maior de açúcares naturais. Apesar de suas particularidades, os grãos moca quando plantados, geram uma planta com um embrião normal.

Grãos moca podem fazer parte de qualquer lote de café produzido em um país produtor, mas são geralmente encontrados em países como Tanzânia, Quênia, Peru e Havaí e Brasil. No exterior, esse tipo de classificação de grão café chama-se ‘peaberry’, e em países latinos, ‘caracolillo’ ou ‘caracol’. 

peaberry

Espécies de café e incidência de moca

Grãos moca se desenvolvem nas duas espécies de café comercializadas em grande escala, o Coffea arabica e o Coffea canephora (robusta). “A incidência de grãos do tipo moca em cultivares de canéfora é bem maior que a observada no arábica”, diz Oliveiro Guerreiro Filho, pesquisador sênior do IAC (Instituto Agrônomo de Campinas, do Centro de Café “Alcides Carvalho”), especialista em recursos genéticos e melhoramento do cafeeiro.

A arábica é uma planta autógama e autocompatível, ou seja, os grãos de pólen das flores de uma planta podem fertilizar óvulos de flores da mesma planta, o que gera a autofecundação. Oliveiro explica que já a espécie c.canephora é alógama e auto incompatível, dotada de sistema genético que impede a autofecundação das flores e exige a ocorrência de cruzamentos entre cafeeiros geneticamente distintos. “Esse fenômeno – quanto às canéforas – contribui com a maior incidência de grãos do tipo moca em relação ao café arábica.  

peneira classificação do café

Os grãos moca e a classificação do mercado

Os grãos moca, tanto no Brasil quanto no meio cafeeiro internacional, são selecionados durante o pós-processamento dos grãos, durante a fase final do beneficiamento.

Os frutos são lavados, descascados, desmucilados, e as sementes secadas à sombra até atingirem umidade apropriada. Em seguida, é retirado o endocarpo que encobre os grãos, que então são submetidos à medição por meio do sistema de peneiras. É nesse momento em que os grãos moca são separados.

Quanto ao formato, as regras da qualificação ditam que os grãos são apontados como chatos ou moca. “Os grãos chatos possuem superfície dorsal convexa e a ventral plana ou ligeiramente côncava, com a ranhura central no sentido longitudinal; já os grãos tipo moca são constituídos de grãos com formato ovóide, também com ranhura central no sentido longitudinal”, segundo o estudo “Efeito da irrigação sobre a classificação do café”, de Custódio, Gomes e Lima.

A classificação oficial dos grãos moca no Brasil é realizada por meio do sistema de peneiras (granulometria) ditado pelas regras da Tabela Oficial para Classificação de café da COB (Classificação Oficial Brasileira), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A classificação por peneiras do moca pode equivaler a três diferentes numerações para classificar as dimensões dos grãos: moca graúdo, moca médio e moca miúdo, com peneiras de números 09, 10 e 11. 

Leia o artigo do PDG Brasil sobre a classificação de café por meio do sistema de peneiras para saber mais.

grãos moca

Qualidade e valor de mercado dos grãos moca

André Peres, que tem mais de 30 anos de experiência no mercado de compra e venda de café, revela que o fator gerador de grãos moca é comumente associado à loteria genética das plantas. Entretanto, na prática, ele diz que a experiência de campo lhe mostrou que esse nem sempre é o caso. 

“O terroir é um ambiente vivo, influenciado por inúmeros fatores, principalmente climáticos, e é natural e esperado que grãos moca apareçam nas colheitas”, explica o especialista em trade na empresa de comércio exterior de café ACS (Associação Comercial de Santos).

Segundo informações da Fundação Procafé, o braço de pesquisa científica da Embrapa Café, quando se trata da seleção e liberação de cultivares nos cafeeiros arábica considera-se normal a incidência de 10% a no máximo 15% quanto aos grãos de moca nas plantas de café.

Os grãos moca, mesmo quando cultivados sem cuidados correspondentes a critérios de alta qualidade, não afetam significativamente a qualidade final em comparação com outros grãos, segundo um estudo realizado no Jornal Asiático de Ciência das Plantas. “Efeito da ervilha na qualidade do café”. 

Entretanto, também de acordo com os pesquisadores, a presença excessiva de mocas pode não comprometer o resultado na xícara, porém pode influenciar negativamente a classificação geral quanto à precificação dos lotes, assim como os níveis de rendimento e lucro.

Existem três razões para os mocas influenciarem a classificação dos lotes:

1 – A qualidade final da bebida é comprometida

Devido à torra desuniforme que se dá quando há misturas de grãos de diferentes tamanhos, pois os menores torram rapidamente e queimam. 

2 – Rendimento baixo

De acordo com a historiadora e cientista agrônoma especializada em café, dra. Paula T. Santini, os grãos de moca pesam cerca de 9% a menos que os grãos chatos. Portanto, se houver alta incidência de grãos na safra, o volume de rendimento será menor para o cafeicultor.

3 – O lote é desvalorizado na precificação

O padrão do mercado é uma tolerância de aproximadamente 10% de grãos mocas em lotes classificados como grãos chatos. Quanto à comercialização de sementes, o índice de grãos-moca não pode ser superior a 12%. Caso haja um índice maior, há a desvalorização.

“Há compradores – principalmente os internacionais – que exigem menor número de mocas em lotes normais do que em outros mercados, por volta dos 10% ou menos. No Brasil, na prática, normalmente se aceitam de 12% a 15% de mocas”, diz André. 

café moca

Fatores para a ocorrência do moca 

Paula explica que, “se o índice de mocas for superior a 12%, é um claro indicativo de que fatores climáticos ou de nutrição inferior estejam interferindo negativamente no ciclo fenológico do cafezal, além dos possíveis problemas genéticos que prejudicam a fecundação correta”. 

Se as plantas sofreram estresse hídrico durante a formação dos frutos e no florescimento, um maior número de mocas é o resultado que se vê na colheita. “Causas de natureza ambiental, como o déficit hídrico ou a incidência de altas temperaturas, especialmente no período que sucede a florada, podem contribuir sobremaneira com o aumento da incidência de grãos do tipo moca. A razão é simples: a ausência de fertilização ou o aborto após a fertilização de um dos óvulos”, explica Oliveiro.

É majoritariamente aceito pela comunidade científica que são três os principais fatores da ocorrência de grãos moca: 

  1. Falha nos ovários da planta a fertilizada e gerar a semente; 
  2. Falha no desenvolvimento posterior do endosperma; 
  3. Incompatibilidade dos dois genitores (pais) durante a polinização das plantas.

“Entre as causas genéticas mais comuns, encontra-se a compatibilidade, mais comum em populações de cafeeiros em seleção, especialmente àquelas derivadas de hibridações interespecíficas, ou seja, entre espécies distintas”, explica Oliveiro Guerreiro Filho.

Segundo Oliveiro, a taxa de frutificação (pegamento) e o índice de fertilidade em cultivares comerciais de café arábica é bastante alta, de modo que a incidência de grãos do tipo moca é bastante baixa. 

Entretanto, o corpo da agrociência tem explorado mais profundamente as variáveis de nutrição, irrigação, terroir, polinização, mudança climática e sistemas de cultura que,  associados a esses três fatores genéticos, catalisam a produção de grãos mocas. 

Além da possibilidade de alterações climáticas fortuitas, Paula alerta para o controle dos índices de umidade na época da florada. “Em regiões de cultivo onde a média de temperatura é mais alta, os cafeeiros são submetidos com mais intensidade à luz do sol na face soalheira, o que aumenta a chance de se formarem grãos moca caso não haja controle hídrico satisfatório.”  

De acordo com Paula, os grãos moca normalmente se desenvolvem na ponta dos ramos do cafeeiro, e em menor incidência entre a base e o meio dos ramos. O que explicaria esta realidade é o fator da nutrição da planta, que por alguma razão não recebe o fluxo necessário de água e alimentos da base ao topo. 

peaberry

Monocultura e grãos moca

A existência de grãos moca nas plantações de café cultivados em sistemas agroflorestais (Safs), quando a plantação é feita junto a ambientes florestais, onde há a presença de árvores, arbustos e palmeiras de inúmeras espécies, é consideravelmente menor do que em cafezais de monocultura, sistema adotado pela maioria dos cafeicultores do Brasil. 

As características de terroir de uma área de cultivo onde há uma população variada de plantas nativas e de multiculturas no mesmo ambiente beneficia a agricultura do café, por ser o sistema onde a planta se desenvolve naturalmente. 

Quando o café é cultivado em sistema de monocultura, as plantas são expostas ao sol com maior intensidade, o que gera dificuldades quanto à nutrição e irrigação corretas da planta como se daria em seu habitat natural.

Além disso, na monocultura de café se emprega uma mistura menor de variedades e cultivares pré-estabelecidas nos talhões, portanto gerando maiores possibilidades de anomalias pela baixa compatibilidade genética no cruzamento entre as plantas. Quando as plantas do café são cultivadas em sistemas arborizados de cultivo e variedades têm características genéticas similares para prosperarem naquele ambiente, há uma menor ocorrência de mocas. 

Mas por que isso acontece? A polinização controlada de abelhas influencia positivamente quanto à prevenção de anomalias genéticas em geral, e reduz a frequência de mocas. Quando há maior diversidade de polinizadores em sistemas florestais de cultivo, é comprovadamente maior o número de cerejas, assim como a qualidade dos frutos é superior.
“Como os insetos são os mais importantes agentes de polinização das flores do cafeeiro, a redução da população dos mesmos, especialmente abelhas, também podem contribuir para o aumento da incidência de grãos moca”, diz Oliveiro.

classificação de café peneira

O grão moca e os cafés especiais

Torradores de cafés especiais comercializam o café moca com preços mais altos, por conta de serem raros e requererem mão-de-obra mais laboriosa quanto à seleção, o que equivale a custos mais altos. O perfil de xícara dos cafés moca cultivados e processados para obter a melhor qualidade possível é visto pelo mercado de especialidade como um produto muito valorizado. 

