Comércio de Café Verde Archives - PDG Brasil https://perfectdailygrind.com/pt/category/comercio-de-cafe-verde-2/ Revista digital sobre café, da fazenda à xícara Wed, 18 Jan 2023 19:08:50 +0000 pt-BR hourly 1 https://perfectdailygrind.com/pt/wp-content/uploads/sites/5/2020/02/cropped-pdgbr-icon-32x32.png Comércio de Café Verde Archives - PDG Brasil https://perfectdailygrind.com/pt/category/comercio-de-cafe-verde-2/ 32 32 Elasticidade-preço da oferta: Como o preço do café afeta a disponibilidade? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/01/18/elasticidade-preco-da-oferta-no-cafe/ Wed, 18 Jan 2023 11:05:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11907 Se você estivesse em um negócio que de repente se tornasse 10 vezes mais lucrativo da noite para o dia, como você reagiria? Provavelmente, você permaneceria no negócio e trabalharia para aumentar suas vendas o máximo possível. Mas e se esse aumento na lucratividade durasse pouco? E se o seu negócio passasse de razoavelmente lucrativo para deficitário no mesmo espaço […]

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Se você estivesse em um negócio que de repente se tornasse 10 vezes mais lucrativo da noite para o dia, como você reagiria? Provavelmente, você permaneceria no negócio e trabalharia para aumentar suas vendas o máximo possível. Mas e se esse aumento na lucratividade durasse pouco? E se o seu negócio passasse de razoavelmente lucrativo para deficitário no mesmo espaço de tempo? Você desistiria e mudaria para outra coisa? Tudo isso tem a ver com o conceito da elasticidade-preço da oferta.

Em meu último artigo sobre  elasticidade-preço da demanda, focamos em como os consumidores e outros reagem às mudanças de preços. Desta vez, estamos olhando para a extremidade oposta da cadeia de suprimentos, para analisar como os cafeicultores e e demais trabalhadores da cadeia produtiva reagem à flutuação dos preços. Leia mais para descobrir.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre o que aconteceria se o café ficasse mais caro.

Mão em meio a grãos crus de café

Entendendo a elasticidade de preço de oferta

Simplificando, a elasticidade-preço da oferta é o quanto de um produto é disponibilizado ou retirado do mercado pelos vendedores em resposta a uma mudança no preço. Geralmente, à medida que os preço aumentam mais unidades são colocadas no mercado, e o inverso acontece quando eles caem.

No entanto, é importante lembrar que pode haver limitações à maior disponibilização de produtos em resposta às flutuações de preços.

No setor cafeeiro, quando o preço é alto e os agricultores aumentam sua produção. E como consequência da maior disponibilidade de café no mercado os preços começam a ser pressionados para baixo. Por outro lado, quando o preço é baixo, menos café é produzido e essa escassez pressiona os preços para cima.

Elasticidade-preço da oferta: os movimentos de preços são naturais? Devemos aceitá-los?

Na microeconomia convencional, geralmente damos como certo que esse conceito sempre funciona perfeitamente e que os mercados se auto regulam incondicionalmente.

No entanto, os mercados às vezes não conseguem fazê-lo, o que tem um impacto em toda a cadeia produtiva e é especialmente desconfortável par os agricultores, que ficam expostos a grandes riscos financeiros por serem mais vulneráveis economicamente.

Se as flutuações de preços são simplesmente a forma de o mercado se regular, é tentador aceitar que são eventos comuns e necessários à manutenção da “saúde” do mercado. No entanto, embora o preço do café mude em busca de equilíbrio entre oferta e demanda, esse processo pode acabar sendo, muitas vezes, violento e traumático.

Além disso, os movimentos de preços nem sempre são suficientes para atingir o equilíbrio de oferta e demanda, principalmente em períodos de preços baixos. Isso tem a ver com a elasticidade-preço da oferta.

Então, o que realmente acontece no setor cafeeiro?

No caso de agriculturas arbóreas, como o café, os mercados podem deixar de se auto-regular, ou fazê-lo tão lentamente que o efeito resultante é diferente ou mesmo oposto ao que seria considerado um comportamento racional.

A oferta aumenta e diminui em resposta ao preço (entre outras coisas), que flutua por muitas razões possíveis. Isso teoricamente representa o equilíbrio. Em teoria isso faz sentido, mas na prática pode ser muito diferente.

Quando o preço do café está alto, os agricultores muitas ampliam o plantio em suas lavouras. No entanto, essa resposta racional a um movimento de preços não aumenta a oferta imediatamente já que as novas árvores terão produtividade em escala comercial num intervalo de três a cinco anos.

A essa altura, o mercado pode ter já voltado a cair e o aumento no volume de grãos ofertados pressionará ainda mais um preço que pode já estar baixo. Isso fatalmente causaria prejuízos a quem plantou mais em função da alta anterior

Foi exatamente o que aconteceu durante a década de 1980, quando houve um influxo de novos cafés que haviam sido plantados após a geada de 1975 no Brasil.

E quando os preços caem?

O inverso também ocorre quando os preços caem, pois a única maneira de aumentá-los é reduzir a oferta. Como plantar e cultivar cafeeiros é um investimento significativo com retorno tardio, e os cafeeiros têm uma vida relativamente longa, é improvável que os produtores os cortem.

Perder seu investimento por causa de uma ou duas temporadas de preços baixos seria um pensamento de curto prazo. Em vez disso, os produtores vão resistir e esperam recuperar seu investimento nas temporadas seguintes.

Existem várias outras razões pelas quais os produtores, especialmente os pequenos, provavelmente não tentariam reduzir a oferta de café no mercado, mesmo quando os preços estão baixos.

Por exemplo, eles podem estar endividados por plantar esses cafeeiros não lucrativos e sem capital para fazer a transição para algo mais lucrativo. E mesmo que haja recursos para investir, pode ser que os produtores não decidam cultivar outras espécies por não terem o conhecimento de como realizar essa nova atividade.

Muitas regiões produtoras de café estão isoladas e economicamente dependentes do café, carecendo de outras oportunidades de renda. Assim, embora o mercado deva, teoricamente, se auto-regular, isso pode ser adiado enquanto milhões de famílias vulneráveis sofrem antes que eventualmente a oferta se reduza a um suposto nível de equilíbrio.

Incentivos e custos de oportunidade na elasticidade-preço da oferta

Quando os preços estão baixos, há um incentivo para reduzir a produção. Uma redução significativa só ocorre quando a produção e venda de café representa um custo de oportunidade.

Quando a rentabilidade cai abaixo dos lucros potenciais de fazer ou cultivar outra coisa, nos referimos à diferença como o “custo de oportunidade”. Este é o lucro perdido de não fazer aquela outra coisa mais lucrativa.

No entanto, como recursos significativos são geralmente investidos em uma plantação de café, esse custo de oportunidade geralmente precisa ser significativo o suficiente para que os produtores decidam abandoná-la e plantar outra coisa.

Quando há poucas ou nenhumas culturas alternativas para plantar ou oportunidades fora da fazenda, a elasticidade-preço da oferta seria muito baixa, o que significa que os produtores dificilmente reduzirão a oferta voluntariamente. O custo de oportunidade também seria muito baixo se não houvesse mais nada que eles pudessem fazer.

Isso significa que, se o preço do café cair e permanecer dolorosamente baixo, o mercado pode não experimentar uma redução de oferta suficiente para trazê-lo de volta por muito tempo. Durante esse período, operaria em estado de desequilíbrio.

Segundo algumas estimativas, o mercado global de café tem, de fato, operado por longos períodos em condições de excesso de oferta, como as que se seguiram às geadas no Brasil em 1975 e 1994

Em contrapartida, há momentos em que os preços estão altos e a rentabilidade do café se mostra mais atraente do que as culturas já instaladas. A decisão de plantar café pode ser simples se no local houver uma lavoura anual como cenoura, feijão ou milho.

E quanto à qualidade?

Além da decisão de produzir mais ou menos café, também temos que considerar o tipo ou a qualidade do café que os aumentos de preços incentivam. Quando o preço de venda é baixo, os produtores precisam buscar valor agregado, o que geralmente acompanha grãos com notas mais altas ou qualidade diferenciada.

Ao mesmo tempo, os compradores têm um poder de compra descomunal, porque podem conseguir café muito abaixo do teto de seus orçamentos. Em situações como essa, é comum que haja o oferecimento de bônus a produtores que atendam determinadas condições.

Por outro lado, quando os preços estão altos, os compradores têm menos capacidade de oferecer essas vantagens. Isso porque eles precisam pagar preços mais próximos do seu orçamento máximo que têm para a compra.