Quanto ao perfil sensorial e de sabor, em geral os grãos moca apresentam aromas e sabores doces, com notas de chocolate e caramelo (pela concentração maior de açúcares). “Acredita-se que a bebida é mais encorpada e adocicada do que os grãos regulares, o que não é regra”, conta André. 

A razão pela qual os grãos de moca são mais caros é muito simples: como a ocorrência deles é baixa, até criar-se uma saca única de mocas são necessárias horas e horas de filtragem pela peneira. Esse trabalho ou é feito pelos produtores ou pelos torrefadores, que montam um blend de mocas usando cafés da mesma origem em lotes.

Pequenas torrefações normalmente não se dão ao trabalho de conduzir essa separação, pois há pouca mão de obra e o rendimento financeiro não compensaria as horas de trabalho.

café grão moca

Muito se questiona, talvez porque pouco se saiba, sobre o que realmente são e como o mercado cafeeiro lida, na prática, com as incidências dos mocas.

E embora sejam grãos em geral desvalorizados no mercado em geral, no mercado de cafés especiais há uma valorização (e até um carinho) por cafés feitos apenas com esses grãos. O diferencial de sabor, com doçura intensa e caramelo, é bastante apreciado.  

Como sempre, quando se trata de culturas e agronomias, é sempre a ciência que detém as respostas. Os grãos moca, portanto, são fenômenos naturais e esperados, cuja ocorrência é dependente das condições do cultivo do café. Simples assim.

Crédito: Pixabay, Wolthers Associados, Reprodução site do Mundo do Café (mundodocafe.com.br) _ no still do grão moca, Embrapa Café e Eliei Rodrigues (montagem). 

PDG Brasil

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Canéforas Paulistas são nova aposta do oeste de SP https://perfectdailygrind.com/pt/2022/07/06/cafes-caneforas-paulistas-sao-nova-aposta-do-oeste-de-sao-paulo/ Wed, 06 Jul 2022 14:57:49 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=9744 O Oeste do estado de São Paulo, que no passado abrigava cafezais com plantações de café arábica, voltou a ser uma região cafeeira ativa. A região agora produz cafés da espécie Coffea canephora, graças a um projeto de implementação e viabilização do plantio iniciado em 2007, com o objetivo de prover uma alternativa ao pequeno […]

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O Oeste do estado de São Paulo, que no passado abrigava cafezais com plantações de café arábica, voltou a ser uma região cafeeira ativa. A região agora produz cafés da espécie Coffea canephora, graças a um projeto de implementação e viabilização do plantio iniciado em 2007, com o objetivo de prover uma alternativa ao pequeno produtor rural para manter a agricultura cafeeira viável.

Em 2021, se deu a primeira colheita dos cafés oriundos do projeto “Canéforas Paulistas”, com números de produtividade animadores, próximos aos níveis alcançados pelas lavouras do Espírito Santo, o estado líder em produção de canéfora no país. 

“O que nos levou à escolha de produzir o café robusta foi justamente a similaridade de zoneamento das regiões produtoras do Espírito Santo  com a região oeste de São Paulo”, conta Fernando Takayuki Nakayama, pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). 

O PDG Brasil conversou com Fernando e com Júlio César Mistro, especialista em melhoramento genético de café e um dos pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) envolvidos no projeto, para narrar a história e o panorama atual do projeto “Canéforas Paulistas”. 

Você também pode gostar de ler Arábica X Canéfora. Revisitando as semelhanças e diferenças. 

canéforas de SP

A história do cultivo de café no Oeste Paulista

O Vale do Paraíba do Rio de Janeiro concentrou por muito tempo a produção cafeeira do Brasil. Com o sucesso da produção e comercialização na região, o cultivo se expandiu para o estado de São Paulo, o que inclui o Oeste Paulista, a partir de 1866, quando o Brasil ainda era um estado monárquico.

O ciclo do café em São Paulo começou a ganhar pulso quando os fazendeiros adotaram o cultivo em substituição às lavouras de cana-de-açúcar. A cana em escala internacional passou a ser desvalorizada comercialmente. 

Os fatores fundamentais para tal se deram pelo aumento de produção em países da América Central, além da baixa disponibilidade de território para ampliar o plantio da cana-de-açúcar, uma cultura semi-perene, ou seja, cujo ciclo produtivo é de baixa duração. As plantas morrem depois de um ou dois cultivos por ano, quando o solo perde o índice de fertilidade pela erosão, e, no intervalo entre os plantios, a terra deve ser trabalhada para viabilizar outro ciclo, o que pode levar anos.

A centralização da produção de café arábica em São Paulo, além de Minas Gerais, catapultou o Brasil ao posto de líder de exportações internacionais do produto, e alterou o centro econômico do país para o estado de São Paulo. 

Leia mais sobre a história da exportação do café no Brasil.

A crise econômica dos Estados Unidos (que era, e é até hoje, o maior comprador do café brasileiro), gerada pela quebra da bolsa na década de 1930, gerou uma grave desvalorização do preço do café brasileiro, a ponto de o governo decidir queimar sacas para estabilizar o valor de oferta e demanda quanto ao mercado global.

Enquanto a cultura do arábica em São Paulo e Minas Gerais sobreviveu à crise e seguiu uma curva próspera desde então, a zona do oeste paulista, em desvantagens quanto ao solo e incidência de pragas e geadas, entrou em um processo de gradual redução da maioria das plantações de c.arabica. 

Ainda há a cultura do arábica na região, mas o volume é considerado insignificante em comparação a outras origens produtoras de São Paulo. 

canephoras sp

O estado de São Paulo e o cultivo de arábica

A espécie de café majoritariamente cultivada no estado de São Paulo é a Coffea arabica (café arábica), entretanto, no oeste do Estado, há limitações edafoclimáticas (clima + solo) para tal.

As condições necessárias para a prosperidade das plantações de arábica demandam temperaturas baixas, altitude, clima fresco e de sub-bosque. A região oeste do estado de SP (Nova Alta Paulista, Noroeste e Araraquarense), ao contrário das regiões cafeeiras do estado, atualmente líderes em produção, apresenta características climáticas e de terroir opostas. 

“A variedade arábica se adaptou de forma forçada no oeste paulista, onde há zonas de temperaturas muito quentes, sobretudo na região próxima ao Mato Grosso do Sul”, explica Fernando. Antes do início do projeto “Canéforas Paulistas”, registrava-se um baixo índice de rendimento nos cafezais de arábica na região oeste, com custos médios elevados de manutenção da lavoura, que somam os valores dos insumos e custos gerais operacionais. 

“Uma vez que as lavouras de arábica são prejudicadas por temperaturas excessivamente elevadas e períodos de estiagem, uma alternativa para o oeste paulista seria a introdução, de forma gradual e embasada em ensaios, do café robusta (Coffea canephora), que tolera temperaturas mais elevadas, infestação por nematóides e resiste à ferrugem”, concluíram os pesquisadores responsáveis pelo estudo “Caracterização da produção de Coffea arabica e possibilidade de cultivo de Coffea canephora na região oeste do estado de São Paulo”, publicado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) em 2006. 

“As condições climáticas e edáficas da região e da altitude mediana ideal, com variações de 400 a 450 m, e o clima seco propício para a colheita, previne a deterioração dos grãos no terreiro”, explica Fernando. 

Segundo os resultados da pesquisa comparativa do estudo quanto ao custo médio da condução do cultivo das duas espécies, produzir arábica na região custava o dobro em comparação ao robusta.

“Havia uma estrutura fundiária remanescente adequada para o plantio no oeste paulista. Nos últimos 40 anos, muitas propriedades de cultura familiar da região acabaram ficando menores devido às divisões de território entre novas gerações. O café é uma cultura que agrega valor em áreas menores – mais do que cana-de-açúcar, soja e pecuária, que demandam áreas de exploração maiores”, explica Fernando. 

“Além disso, o retorno do plantio de café no oeste paulista vem ao encontro da tradição cafeeira da região. Já havia muitas propriedades com terreiro, tulha e estrutura geral para a cafeicultura herdada da época dos colonos estrangeiros, como italianos, japoneses e russos.”

Em 2007, o projeto de viabilização da possível introdução da cultura de café robusta, passou a tomar forma, por iniciativa do Centro de Café do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), juntamente com a APTA Regional de Adamantina e a CATI de Lins com o apoio financeiro do Consórcio Café (parte do Embrapa Café, do Ministério da Agricultura e Pecuária), iniciativas privadas e a mobilização de pequenos produtore e universidades.

canéfora paulista

O caminho do cultivo de canéfora no oeste paulista

Segundo Júlio, dois pilares estratégicos formaram a primeira fase do projeto: 

1 – O desenvolvimento de cultivares de café robusta por meio do melhoramento genético, com ciclos de seleção até identificar a planta elite para ser a cultivar base; 

2 – A identificação de cultivares de café robusta utilizadas no estado do Espírito Santo adaptáveis às condições edafoclimáticas das regiões do Oeste e Centro-Oeste paulista. 

Em 2008, foram selecionadas zonas agrícolas nos municípios de Adamantina, Pacaembu (Alta Paulista), Lins e Getulina (Noroeste Paulista) como áreas experimentais de cultivo, sob a orientação do IAC, condução técnica pela CATI e instalação de experimentos pela APTA Alta Paulista. Atualmente, há 16 municípios participantes como áreas-piloto do projeto no estado de São Paulo.