Além disso, nesta situação, os produtores estão mais bem equipados para impor suas próprias condições para o fornecimento dos grãos. Portanto, os compradores têm muito menos influência para exigir dos produtores métodos de processamento especiais e de alta qualidade.

Vimos esse fenômeno na Colômbia por meses após a agitação civil em maio de 2021. Uma grande parte dos produtores começou a vender pergaminho úmido no mercado ao preço da commodity. No entanto, ao fazer isso, eles estão ganhando, em muitos casos, muito mais do que ganharam com cafés especiais 12 meses antes.

Grãos de café secando em terreiro

Elasticidade-preço da oferta: especulação e cobertura

Neste ponto, precisamos entender que essas flutuações de preços não se baseiam exclusivamente na oferta e demanda de café. Em vez disso, eles são influenciados pelo contrato futuro do café, que reflete em grande parte a especulação técnica.

A maioria dos estudos mostrou que o preço futuro não necessariamente se movimenta contra os fundamentos físicos. Em vez disso, eles postulam que essas respostas são exageradas – o que significa que os altos são mais altos e os baixos são mais baixos do que seriam de outra forma.

Por que isso importa? Bem, é complicado, mas para simplificar, isso significa que a oferta de café real nem sempre está respondendo completamente à demanda por café. Em vez disso, está respondendo à demanda por contratos futuros de café – a grande maioria dos quais não vai se converter em compras físicas.

Da mesma forma, a demanda por café real não responde apenas à oferta de café, mas também à oferta de contratos futuros de café.

Digamos que a elasticidade-preço da oferta seja tal que um aumento de 10% no preço de mercado (com base no preço futuro) eventualmente cause um aumento de 10% na oferta global.

No entanto, hipoteticamente, a especulação técnica, e não a escassez de café físico, é responsável por metade dessa variação de preço.

Nesse caso, um aumento de 5% na oferta seria suficiente para cobrir a escassez. Então, em vez de simplesmente preencher uma necessidade, essa reação cria um excesso de oferta. Isso eventualmente faz com que os preços caiam. Com o tempo, a especulação técnica entra no jogo e escancara essa oscilação descendente.

Em resumo, sinais de mercado exagerados causam reações exageradas das partes envolvidas, o que resulta em volatilidade ainda maior. Esta é a força vital da especulação de curto prazo.

No setor cafeeiro, as mudanças de preços criam incentivos que teoricamente garantem que a quantidade ofertada seja igual à demandada.

O quanto os vendedores aumentam ou diminuem a quantidade que oferecem ao mercado em resposta às mudanças de preço é a elasticidade-preço da oferta. Isso depende de muitos fatores, mas é complicado porque o café é uma cultura de longo prazo.

Cada mudança apresenta uma oportunidade para alguns e adversidade para outros. No entanto, alguns atores estão mais bem posicionados para aproveitar as oportunidades e mais capazes de se proteger das adversidades. Além disso, isso se agrava ao longo do tempo com cada rali do mercado e cada queda.

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Créditos da foto: Karl Wienhold

 Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

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Entendendo o comércio direto de cafés especiais na África oriental https://perfectdailygrind.com/pt/2023/01/02/comercio-direto-de-cafes-especiais-africa/ Mon, 02 Jan 2023 11:07:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12017 As relações de compra e venda de café são passos cruciais na cadeia de abastecimento global e o modelo de comércio direto de cafés especiais vem ganhando cada vez mais espaço nos contatos entre produtores e compradores.  Nesse modelo, produtores negociam diretamente com compradores sem a necessidade de intermediários. No entanto, essas negociações podem infelizmente ser difíceis para os produtores, assim como o acesso a elas. […]

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As relações de compra e venda de café são passos cruciais na cadeia de abastecimento global e o modelo de comércio direto de cafés especiais vem ganhando cada vez mais espaço nos contatos entre produtores e compradores. 

Nesse modelo, produtores negociam diretamente com compradores sem a necessidade de intermediários. No entanto, essas negociações podem infelizmente ser difíceis para os produtores, assim como o acesso a elas.

Para saber mais, conversei com três especialistas africanos para entender melhor o comércio direto de cafés na África Oriental e por que o crescimento desta modalidade de negócios lá mais lento aqui do que em outras grandes regiões produtoras ao redor do mundo. Continue a ler para saber mais.

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Bandejas com diferentes lotes de grãos grus de café

Como o café é negociado na África Oriental?