“Os resultados e a tecnologia a ser desenvolvida na cultura do café demandam um longo prazo, mas no caso específico do robusta calculamos que poderia levar até 20 anos de pesquisas”, explica Júlio. 

Quanto à segunda estratégia, a das pesquisas genéticas de viabilização das cultivares, o prazo projetado era curto, em torno de 10 anos, caso as condições climáticas não interferissem de forma significativa. Em 2011, 2012 e em 2020 e 2021, as geadas que atingiram a região atrapalharam o andamento das pesquisas.

Dos 30 materiais genéticos clonais indicados pelo INCAPER e IAC trazidos do ES, contidos em sete cultivares, nove se adaptaram às condições edafoclimáticas, e estão em fase de expansão de cultivo. “Cada ciclo seletivo leva no mínimo seis anos, pressupondo a não-ocorrência de seca e/ou frio muito intenso, e o processo demanda de entre três a quatro ciclos seletivos de acordo com os critérios do melhorista de plantas responsável”, diz. 

O IAC conta com um banco extenso de germoplasma de café robusta, com material genético de plantas tanto de origem primária quanto secundária, o que aumenta a variabilidade genética e potencializa a seleção dos clones.

Fernando conta que uma parte importante para o sucesso do projeto foram as ações de difusão de tecnologia, técnicas agrícolas e treinamentos em “dias de campo” com os produtores, em parceria com cooperativas e alguns governos municipais locais – como o de Tupi, que patrocinou a compra de mudas para a região. 

Entretanto, ressalta Júlio, o apoio das políticas públicas ao projeto ainda não é efetivo para alavancar o cultivo do café robusta no estado paulista, especialmente no financiamento de pesquisa na extensão rural. Incentivos como crédito rural, juros baixos para o plantio, aquisição de mudas, manejo da lavoura, entre outras iniciativas, só são disponibilizados depois da primeira produção. “Não adianta viabilizar cientificamente uma cultivar altamente produtiva se não há capital de investimento entre os pequenos produtores”, acredita. 

“O que temos de concreto atualmente e nos últimos anos é o auxílio financeiro do Consórcio Café, do CNPq (apenas três anos) e de pequenos produtores, que cedem áreas em suas propriedades bem como todo o manejo experimental.”

canéforas sp

O momento atual 

O resultado da colheita de 2021 gerou em média 60 a 80 sacas por hectare, com números produtivos equiparáveis aos do Espírito Santo. “A medição de qualidade da bebida com a prova da xícara apontou resultados muito positivos”, explica Júlio. “Se o projeto ganhar força daqui para frente, o próximo passo é ser uma região de origem brasileira reconhecida quanto à produção de Coffea canephora.”

“Quando do início do projeto das canéforas paulistas, a qualidade, e não o volume, foi preconizada”, diz Fernando. Quanto ao interesse comercial, Júlio diz que já há demanda, “tendo em vista que há várias indústrias do café solúvel e do torrado/moído em São Paulo, e no norte do Paraná, que utilizam essa espécie como matéria-prima.” A proximidade geográfica dessas indústrias à região é um atrativo aos compradores, pois reduz os custos de transporte, tempo de entrega e de impostos interestaduais, além da emissão de carbono.

canéforas paulistas

A instauração bem-sucedida do plantio de robustas no oeste paulista reflete o compromisso do corpo acadêmico de Ciências Agrárias com a cafeicultura no país, e, o mais importante, provoca um questionamento ao quão atualizados são os paradigmas associados aos territórios de plantação de café no Brasil. 

O projeto “Canéforas Paulistas”, assim como o antecessor “Robustas Amazônicos”, revela o potencial de expansão do segmento quando se dá a combinação de ciência, tecnologia avançada e união entre as comunidades dos setores cafeeiros.

Créditos: Theodor Preising/Acervo Museu do Café de Santos (trabalhadores na década de 1930); Acervo Júlio Mistro (canéfora na paneira/destaque; plantações de canéfora; trabalhador no cafezal da zona de Parapuã na fazenda São José, no oeste paulista).

PDG Brasil

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Novas pesquisas do IAC exploram variedades exóticas e foco em cafés especiais https://perfectdailygrind.com/pt/2022/05/18/novas-pesquisas-do-iac-exploram-variedades-exoticas-e-foco-em-cafes-especiais/ Wed, 18 May 2022 15:06:39 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8428 O mercado de cafés especiais, ao longo dos anos, vem se tornando uma janela interessante para o setor cafeeiro do Brasil. Já é uma realidade para o produtor do Brasil falar que produz um café de qualidade.  O país, que é líder absoluto em produção, exportação e pesquisa, cada vez mais avança também na produção […]

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O mercado de cafés especiais, ao longo dos anos, vem se tornando uma janela interessante para o setor cafeeiro do Brasil. Já é uma realidade para o produtor do Brasil falar que produz um café de qualidade.  O país, que é líder absoluto em produção, exportação e pesquisa, cada vez mais avança também na produção e comercialização dos cafés de alta qualidade, tanto no mercado interno, mas também abrindo novos mercados no exterior. 

Vislumbrando as oportunidades que viriam pela frente, em 2010 o pesquisador Gerson Giomo, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), criou o Programa para Cafés Especiais, com foco em estudar o nível da qualidade das variedades disponíveis para o cafeicultor brasileiro, buscar as melhores forma de manejo e o pós-colheita ideal para cada região de produção.

O PDG Brasil foi conversar com ele para saber mais sobre o programa e sobre os avanços do IAC nas pesquisas em torno de variedades que conferem excelente qualidade na xícara. 

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pesquisa de cafés IAC

O que é o Programa para Cafés Especiais do IAC?

Segundo a página oficial do Programa para Cafés Especiais do IAC, o projeto atua em diversas linhas de pesquisa para aprimoramento da qualidade do café brasileiro, com ênfase no estudo de varietais, interação Genótipo x Ambiente e processamento pós-colheita específicos para a valorização do terroir do café brasileiro.

O IAC é referência mundial em pesquisa para o café, há 90 anos sendo linha de frente quando o assunto é melhoramento genético. Localizado em Campinas (SP), antes tomado por fazendas cafeeiras e por fácil acesso às ferrovias, o Centro de Café Alcides Carvalho nasceu justamente para dar mais impulso à produção do grão. 

“O Programa de Cafés Especiais do IAC trabalha dois focos principais: prospecção e degustação de cafés que só IAC possui, por meio do seu Banco de Germoplasma, que vem sendo construído desde 1932. E o outro ponto é a conexão com o mercado por meio dos ‘cuppings’ realizados sob a coordenação do colega Gerson Giomo. Tenho certeza de que nos próximos anos o Programa entregará cafés diferenciados ao mercado, com atributos sensoriais únicos, e até exóticos”, explica o pesquisador Sérgio Parreiras, que desde o início acompanha os trabalhos dentro do IAC. 

Mas o que é um banco de germoplasma?

Um banco de germoplasma é um banco que faz armazenagem de cultivares com o objetivo principal de evitar que alguns tipos desapareçam do mercado ao longo dos anos. O banco germoplasma do IAC conta com cultivares tanto para café tipo arábica como para café conilon.

O material conservado ajuda na pesquisa brasileira em prol da cafeicultura, mantendo a evolução do setor, ajudando a minimizar os impactos climáticos e principalmente colaborando com o aumento da produtividade em áreas já existentes e reservadas ao cultivo de café. 

Além do pesquisador, o IAC destaca em sua página oficial que o programa de melhoramento do cafeeiro do Centro de Café conta com o suporte de grupos que atuam em biotecnologia, socioeconomia, agroclimatologia, fitopatologia, química e qualidade dos grãos e bebida do próprio Centro. 

cafés especiais

Avanço na produção de café especial 

O Projeto de Cafés Especiais do IAC que conta com plantio em vários pontos das principais regiões de produção do país já mostrou resultados sólidos, com cafés com perfis sensoriais exóticos e com potencial para atender qualquer demanda que possa surgir. 

Segundo Gerson, a colheita da safra 22 começa em algumas áreas, como por exemplo na Alta Mogiana, ainda no mês de maio com a expectativa elevada para uma produção de qualidade. 

“Cada ano é um ano de novidade para nós porque são novas variedades entrando em produção, então fica a ansiedade para saber como serão os frutos das novas variedades. Neste ano estamos colhendo alguns experimentos de materiais inéditos, só saberemos se serão bons assim forem torrados e provados, mas a expectativa é sempre positiva”, afirma Gerson. 

As cultivares desenvolvidas no próprio IAC apresentam boas condições de produção para o produtor, com o manejo adequado, cultivar adequada para cada região e as boas práticas e principalmente um pós-colheita bem feito, o bom trabalho por si só vem entregando cafés de qualidade ao mercado. 

cafés especiais

Cafés exóticos

Mas as variedades do estudo em questão, liderado por Gerson, têm chamado a atenção com perfis sensoriais que se destacam. A ideia, de acordo com o professor, é que com a pesquisa seja encontrada cultivar específica para cada área de cultivo. 

Gerson conta que, após 12 anos desde o início do projeto, os trabalhos continuam a todo vapor. “Tivemos avaliações de café e apareceram cafés excepcionais. Conseguimos fazer demonstrações externas desses cafés que confirmaram nossa percepção de cafés de alta qualidade, tanto na linha das variedades exóticas, quanto na linha das variedades clonais, e neste ano a expectativa é a mesma. A colheita está se iniciando, o café vai ser avaliado normalmente e espero que surjam novamente cafés com o mesmo potencial de qualidade”, comenta.