O comércio de café na África Oriental é amplo e complexo, com modelos geralmente variando de país para país. No entanto, o comércio direto de cafés especiais é muito menos comum do que outros sistemas.

Mette-Marie Hansen é diretora administrativa da Kenyacof (Sucafina Quênia). Ela diz que o comércio direto é em grande parte um conceito auto explicativo: refere-se ao comércio direto de café entre compradores em mercados consumidores de café (torradores) e produtores, sem fatores intervenientes ou intermediários.

No entanto, o uso de intermediários é de longe a abordagem mais comum na África Oriental. Embora esse modelo enfrente críticas, Mette-Marie explica que esses intermediários muitas vezes agregam valor e experiência ao processo comercial.

Segundo ela, “os intermediários supervisionam o financiamento dos produtores ao longo do ciclo da cultura, oferecem aconselhamento agronômico com base em observações e medições, além de cuidar de todos os preparativos de exportação, embalagem, controle de qualidade, documentação e execução geral dos embarques”.

Ela acrescenta que isso não significa necessariamente que a relação entre o produtor e o torrador seja menos direta. “Eles estão apenas terceirizando alguns dos detalhes necessários para enviar e desembarcar o produto”, diz.

Etiópia

A Etiópia tem dois métodos distintos de comercialização de café: o Ethiopian Commodity Exchange (ECX) e o sistema de integração vertical.

A ECX foi criada em 2008 para facilitar o comércio de várias commodities, incluindo café. Embora tenha apoiadores e detratores, o sistema é funcional e popular para o comércio de cafés tradicionais.

A plataforma reúne o governo, os atores do mercado e os membros da ECX em um só lugar, onde eles podem fazer negócios com o apoio de um preço mínimo e transparência, além do benefício de pagamentos eletrônicos instantâneos.

Para os agricultores, há menos risco de inadimplência dos contratos, enquanto para os compradores há a garantia de fornecimento consistente. A ECX ainda fornece armazenamento e transporte para o café, aliviando significativamente os custos aos produtores.

A integração vertical, por sua vez, é a abordagem do país para o comércio direto. Foi legitimado pela ECX em 2017, após pressão dos exportadores de cafés especiais. Como eles podem manusear seu próprio produto e supervisionar o controle de qualidade e a classificação, os compradores que usam o modelo geralmente têm menos preocupações, enquanto os agricultores têm o poder de realizar acordos de preços antecipadamente.

Há um problema, no entanto: a integração vertical não se beneficia do sistema de pagamento imediato habilitado pelo ECX, o que significa que os agricultores ainda podem acabar esperando um pouco para receber os valores referentes às negociações.

Burundi

Por muitos anos, as exportações de café do Burundi estiveram sob o controle total do governo. Foi somente em 1991 que o sistema passou para os leilões, onde o governo continuou a fixar o preço mínimo.

No entanto, em 2008 o comércio direto tornou-se possível e produtores e exportadores finalmente ganharam mais controle sobre o processo. Hoje, os compradores ainda podem optar por comprar por meio de leilões facilitados pelo governo ou negociar diretamente.

Alguns obstáculos ainda existem para o comércio direto de cafés especiais. Por exemplo, os produtores continuam lutando com a falta de infraestrutura, e os problemas de transporte significam que nem sempre é fácil para os compradores viajar para as fazendas.

Quênia

No  Quênia existem dois sistemas distintos para o comércio de café: o sistema de leilão e a chamada “Segunda Janela”.

Embora o sistema de leilões seja algumas vezes criticado por seu impacto nos meios de subsistência dos agricultores, ele ainda responde por mais de 94% das vendas de café no país. Se bem administrado, esse sistema garante que o café seja vendido ao preço mais alto possível, mas nem sempre é assim.

O segundo método, chamado de “Segunda Janela”, é efetivamente o sistema de comércio direto do Quênia. Foi estabelecido em 2006, após anos de pressão de agricultores e cooperativas. O comércio direto entre agricultores e compradores internacionais tornou-se mais popular nos últimos 15 anos, mas esse método ainda é pouco explorado.

Agricultores e cooperativas frequentemente citam a falta de conhecimento e os altos custos iniciais como os principais problemas para escolherem o comércio direto.

Tanzânia

Na Tanzânia, existe um sistema de leilões estabelecido com vários centros de leilões em cidades como Mbeya, Mbinga e Moshi.

Semelhante ao Quênia, o sistema de leilão representa a maior parte das vendas de café no país, enquanto o comércio direto é menos estabelecido.

Trabalhadores carregando baldes com cerejas de café sobre suas cabeças

Uganda

Em  Uganda, o comércio é liberalizado. Isso significa que qualquer pessoa pode comprar e vender café em qualquer forma ou quantidade. Produtores individuais, cooperativas ou produtores agrícolas e de propriedades são livres para vender seus produtos a qualquer pessoa a preços negociados.

No que diz respeito às exportações, qualquer pessoa com licença de exportação pode exportar café, torrado ou verde. Os compradores podem comprar café como cereja, cereja seca, pergaminho ou café verde moído. O café é vendido por meio de “tratados privados” sem restrições ao volume negociado.

Ruanda

Como na Tanzânia, o comércio direto também é possível em Ruanda. Isso geralmente abrange cafés de alta qualidade, deixando os grãos com notas mais baixas reservados para o mercado local. As cooperativas têm uma presença estabelecida em Ruanda e têm relações com vários compradores diretos.

Há críticas de que, em alguns casos, muitos atores estão envolvidos no comércio, processamento e transporte do café ruandês, e isso pode tornar insustentável o preço pago aos agricultores. Em muitos casos, a força de trabalho mais jovem do país pode ser desestimulada por isso.

No entanto, há exemplos de produtores de café ruandeses inovando no mercado. Por exemplo, algumas partes interessadas começaram a negociar café na plataforma Tmall do Alibaba, que abre os produtores para a enorme rede de compradores da marca chinesa de comércio eletrônico.

Bandejas com diferentes lotes de grãos crus de café

Por que o comércio direto de cafés especiais tem menor peso no continente africano?

William Peters é um comerciante de café baseado na Tanzânia. Segundo ele, as principais razões pelas quais o comércio direto está menos estabelecido na África Oriental são a falta de investimento e a dependência excessiva do café para pagar as dívidas existentes.

“Você descobrirá que a maioria dos agricultores tem adiantamentos de empréstimos e dívidas pendentes das cooperativas que precisam ser pagas”, diz ele. “Eles, portanto, estão ‘presos’ à cooperativa e precisam esperar o pagamento de seu café para pagar esses empréstimos”.

Além disso, a logística pode ser incrivelmente cara, e William diz que as sociedades cooperativas de comercialização agrícola (AMCOS) simplesmente não podem financiá-la em nome dos agricultores. Somente depois que os importadores pagarem pelo café, a safra poderá ser movimentada.

Na Tanzânia, os agricultores também costumam ser pagos no prazo de sete dias após a venda do café. Ao contrário do comércio direto, onde eles podem esperar um tempo considerável antes de serem pagos, o sistema de leilão garante um pagamento mais rápido. No entanto, os preços podem ser mais baixos.

Robert Nsibirwa é especialista em café em Uganda e CEO da Africa Coffee Academy. Ele explica que as grandes torrefadoras tendem a agregar suas compras para garantir uma oferta constante, e que é apenas uma simples questão de escala.

“Se a Nestlé precisar de 30 milhões de quilos de café, será muito difícil trabalhar com 2,8 milhões de pequenos agricultores que fornecerão a quantidade necessária. É exatamente por esse motivo que os principais torrefadores comerciais optam por trabalhar com importadores em vez de lidar diretamente com os agricultores”, diz ele.

O importador também poderá lidar com quaisquer problemas de abastecimento. Por exemplo, se uma torrefadora precisa de um milhão de sacas e apenas 500.000 estão disponíveis, cabe ao importador suprir o deficit, e não a ela. 

Se este fosse o caso de agricultores individuais ou pequenas cooperativas, o contrato poderia ter que ser cancelado, resultando em sérias consequências financeiras.

“É a economia de escala com os torrefadores e a certeza de fornecimento”, explica Robert. “É por isso que muitos importadores preferem ir para o exportador, que vai buscar um contêiner de talvez 1.000 agricultores.”

Cerejas de café secando em terreiro suspenso

Outras barreiras ao comércio direto de cafés especiais

Para muitos atores da cadeia de suprimentos na África Oriental, o status quo e os modelos comerciais existentes são simplesmente muito lucrativos para considerar uma mudança para o comércio direto de cafés especiais. Mas existem outras razões específicas para haja menos interesse nesse modelo?