A cada ano que passa o projeto de pesquisa ganha novos ares, sendo apresentado em eventos voltados para a cafeicultura e também em algumas cafeterias. Recentemente, com a tomada das atividades pós pandemia, Gerson conseguiu levar os cafés exóticos em uma cafeteria localizada em um bairro de localização privilegiada, além das atividades externas, o Centro de Café do IAC também voltou a receber visitas técnicas para ajudar na avaliação das bebidas. 

“De modo geral as avaliações e observações corroboram a excelente qualidade dos cafés experimentais do IAC, onde vários foram classificados como exóticos. Isso confirma que estamos trilhando o caminho certo rumo à seleção de varietais com qualidade excepcional na xícara”, afirma a publicação na página oficial do projeto no Instagram Cafés Especiais do IAC

colheita de café

O pesquisador acrescenta ainda que os pesquisadores do IAC vêm se mostrando satisfeitos com os resultados e com as devolutivas durante as visitas. “Ficamos bastante satisfeitos e animados com a possibilidade de elaboração de novos projetos em parceria para a exploração de variedades não-convencionais para a produção de cafés especiais com qualidade sensorial diferenciada”, complementa. 

Para Camila Arcanjo, coordenadora do Centro de Preparação de Café do Sindicafé-SP, as pesquisas sob a liderança de Gerson abrem novas possibilidades para o setor em termos de inovação e diferencial estratégico. “Pois cultivares ou variedades nunca antes cultivadas ou comercializadas no setor brasileiro trazem uma vantagem em relação a outros mercados”, afirma. 

Camila que já provou algumas vezes o café do IAC destaca que o sabor da bebida surpreende em termos de perfil sensorial. “Sabemos que o Brasil é um dos maiores parques cafeeiros do mundo e temos uma vantagem que é ter uma alta latitude comparada a outros países produtores. Dados e pesquisas tanto dos mercados nacional e internacional mostram claramente que uma parcela de consumidores buscam exoticidade e raridade. Nada mais interessante do que utilizar cultivares ou variedades que não foram exploradas nas pesquisas das décadas anteriores, voltadas para a seleção de produtividade e resistência à pragas e doenças e qualidade de bebida como as do programa do IAC”, acrescenta. 

pesquisa em cafés

Como diferenciar a produção de café comum do café especial?

São muitas as características que comprovam a diferença da qualidade do grão do café comum e do café especial. Segundo dados coletados no site da Embrapa, as principais características estão nas cultivares, nas boas práticas durante o desenvolvimento da safra e principalmente no pós-colheita. 

“São cafés que apresentam qualidade superior de bebida e sem qualquer tipo de defeito que venha causar alguma percepção sensorial desagradável ao consumidor. Ainda que o aspecto físico do grão, principalmente relacionado ao tamanho e aparência, seja um fator relevante na determinação do valor comercial do café, a qualidade da bebida é, sem dúvida, o principal diferencial de um café especial”, destaca a Embrapa. 

Outro termo que pode causar dúvidas é o “café exótico”, justamente o que vem chamando atenção nas pesquisas realizadas no IAC. Segundo Gerson, esses cafés são os que vão além da qualidade da bebida, com aromas e sabores com mais complexidade sensorial. Essas duas características vêm sendo comprovadas por degustadores de café que provam os cafés provenientes do IAC. 

Esse tipo de café pode apresentar mais de uma característica sensorial ao mesmo tempo, e quanto mais esse perfil ficar evidente durante a degustação, mais raro se torna o café. “Por exemplo, não é comum encontrar nos cafés cultivados comercialmente nuances de sabor ou aroma que lembram eucalipto, alecrim, menta ou especiarias”, destaca a publicação da Embrapa. 

Cultivares mais utilizadas no Brasil, segundo o IAC 

Atualmente, das cultivares apresentadas pelo IAC, continuam se destacando no mercado a “Catuaí” e o “Mundo Novo”, utilizados por uma maioria esmagadora de produtores no Brasil. De acordo com dados do Instituto, as duas cultivares juntas correspondem por mais de 90% dos mais de 4 bilhões de pés de café arábica plantados no Brasil. 

“Os principais resultados das atividades do Centro são as cultivares de café IAC, que até 2013 somavam 65 registradas e uma protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Essas cultivares se caracterizam por diferenciais como elevada produção, ampla adaptação a diferentes regiões produtoras, resistência a pragas e doenças e excelente qualidade de bebida”, afirma Gerson. 

Fora do Brasil, cultivares do IAC como Bourbon Vermelho, Caturra Amarelo, Caturra Vermelho e Catuaí Vermelho também ganharam espaço na cafeicultura da América Central. “Da cultivar Típica, introduzida no país em 1727, às atuais cultivares de porte mais compacto e resistentes a doenças, um ganho de 240% de produtividade foi acumulado pelo contínuo processo de seleção realizado no IAC”, complementa. 

cafés raros e especiais

Quando pensamos no setor cafeeiro, nem sempre nos lembramos dos pesquisadores e das pesquisadoras dos institutos de pesquisa e das universidades. Com um trabalho dedicado e bastante aprofundado, essas instituições e esses profissionais têm uma contribuição imensamente importante para o mercado de café do Brasil e do mundo. 

Pudemos perceber no texto acima, como a pesquisa realizada no IAC tem apresentado resultados práticos que podem se converter em maior produtividade e maior valor agregado aos cafés brasileiros. Em um momento desafiador para cafeicultores e cafeicultoras, vale ficar de olho nesses resultados, entrar em contato caso haja interesse de testar essas novas cultivares e sempre valorizar esse segmento tão essencial do mercado de café. 

Créditos: Virginia Alves (destaque); acervo IAC; Déborah Perígolo (trabalhador colhendo café); Engin Akyurt (cafés torrados).

PDG Brasil

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IAC avança em busca de novas cultivares de café descafeinadas https://perfectdailygrind.com/pt/2022/03/03/iac-avanca-em-busca-de-novas-cultivares-de-cafe-descafeinadas/ Thu, 03 Mar 2022 14:04:50 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=6865 Cada dia é mais comum encontrar consumidores que buscam o café descafeinado, seja por questões de saúde ou por opção. E esse assunto com certeza traz muitos questionamentos quando se fala de café especial. Café descafeinado a gente sabe que existe, mas por quanto processo químico e nocivo ao próprio grão e à nossa saúde […]

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Cada dia é mais comum encontrar consumidores que buscam o café descafeinado, seja por questões de saúde ou por opção. E esse assunto com certeza traz muitos questionamentos quando se fala de café especial.

Café descafeinado a gente sabe que existe, mas por quanto processo químico e nocivo ao próprio grão e à nossa saúde é preciso passar para conquistar esse resultado? E será possível zerar 100% a cafeína de um café?

São muitos os questionamentos que envolvem esse assunto, por isso o PDG Brasil foi direto nas fontes de pesquisa para entender um pouco sobre todo esse processo, mas principalmente sobre os avanços dos estudos e desenvolvimentos nessa área. Continue lendo para entender melhor sobre os cafés descafeinados.

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café naturalmente sem cafeína

Diferenças de teores de cafeína

Você já deve ter ouvido sobre isso por aí, mas Maria Bernadete Silvarolla, engenheira agrônoma e a pesquisadora científica que coordena o “Projeto Café Descafeinado”, e Júlio César Mistro, pesquisador científico em Melhoramento Genético do Café que atuam juntos no Centro de Café Alcides Carvalho (IAC/APTA/SAA SP), e também o pesquisador científico Gerson Silva Giomo, que atua há 27 anos no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), ressaltam algumas diferenças quanto ao teor de cafeína nos grãos. Veja no infográfico abaixo.

teor de cafeína

Para Gerson, “as espécies Coffea eugenioides, Coffea salvatrix e Coffea racemosa tem menor teor de cafeína que a espécie Coffea arabica. Já o Laurina (que é uma cultivar selecionada pelo IAC e tem o nome de Laurina IAC-870) é considerado de médio teor (em torno de 0,6%), e não naturalmente de baixa cafeína como é comum dizerem por aí”.

Júlio César destaca que “nos cafés blendados arábica junto com robusta, esse percentual é mais elevado devido ao robusta, que possui até 2,4% de cafeína em seus grãos”.

descafeinado

Afinal, descafeinado e “low caffeine” são a mesma coisa?

Esses termos são duas coisas diferentes: um café descafeinado, segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), possui em seus grãos até 0,10% de cafeína, e o “low caffeine” (ou “low caf”) possui entre 0,11 e 0,60% de cafeína, esclarece Júlio: “portanto, o café low caffeine nunca poderá substituir o café descafeinado”.

Gerson nos ajuda a entender essas diferenças do ponto de vista das nomenclaturas, e afirma que depende muito do meio onde o assunto é tratado: se envolve mais mercado, ou se é pesquisa, ou se é cafeteria etc.

“Particularmente, prefiro adotar o termo descafeinado quando se trata de café obtido por processo artificial de remoção de cafeína. Já ‘low caffeine’ usaria para classificar cafés que  naturalmente possuem baixo teor de cafeína.”

Usando o exemplo do Laurina, que já é um pouco mais conhecido, Gerson conta que “para a identificação e descrição de cultivares de café existem os descritores mínimos recomendados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Conforme esses descritores, cultivares como o Laurina são caracterizados com uma nota 3, que identifica baixo teor de cafeína. Já o naturalmente descafeinado recebe uma nota 1, que identifica teor de cafeína muito baixo.”

Também nos explica que, conceitualmente, não existe nenhum café 100% descafeinado, mesmo aqueles que passam por processo de remoção de cafeína, uma vez que existem limites de tolerância.

“Aceita-se como descafeinado um café que passa por remoção de no mínimo 97% de sua cafeína. Não existe até o momento nenhuma disponibilidade de café descafeinado para cultivo e produção 100% descafeinada desde a lavoura, somente em escala experimental.”

cafeeiro café pesquisa IAC

Melhoramento genético do café descafeinado

Na pesquisa de Bernadete, os genes responsáveis pelo controle da síntese de cafeína sofreram alterações espontâneas, fazendo com que seus grãos passassem a ter até 0,10% de cafeína.

“O café colhido dessas plantas já vem do campo com esse perfil químico, dispensando processos industriais de retirada da cafeína dos grãos que são utilizados para produzir o café descafeinado. Seu uso constituirá uma nova opção, tanto para o produtor de café quanto para o consumidor.”

Antes de nos aprofundarmos no projeto, Bernadete conta ao PDG Brasil de maneira simplificada, como é longo o tempo para se desenvolver uma cultivar de café arábica.

“Para que a planta chegue até o cafeicultor, são necessários aproximadamente 50 anos de muita pesquisa. E por que esse tempo? Para entrar no mercado, a cultivar tem que estar geneticamente uniforme, isso é, ela não pode estar segregando. Esse ponto só é atingido na 8ª geração (F8). No café, cada geração leva no mínimo 6 anos”, como vemos na ilustração abaixo.

melhoramento genético café

Mas há estratégias para tentar reduzir esse tempo em até 15 a 20 anos: “um método que vem sendo estudado é a clonagem, a qual permite você sair de qualquer geração, por exemplo um F1 ou F2, e já atingir a uniformidade genética”, diz Bernadete.

Lembrando que, se alguma adversidade climática (seca, geada etc.) ocorrer neste período de 6 anos entre as gerações, esses 6 anos poderão se estender para 8 ou 10 anos, independentemente se utilizar a clonagem ou não.

Projeto Café Descafeinado

Seu projeto iniciado em 1999 foi pioneiro no mundo, alavancando essa linha de pesquisa até então adormecida.

O primeiro passo foi avaliar 3.000 plantas em uma das coleções do Banco de Germoplasma do IAC, que é o maior banco de germoplasma vivo de plantas de café no Brasil e o terceiro do mundo. Segundo o Portal Coffea, as cultivares desenvolvidas pelo IAC representam quase 90% do parque cafeeiro no Brasil. Essa coleção foi introduzida da Costa Rica em 1970, e até hoje é mantida pelo Centro de Café. 

De acordo com dados da Embrapa, o Instituto mantém o maior e mais antigo Banco de Germoplasma – BAG de café do país, com 5.451 registros. Com essa diversidade, contribui para significativos resultados na pesquisa cafeeira há 80 anos.

Amostras de grãos produzidos por todas as plantas dessa coleção foram analisadas no laboratório da Unicamp quanto ao teor de cafeína, sendo que em 2003/2004 foram identificadas três plantas cujo teor de cafeína nos grãos variou entre 0,07 e 0,10%.

Essas plantas foram então utilizadas em cruzamentos dirigidos com cultivares mais utilizadas, tais como catuaí, mundo novo, obatã vermelho, ouro verde etc., visando transferir essa característica para as cultivares mais vigorosas e produtivas.

“Após esses cruzamentos obtivemos inúmeras plantas, as quais fizeram parte da geração F1. Após avaliações de cafeína e de produção dos materiais, avançamos para as gerações F2 e F3, sendo que atualmente estamos avaliando as plantas da geração F3 desse processo.”

“Optamos por aplicar um processo de clonagem (propagação vegetativa) para que se possa antecipar o aproveitamento dos melhores materiais deste F3, que, após sua conclusão, irá resultar em uma cultivar clonal, ou seja, a cultivar não poderá ser propagada por sementes.”

É importante esclarecer que a pesquisa não envolve nenhum tipo de técnica de engenharia genética e muito menos OGM (organismos geneticamente modificados), mas sim o melhoramento clássico, que nada mais é do que fazer todo o processo seletivo no campo, desde os cruzamentos até o lançamento da cultivar.

café descafeinado natural

Resultados do Projeto Café Descafeinado experimentais

Segundo Bernadete e Júlio, a pesquisa até o momento vem satisfazendo o objetivo principal e com ótimas perspectivas para um futuro próximo.

“Em condições experimentais, várias plantas em seleção conciliaram cafeína abaixo de 0,10% (o que as credenciam como cafés descafeinados) com produtividades acima de 28 scs/ha, chegando em algumas plantas até 50 scs/ha. Numa próxima fase, esses materiais deverão ser colocados em competições regionais com as principais cultivares, como catuaí e mundo novo.”

Bernadete acrescenta ainda que o foco da pesquisa desde o início não é desenvolver um material com alta produtividade, mas sim uma planta descafeinada e com bom nível de produção de grãos, gerando lucratividade ao cafeicultor.

Ela informa que esse ano, as plantas descafeinadas já estão em processo de clonagem para então serem avaliadas em experimentos regionais para posterior lançamento. “Este importante passo só está sendo possível graças a um projeto submetido e aprovado em 2020 pela FAPESP, e o Consórcio Pesquisa Café em etapas anteriores, apoiados pela FINEP e a CAPES”, revela Júlio.

O projeto não gerou apenas plantas com cafeína abaixo de 0,10%, mas também plantas com cafeína entre 0,11 e 0,60% de cafeína, o que o mercado considera como low caffeine. Bernadete e Júlio também estão trabalhando nesses materiais, que vêm se mostrando muito promissores nas condições experimentais na cidade de Campinas (SP).

“Acreditamos que este árduo trabalho iniciado pela Bernadete em 1.999 poderá resultar em cultivares descafeinadas e também low caffeine, sendo o IAC e o Brasil como inéditos inovadores nesse tipo de tecnologia”, finaliza Júlio.

O projeto do descafeinado atualmente é conduzido pelos pesquisadores do Centro de Café do IAC Maria Bernadete Silvarolla e Júlio César Mistro. Já a clonagem das plantas vem sendo realizada pela pesquisadora desse Centro, Julieta Almeida.

cupping de café

Mas como fica o sensorial do café descafeinado?

Para Bernadete e Júlio, ainda não há informações concretas sobre o sensorial do descafeinado: “fizemos algumas poucas avaliações que revelaram plantas com grande potencial para a produção de cafés acima de 80 pontos. Isso será mais bem avaliado nos experimentos clonais que ainda serão instalados no final deste ano.”

Para Gerson, depende da composição química e do equilíbrio entre todos os demais componentes do grão, e não apenas a cafeína: fator genético em primeiro plano, mas também o fator ambiental e a interação entre fatores.

“Costumamos dizer que a qualidade do café, incluindo o perfil sensorial, é dependente da interação Genótipo x Ambiente. O que vai determinar os diferentes atributos é a constituição genética das variedades, onde é primordial a origem da variedade, se ela é primitiva, se já foi submetida a melhoramento genético, cruzamentos etc.”

“Em nossas pesquisas conseguimos avaliar bem isso, pois conhecemos a origem e o pedigree de cada variedade estudada. Então observamos que há grande diferença nos atributos sensoriais entre cultivares etíopes, indianas, brasileiras e outras.”

Não se pode esquecer que cada planta tem sua própria constituição genética, que vai se expressar de forma diferenciada em termos de sabores e aromas, principalmente. “Ainda não sabemos nada sobre o que causa essas diferenças na bebida, mas que são diferentes são, e muito.”

cafeteria café descafeinado

Torrefação e aceitação do consumidor

Rafael Pivetta Gavlinski é dono da cafeteria e torrefação Brazuca Coffee Brasil, sediada no Brooklin (SP), uma extensão do projeto Brazuca Coffee, iniciado na Holanda com Tiago André Gavlinski. Rafael já provou e torrou café descafeinado pelo método swiss water “desde a primeira oportunidade”, lembra. “Foi como se estivesse tomando um café cafeinado”, conta.

“Existia na minha cabeça um preconceito, uma impressão de que seria ruim, principalmente considerando os tipos de processamento aqui do Brasil, feitos com produtos químicos que acabam deixando o café flat, sem sabor ou com amargor. Então foi uma experiência bem positiva, com um café swiss water process colombiano.”

Em sua cafeteria, a busca por café descafeinado aconteceu por conta de alguns clientes que habitualmente o consomem e foram propagando a ideia.

“Temos um cliente médico que descobriu metabolização lenta de cafeína em seu organismo, e passou a procurar descafeinados de qualidade. Ele faz drinques funcionais com maca peruana, guaraná cipó e matchá, e opta pelo descafeinado por ser rico em polifenóis e antioxidantes, além de um bom combustível condutor desses outros nutrientes. Ele acaba indicando para os amigos, e por aí vai.”

“Sempre trabalhamos com descafeinado desde a Holanda. O consumo e o interesse por lá são bem maiores. Então temos na operação, com uma saída razoável na cafeteria, mas o forte mesmo é a venda dos pacotinhos.”

café sem cafeína

“Em cada safra é comprado um café diferente. Esse lote comprado é enviado para o Canadá onde é feito o processo de descafeinização. Temos uma parceria com uma fazenda em Minas Gerais que envia todo ano um contêiner, pois existe uma quantidade mínima de umas 40 sacas para que o processo seja feito na Swiss Water Company. Por isso, a cada safra temos apenas um café disponível.” O atual é um Icatu. O pacotinho com 200 g sai por R$ 49.

O processo de torra para um café descafeinado é o mesmo do que para um café com cafeína: mesmos cuidados e passos como cupping, análise sensorial, ajuste de perfil de torra e por aí vai até atingir o melhor daquele café específico.

Rafael conta que na cafeteria os clientes querem entender melhor sobre como funciona o processo de descafeinização natural porque todo mundo acaba gostando bastante. Em geral, nos questionam buscando entender e aprender sobre todo esse processo”, por isso no site da Brazuca existe uma aba explicando didaticamente como acontece a descafeinização do café por eles torrado e comercializado.

café descafeinado

O futuro do mercado do café descafeinado

É unânime a opinião de nossos entrevistados sobre o futuro para o café descafeinado especial: ele atenderá o público que ama o café, mas devido a questões de saúde ou por opção, ainda há muito espaço a ser conquistado aqui no Brasil.

Bernadete e Júlio reforçam que já há o café descafeinado disponível no mercado, porém é obtido mediante processo de descafeinação via água ou diclorometano.

“Em ambos os casos há vantagens e desvantagens ambientais, econômicas (principalmente para a indústria brasileira, devido ao alto custo de envio para descafeinar o grão fora do país), e com algumas perdas na qualidade sensorial do produto na xícara”, afirma Júlio.

“Considerando café de qualidade, atenderemos muita demanda do público que é metabolizador lento de cafeína, ou gestantes e lactantes, e pessoas que querem mesclar com o consumo do café cafeinado. Por isso acredito que ganhará cada vez mais espaço, até porque percebemos durante a pandemia um aumento considerável de seu consumo”, comenta Rafael.

espresso descafeinado

Já podemos esperar o que o futuro nos reserva e provar sem medo os cafés descafeinados que surgirão nas gôndolas nos próximos anos. Os pesquisadores não conseguem estimar esse prazo, pois depende de questões imprevisíveis, como as climáticas, por exemplo.

Mas é fato que poderemos encontrar cafés especiais 100% descafeinados no mercado cafeeiro futuro, e sem uso de procedimentos industriais de descafeinização, ou seja, direto da lavoura para a xícara. Então não haverá mais desculpa se vai estar cedo ou tarde, atrapalhar ou não o sono, para degustar doses incríveis de cafés a qualquer hora do dia e da noite, até para os coffee lovers mais sensíveis.

Créditos: Júlio César Mistro (destaque: frutos de café descafeinado – abaixo de 0,10% de cafeina no grão – obtidos pelo melhoramento genético clássico; vigor vegetativo das plantas descafeinadas; experimento de café descafeinado no IAC, em Campinas / SP); banco de imagens (cupping; baristas; extração de café); Edenilso Gavlak (Rafael Pivetta Gavlinski torrando café descafeinado swiss process para Brazuca Coffee Brasil); Rafael Pivetta Gavlinski (café descafeinado swiss process da cafeteria e torrefação Brazuca Coffee Brasil).

Infográficos: Livia Fattori Scudeller.

PDG Brasil

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Por que celebrar o Dia Internacional do Café? https://perfectdailygrind.com/pt/2021/10/01/por-que-celebrar-o-dia-internacional-do-cafe/ Fri, 01 Oct 2021 12:02:42 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=4614 Antes dos anos 1000, membros da comunidade Oromo, na Etiópia, já faziam uma pasta com os frutos do cafeeiro moídos misturados com gordura para dar energia. Nos anos 1000, árabes trouxeram a planta da África, começaram a cultivá-la e já preparavam a qahwa.  Desde então, a história do café foi uma história de resistência e […]

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Antes dos anos 1000, membros da comunidade Oromo, na Etiópia, já faziam uma pasta com os frutos do cafeeiro moídos misturados com gordura para dar energia. Nos anos 1000, árabes trouxeram a planta da África, começaram a cultivá-la e já preparavam a qahwa. 

Desde então, a história do café foi uma história de resistência e resiliência. Mudas que sobreviviam a longas jornadas em alto mar, governantes e religiões que proibiram (e algumas ainda proíbem) o consumo da bebida, guerras mundiais e civis, geadas assoladoras, erupções de vulcões… e a bebida segue com aqui, sendo uma das mais consumidas e celebradas diariamente em todo o planeta.   

Não à toa, foi criada uma data para se comemorar em todo o mundo essa bebida tão essencial para milhares de pessoas diariamente: o dia 1º de outubro. A despeito de todos os desafios que o mercado enfrenta, é um dia de festa e comemoração.  

Para celebrar a data, o PDG Brasil conversou com profissionais do mercado do café e também apreciadores para saber a importância do café em suas vidas. Continue lendo para saber o que disseram. 

Você também pode gostar de ler Raio-X do café no Brasil: indústria, consumo e informações relevantes sobre o mercado do país

produtor de café Domingos Leone

O produtor

Domingos Leone cultiva café em agricultura familiar no bairro Gabirobal, em Andradas, Sul de Minas. É um exemplo e inspiração para muitos. Sua dedicação ao café, desde criança, é de admirar. Mas não pense que ele se acomoda e faz as coisas como se fazia décadas atrás. Participante da Acafeg (Associação dos Cafeicultores do Bairro Gabirobal – Andradas), ele está sempre em busca de melhorias. Agora seu foco está na qualidade e na preservação do meio ambiente.

Eu e o café

  • Nome: Domingos Leone Neto
  • Idade: 61 anos
  • Trabalha com café desde: “Ah, trabalho com café desde os 8 anos de idade. Já ia com os meus pais para a lavoura.” 
  • O que faz: produtor de café no Sítio Santo Onofre, do bairro Gabirobal, Andradas (MG)

Qual é a importância do café na sua vida?

“O café para mim hoje representa a vida, né? 

Desde criança a gente já trabalha com café. A gente tem aquela paixão. Trabalho com café desde os meus 8 anos de idade. Já ia com meus pais para a lavoura e a gente já foi assim pegando essa tradição, aprendendo a trabalhar com café. 

Eu acredito que eu não saberia fazer outra coisa, a não ser estar aqui, no meio da lavoura, apreciando a natureza, cuidando do meio ambiente. 

O que nos enche de alegria é ver um café bonito, um café carregado, um café sadio. E procurando a melhoria cada vez mais. A cada ano estamos trabalhando para produzir um café de melhor qualidade. Não só ter o trabalho, mas produzindo um café de ótima qualidade, não só pra nós. Mas para todos aqueles que vão apreciar e tomar esse café. 

E trabalhar unido com a família, né. Só tenho a agradecer a Deus por ser um produtor de café. É a maior alegria da gente aqui na roça é isso aí.” 

Cecilia Sanada café

A degustadora e consultora

Da jovem e moderna cabeleireira, Cecília começou a carreira de barista sem muitas pretensões. Rapidamente tornou-se um dos destaques no mercado em um momento de fortalecimento e reconhecimento dessa profissão, participando de campeonatos e com um trabalho consistente e qualificado. Pouco a pouco foi evoluindo na carreira, aprendendo a degustar, fazendo cursos e trabalhando em outros países e visitando fazendas, aperfeiçoando suas habilidades. Hoje é uma das degustadoras mais requisitadas do país, participando de avaliações importantes como Cup of Excellence, Xícara de Ouro do Fairtrade, entre outros concursos de qualidade. É também consultora de qualidade em cafés, uma das suas especialidades.   

Eu e o café

  • Nome: Cecília Megumi Sanada
  • Idade: 41 anos 
  • Trabalha com café desde: 2007, há 14 anos. 
  • O que faz: “Tenho uma empresa de consultoria em qualidade de cafés, a Cecilia M. Sanada Consultoria. Sou Q-grader e assistente instrutora pelo CQI, juíza de concursos de qualidade, educadora e barista.”

Qual é a importância do café na sua vida?

O café é a minha vida. 

Desde que comecei a trabalhar com ele, se tornou parte fundamental do meu dia a dia. Pude conhecer outras realidades, viajar muitos países, conhecer muitas pessoas e diferentes culturas. 

Poder trabalhar quando, onde e com projetos que têm propósito é realmente muito satisfatório. 

Com o café, eu alinho os meus projetos de vida e realizo coisas que nunca tinha imaginado.”

Roberta Bazilli mestre de torras

A produtora e torradora

Uma das mais proeminentes produtoras e mestres de torra do país, Roberta Bazilli foi pouco a pouco conquistando seu espaço no mercado. Além de ser uma profissional séria e dedicada, que produz um café de excelente qualidade, Roberta tem se voltado à torrefação que abriu, fornecendo grãos para inúmeros projetos e cafeterias. Mãe e empresária, também é consciente de seu papel como mulher em um mercado bastante masculino, sendo voz ativa e uma referência na questão da equidade de gênero. 

Eu e o café

  • Nome: Roberta da Silva Bazilli
  • Idade: 44 anos
  • Trabalha com café desde: 2006
  • O que faz: Cuido da plantação até a torra da minha marca, o Café Bazilli. Mas meu foco maior é como mestre de torra. 

Qual é a importância do café na sua vida?

“Pra mim é desafiador responder a essa pergunta. Tenho tantas ligações e interfaces com o café na minha vida! Costumo brincar que o café faz parte do meu DNA, pois sou da quarta geração de cafeicultores pelo lado materno e da quinta geração pelo lado paterno. 

Dar continuidade à tradição da família é uma sensação inexplicável, difícil achar as palavras. São muitas conexões afetivas, familiares e até profissionais. 

Acordo e durmo ao lado do cafezal, abro a janela ou a porta da minha casa e vejo só cafezal. 

A importância do café na minha vida é uma grande mistura de sentimentos. É uma honra poder criar meu filho (sexta geração) nesse cenário e viver 100% do café!” 

Felipe Wakim barista

O barista

O cliente chega e nem precisa falar qual é o seu pedido. Felipe Wakim é barista e empresário daqueles de antigamente, que sabe o nome do cliente, sabe o que cada um quer e gosta de papear. Ao mesmo tempo, é estudioso e ligado em todas as tendências. Ele também não abre mão de trabalhar com café de qualidade e oferecer diversidade de métodos para seus clientes, mesmo estando dentro de uma universidade, onde o consumo poderia ser mais restrito. Ao lado de sua cafeteria, no pátio da universidade, cultiva alguns pés de café que já estão frutificando, bem como o seu negócio. 

Eu e o café

  • Nome: Felipe Wakim 
  • Idade: 37 anos
  • Trabalha com o café desde: “Maio de 2000, ajudando na cafeteria que era do meu pai.” 
  • O que faz: “Sou barista e realizo todas as funções da cafeteria da qual sou sócio, a Café.com.br. Também sou empreendedor nas horas vagas!”

Qual é a importância do café na sua vida?

“Café para mim é fonte de inspiração, combustível da vida!

Não consigo ficar uma manhã sequer sem café… É com ele que se iniciam amizades, grandes amores ou reuniões importantes. 

É também uma ferramenta importante de grande potencial social. 

Sorte grande a minha em trabalhar com café!”

Jones importância do café

O apreciador

“Ué, mas eu?” Foi a pergunta de Jones ao receber o contato do PDG Brasil para participar deste artigo. Profissional da área de TI, é tímido aparentemente, mas não quando se trata de café. Aficionado dos mais dedicados, é um “coffee lover” ativo e generoso, compartilhando conhecimento com amigos e nas redes sociais. 

Eu e o café

  • Nome: Jones Ambrózio Oliveira Alves
  • Idade: 32 anos 
  • Trabalha com café desde: “Sou um profissional de TI, desenvolvedor back-end. Desde 2018 passei a me considerar oficialmente ‘coffee lover’”. 

Qual é a importância do café na sua vida? 

“O café é de suma importância para mim. 

Me traz o ânimo para trabalhar, mas também a paz de alguém que consegue pausar e apreciar. 

Mas não apenas isso. Quando comecei no café, estava estressado, com uma rotina desgastante. E o processo do preparo do café e a tentativa de entender as variáveis e notas sensoriais eram a minha terapia. 

Hoje o café de fato é mais que uma bebida. São emoções, sensações, amizades e companheirismo com as novas conexões que ele me traz.” 

Sérgio Parreiras pesquisador de café

O pesquisador

Sergião é um dos pesquisadores de café mais influentes do mercado brasileiro. E não é apenas pelo seu carisma e pela sua simpatia. Além de ser mediador da Rede Social do Café, Sergião é doutor em Agronomia e pesquisador do IAC dos mais dedicados, com diversas pesquisas já publicadas, participação e organização de eventos, incluindo simpósios, cursos, palestras e workshops. 

Eu e o café

  • Nome: Sérgio Parreiras Pereira
  • Idade: 47 anos
  • Trabalha com o café desde: “Meados dos anos 90, quando me graduei em Agronomia.”
  • O que faz: Sou pesquisador científico do Centro de Café do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e mediador da Rede Social do Café, que divulga informações do mercado e já contou com mais de 24 milhões de acessos. 

Qual é a importância do café na sua vida? 

“O café faz parte de quase tudo na minha vida… 

Meu pai trabalhou a vida toda com café e eu cresci no meio disso tudo. 

Dedico a minha vida profissional ao café desde a graduação, ou seja, nos últimos 25 anos tenho atuado no setor cafeeiro. 

Fiz mestrado e doutorado em café e estou desde 2005 no Centro de Café do IAC que é uma das mais importantes instituições de pesquisa cafeeira do mundo. 

Faço parte do Consórcio Pesquisa Café desde sua gênese, e, desde 2006, sou mediador da Rede Social do Café. Tenho apoiado iniciativas como o Fair Trade, a IWCA (Aliança Internacional das Mulheres do Café) e mais recentemente o CCRE (Coalizão do Café pela Equidade Racial). 

Bebo Café… Vivo Café… Viva o Café!!!” 

café é importante

Seja qual for a sua razão, o café, em toda a sua trajetória milenar, já demonstrou que é resiliente. A nossa bebida querida de todos os dias sobreviveu a guerras, desafios climáticos, como geadas assoladoras, campanhas negativas e até proibições de igrejas e governantes. A imensa comunidade do café, composta por milhões de pessoas, de produtores a criadores de mudas, de comerciantes de maquinários e insumos a catadores, de baristas a mestres de torra, atendentes a empresários, apreciadores e degustadores… são muitos os que dependem da bebida para sobreviver, mas, mais do que isso, são encantados por uma bela xícara esfumaçante. 

Seja qual for a sua razão para celebrar, celebre. O show cafeinado não pode parar.  

PDG Brasil

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Híbridos de café resistentes ao clima? Conheça um exemplo do Vietnã https://perfectdailygrind.com/pt/2021/09/23/hibridos-de-cafe-resistentes-a-variacoes-do-clima-no-vietna/ Thu, 23 Sep 2021 03:00:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=4416 O relatório da USDA, Café: Mercados Mundiais e Comércio, publicado em junho de 2021, prevê que os números da produção global de café em 2021/22 cairão 6,2% em relação ao ano-safra anterior. Essa queda projetada na produção pode ser atribuída a uma série de razões, mas uma das mais proeminentes são os padrões climáticos extremos […]

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O relatório da USDA, Café: Mercados Mundiais e Comércio, publicado em junho de 2021, prevê que os números da produção global de café em 2021/22 cairão 6,2% em relação ao ano-safra anterior.

Essa queda projetada na produção pode ser atribuída a uma série de razões, mas uma das mais proeminentes são os padrões climáticos extremos ou irregulares. Os padrões climáticos mudam naturalmente, mas acredita-se que essas mudanças foram potencializadas pelas alterações climáticas.

Se essa tendência continuar, a produtividade poderá cair ainda mais nas próximas décadas, o que, por sua vez, fará com que a renda de milhões de cafeicultores em todo o mundo diminua.

Para saber mais sobre esse desafio e o que podemos fazer para combatê-lo, conversamos com várias partes interessadas que trabalham no  projeto BREEDCAFS, no noroeste do Vietnã. Continue a ler para descobrir o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como podemos combater o impacto das mudanças climáticas com variedades de café híbrido.

café no Vietnã

Os desafios na produção de café vietnamita

O USDA prevê que a produção de café no Vietnã em 2021/22 seja de 30,83 milhões de sacas. Quase tudo isso será de robusta (cerca de 29,68 milhões de sacas – mais de 96%).

Isso significa que o Vietnã é o segundo maior país produtor de café do mundo. Mesmo nessa escala, no entanto, os produtores em todo o país enfrentam uma série de desafios.

Ngoc Anh Sprünker é presidente da Detech Coffee e presidente da IWCA Vietnã. Ela diz: “O café vietnamita, historicamente, não foi valorizado e, portanto, não recebe um preço alto”.

“Por exemplo, na safra 2019/20, houve momentos em que os comerciantes das multinacionais não pagavam mais do que US$ 0,90/lb. Os agricultores só perdem com esse preço.”

Ela acrescenta que as mães solteiras e os fazendeiros viúvos são ainda mais vulneráveis.

“O trabalho de campo prejudica a saúde deles”, diz Ngoc. “Eles ganham menos de 50% de uma família normal e sua saúde é pior em comparação com as mulheres em uma família composta por marido e mulher.”

O Dr. Luu Ngoc Quyen é o Diretor Adjunto do Northern Mountainous Agro-Forestry Science Institute (NOMAFSI). Ele conta que as variedades de café também representam um desafio.

“A variedade catimor foi introduzida no Vietnã em 1984, mas é um café de qualidade inferior se comparado a outras variedades”, diz ele. “Atualmente, é responsável pela maior parte da produção de café arábica no Vietnã.”

Embora a catimor seja conhecida por sua alta resistência à ferrugem e alto potencial de produção, a variedade tem a fama de ser de baixa qualidade. No entanto, Luu observa que isso costuma ser uma deturpação injusta.

“A variedade catimor no Vietnã foi degradada”, diz ele. “O fenótipo é irregular e sua qualidade é reduzida. Portanto, a seleção e o melhoramento de novas variedades de arábica de alta qualidade e alto rendimento são extremamente importantes.”

Pierre Marraccini é fisiologista molecular de café do CIRAD, onde trabalha desde 2001.  E, desde 2017, ele trabalha no projeto BREEDCAFS no Vietnã, que se concentra no desenvolvimento, qualidade e genética dos grãos de café.

“O arábica está espalhado pelas províncias montanhosas do noroeste do Vietnã, incluindo Dien Bien, Son La, as Terras Altas Centrais, Lam Dong e Quang Tri”, diz Pierre.

Ele também observa que o arábica vietnamita está subvalorizado no mercado global, principalmente devido à falta de conhecimento sobre boas práticas agrícolas. Além disso, as condições climáticas extremas (como as fortes geadas de 2019 em Son La, que destruiu mais de 3.000 hectares de cafeeiros) deixam as fazendas de arábica vietnamita vulneráveis aos perigos climáticos.

produtores de café Vietnã

Por que plantar novas variedades de arábica?

Clément Rigal é agrônomo de café no CIRAD, com foco em práticas agrícolas sustentáveis e sistemas agroflorestais.

“Variedades de café selvagem crescem na floresta em ambientes sombreados”, diz Clément. “Historicamente, as variedades eram cultivadas para melhorar a produtividade sob condições de plena luz do sol, mas às custas da qualidade do café e da agricultura sustentável.”

“Como resultado, muitas variedades convencionais de café não são mais adequadas para ambientes sombreados e seus rendimentos caem sob a sombra das árvores.”

Em 2017, o projeto BREEDCAFS chegou às províncias de Son La e Dien Bien, com o objetivo de resolver a falta de diversidade genética nas fazendas de café vietnamitas.

Luu diz: “O objetivo geral é introduzir e testar novos híbridos F1 arábica para ver se eles estão bem adaptados à região e projetar práticas agroflorestais que criarão sistemas de café de alto rendimento. Eles serão mais adequados às mudanças climáticas e, com sorte, terão alta qualidade.”

Pierre acrescenta: “Os novos híbridos F1 arábica foram desenvolvidos pelo CIRAD e pela ECOM há mais de 20 anos. Eles foram testados pela primeira vez em vários países da América Central.”

O CIRAD e a BREEDCAFS importaram mudas de dois híbridos F1 arábica e as forneceram a 12 agricultores vietnamitas. Os híbridos F1 são descendentes de primeira geração de variedades de plantas distintas que foram propagadas em variedades.

No total, 40.000 mudas de Starmaya e H1-Centroamericano foram distribuídas aos agricultores locais, com catimor usado como controle. Essas mudas foram inicialmente plantadas como “lotes de demonstração”, administradas pelos próprios agricultores.

Inicialmente, em junho de 2018, os 12 agricultores receberam 400 mudas cada, totalizando 4.800. NOMAFSI, CIRAD, a Academia de Ciências Agrícolas do Vietnã (VAAS) e o Instituto de Genética Agrícola (AGI) realizaram a fenotipagem anual para avaliar o crescimento dos híbridos e avaliar a presença de pragas e doenças.

A primeira colheita ocorreu de outubro a dezembro de 2020. O café verde foi então avaliado em laboratórios por parceiros privados (incluindo Phuc Sinh, ECOM e illy) para distinguir suas qualidades físicas, químicas e de xícara.

Clément acrescenta: “Testes de campo e fenotipagem foram conduzidos em uma série de elevações, então, podemos ver qual variedade é mais adequada para qual condição.”

Dao O Anh é o vice-presidente da VAAS. Ele diz: “Os resultados iniciais dos lotes de demonstração mostraram que as novas variedades de café híbrido F1 tiveram um desempenho melhor do que as plantas locais da catimor em termos de rendimento e qualidade.”

Os fazendeiros locais também foram entrevistados sobre os novos híbridos F1. Hoang Thi Xoan é um fazendeiro da província de Son La que perdeu uma quantidade substancial de suas árvores durante a geada em 2019.

“As novas variedades crescem melhor durante o mesmo período de cultivo”, diz Hoang. “Eles têm mais galhos e rendem mais cerejas.”

“As variedades F1 são mais bem adaptadas à sombra, o que desempenha um papel essencial na qualidade e nos sistemas agroflorestais, melhorando a biodiversidade em última instância”, acrescenta Clément.

Cam Thi Thich é outro agricultor que perdeu renda em 2019 por causa da geada. Cam diz: “Se tivéssemos mais árvores de sombra, os pés de café estariam melhor protegidos da geada”.

Ao todo, essa resposta positiva dos agricultores, dos parceiros privados e do governo local estimulou a expansão. No verão de 2020 e 2021, a BREEDCAFS distribuiu mais 35.000 mudas.

Eles também deram o pontapé inicial no processo de credenciamento em escala local, para continuar expandindo a adoção dessas novas variedades no futuro.

Após o final do projeto, todos os parceiros envolvidos continuarão trabalhando em conjunto com o apoio local da ECOM Vietnã para garantir o credenciamento do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MARD) para os híbridos F1.

híbridos de café

Melhorando as técnicas agrícolas

Embora o plantio de variedades de maior qualidade e com mais resiliência ao clima seja um bom início para melhorar a subsistência dos agricultores vietnamitas, é necessário mais trabalho a longo prazo.

Ngoc observa que a Detech já está apoiando os agricultores para melhorar suas práticas na fazenda.

“Estamos trabalhando com produtores selecionados para aumentar a proporção de cerejas maduras durante a colheita”, diz ela. “Também aumentamos a conscientização sobre a secagem em pátios no clima úmido do Vietnã, que deve ser bem monitorado para melhorar a qualidade da xícara.”

Cam também diz que as técnicas de cultivo mudaram mais amplamente: “Desde que participamos desse projeto, plantamos árvores de forma mais organizada e seguimos uma orientação melhor. Como resultado, usamos menos fertilizantes e o custo é reduzido.

“Também mantemos apenas um caule principal para cada árvore, em vez de vários caules, o que torna o fruto maior.”

Dao acrescenta que o cultivo do café à sombra torna as fazendas muito mais sustentáveis.

“Os estudos anteriores indicam que as variedades híbridas F1 têm claramente melhor qualidade quando são cultivadas à sombra. Além disso, as árvores de sombra também podem criar microambientes, e as árvores se adaptam às mudanças climáticas nessas regiões.”

Por fim, Ngoc diz que, como muitos produtores vietnamitas não bebem seu próprio café, a IWCA Vietnã ajudou os produtores do país a saborear as novas variedades. Isso, diz ela, os ajuda a compreender a importância de melhorar as práticas agrícolas.

“Dar o arábica moído de graça e incentivar os agricultores a beberem o café que produzem pode promover um relacionamento melhor entre os produtores e sua safra.”

“A IWCA Vietnã organizou duas sessões de degustação com centenas de mulheres para mostrar a elas como é o gosto de um bom café. Em média, a pontuação da xícara para os novos híbridos F1 é de dois a três pontos a mais e seus grãos verdes têm menos defeitos.”

produção de café Vietnã

Como os novos híbridos de café F1 podem beneficiar os agricultores?

Dao diz: “Uma vez que essas variedades sejam credenciadas pelo MARD, os agricultores serão capazes de aumentar o rendimento e a qualidade, melhorando assim sua renda.

“Essas variedades serão então propagadas e disseminadas em grande escala. O governo local em Son La e Dien Bien está planejando regenerar cerca de 9.000 hectares de antigas plantas de catimor até 2025.”

Essa regeneração levará aos poucos os agricultores vietnamitas a produzir café de melhor qualidade, com plantas mais bem equipadas para suportar o impacto das mudanças climáticas.

Melhorando a qualidade

Em última análise, o café de melhor qualidade aumentará a capacidade dos cafeicultores de receber preços mais altos.

Dao acrescenta: “Com o tempo, as empresas de processamento nacionais e internacionais prestarão mais atenção à região e comercializarão o café a preços premium”.

“Isso pode, indiretamente, beneficiar toda a região, melhorando a renda, sendo mais sustentável e proporcionando empregos mais estáveis.”

Hoang acrescentou que os produtores já começaram a receber preços mais altos. “No ano passado, vendemos essas novas variedades a preços melhores porque elas amadureceram mais tarde. No final da temporada, o preço das cerejas era mais alto.

“Os novos híbridos F1 têm um sabor melhor do que o catimor, e eu quero aumentar as áreas dessas novas variedades na minha própria fazenda.”

Boa resistência às mudanças climáticas

Em 2050, os cientistas prevêem que até 60% da terra que é usada atualmente para o cultivo da planta arábica poderá sofrer o impacto das mudanças climáticas.

“As mudanças climáticas, na forma de secas mais frequentes e temperaturas mais altas, podem levar a enormes perdas de safra”, diz Ngoc. “As novas variedades resistentes ao clima são criadas para combater esses problemas de uma maneira melhor.”

O café cultivado à sombra é por natureza mais estável e contribui para um ecossistema agrícola mais sustentável. Além disso, os sistemas agroflorestais melhoram a proteção do solo e a erosão, aumentam o sequestro de carbono, criam sistemas naturais de controle de pragas e estimulam uma maior biodiversidade.

Proteção e diversificação de renda

Ao plantar essas novas variedades, os agricultores também plantam sombra e árvores frutíferas entre os pés de café. Essas árvores adicionais podem ajudá-los a diversificar sua renda, melhorar a saúde do solo e se defender contra os perigos ambientais.

Hoang observa que o café cultivado à sombra pode se adaptar melhor às condições ambientais locais no Vietnã. “A sombra das árvores pode reduzir a morte da safra por causa da geada e manter a umidade do solo melhor na estação seca.”

Ngoc acrescenta que o consórcio pode ser eficaz, ajudando os agricultores a diversificar sua renda e criando ecossistemas mais resistentes.

“Detech Coffee e Macadamia Dien Bien estão desenvolvendo uma estrutura para uma fase de teste de 30 hectares, onde intercalamos os lotes desses novos híbridos F1 com plantas de macadâmia”, diz ela. “A intercalação pode aumentar o volume de árvores por hectare, o que potencialmente aumenta a renda e cria um ecossistema mais diversificado.”

novas variedades de café

Pesquisas já indicam que esses novos híbridos de café arábica F1 são de melhor qualidade e estão mais bem preparados para lidar com o impacto das mudanças climáticas. Os agricultores que trabalharam no teste no Vietnã também demonstraram grande interesse em continuar a cultivá-los.

Felizmente, esse teste pode abrir caminho para variedades de café mais resistentes em todo o mundo. Com o tempo, essas variedades poderiam ajudar produtores em muitos países a adotar sistemas agroflorestais e plantar árvores de sombra. Por sua vez, isso permitiria que eles mantivessem a altitude da fazenda, garantindo que não precisassem realocar suas safras em busca de padrões climáticos e temperaturas adequados.

Créditos das fotos: CIRAD, NOMAFSI

Tradução: Daniela Andrade. 

Observação: a CIRAD é patrocinadora do Perfect Daily Grind.

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