Bem, as leis locais podem exigir em alguns casos que, quando vendido diretamente, o café deve ser comercializado a um preço mais alto do que em leilão. Isso torna o comércio direto muito menos competitivo. William diz: “isso funciona contra o produtor porque os clientes vão preferir quem ofereça o mesmo café a um preço mais barato”.

O cultivo de cafés especiais também requer treinamento sobre a importância da qualidade e atributos sensoriais únicos; pode até exigir o apoio de um agrônomo.

Isso significa que apenas uma pequena percentagem de café pode atingir a qualidade pela qual os torrefadores de cafés especiais pagam prêmios. O acesso a esse conhecimento e treinamento na África Oriental é difícil sem o apoio de uma entidade maior, como um grande exportador ou importador.

Outro problema é a falta generalizada de certificações, seja de questões ambientais ou sociais. Compradores individuais de café verde que desejam praticar o comércio direto geralmente pedem por esses selos.

Embora muitas fazendas de café na região já estejam atendendo aos padrões mínimos para essas certificações, o custo para se tornar realmente certificado é outra barreira.

Mulher carregando um cesto para a coleta seletiva de cerejas de café nas costas

Como as coisas estão mudando?

Robert diz que quando cooperativas ou propriedades vendem diretamente, elas geralmente obtêm preços mais altos do que o café vendido localmente. Isso porque vendem para o mercado de cafés especiais, que pode pagar prêmios acima do preço normal de mercado.

“Através da responsabilidade social corporativa e das relações diretas, os agricultores que têm compradores diretos muitas vezes usufruem de subsídios e assistência. Estamos vendo mais organizações como a Fairtrade Labeling Organization (FLO) ajudando a fortalecer esses grupos de agricultores e até construindo projetos comunitários, como pontos de água.”

Mette-Marie concorda que o comércio direto é benéfico para os produtores da África Oriental, pois geralmente significa negócios repetidos para eles. No entanto, ela diz que, como a maioria dos cafés é de qualidade comercial, a maioria dos compradores vê mais benefícios no sistema de leilão.

“Os leilões proporcionam a descoberta de qualidade perfeita para os compradores, porque podemos ver as amostras do leilão e prová-las uma semana antes do leilão”, diz ela.

O café especial, contudo, adequa-se com maior facilidade ao comércio direto, e ela não vê motivo para que os dois sistemas não possam ser complementares.

“Os melhores produtores podem obter ótimos prêmios pelo café de qualidade que produzem diretamente para os compradores estrangeiros”, explica ela. “No geral, não vejo isso afetando o sistema de leilões de forma alguma.”

Homem usando um equipamento manual para descascar as cerejas de café

Em todo o mundo, os produtores de café costumam ser tomadores de preços e não negociadores. No entanto, o comércio direto mostrou que é possível encurtar a distância entre torrador e produtor e dar mais agilidade e controle ao processo.

Embora leilões, comerciantes e bolsas de commodities continuem sendo parte integrante da cadeia global de fornecimento de café, o comércio direto oferece algo diferente: a chance de se comunicar mais de perto com o comprador e, muitas vezes, receber um preço mais alto por sua safra.

Infelizmente, o sucesso deste sistema não é de forma alguma garantido e enfrenta muitos obstáculos na África Oriental. Resta ver se isso vai mudar nos próximos anos.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre como enfrentar os desafios do comércio de café na África Oriental.

Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

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Por que há comercio de café verde entre países produtores? https://perfectdailygrind.com/pt/2022/12/07/comercio-de-cafe-verde-paises-produtores/ Wed, 07 Dec 2022 11:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11843 De modo geral, os países produtores de café têm como objetivo exportar para os principais países consumidores e aumentar a demanda internacional. Mas o comércio de café verde entre os países produtores também é uma realidade.  Algumas origens importam café para satisfazer certas necessidades específicas de sua indústria ou do mercado interno, ao mesmo tempo em que há os que simplesmente não produzem o […]

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De modo geral, os países produtores de café têm como objetivo exportar para os principais países consumidores e aumentar a demanda internacional. Mas o comércio de café verde entre os países produtores também é uma realidade.

 Algumas origens importam café para satisfazer certas necessidades específicas de sua indústria ou do mercado interno, ao mesmo tempo em que há os que simplesmente não produzem o suficiente para cobrir sua demanda doméstica.

Essa dinâmica comercial é um assunto polêmico discutido pelos produtores de café há décadas. Muitos reconhecem isso como uma forma de os países produtores gerarem mais renda ao mesmo tempo que há quem aponte desvantagens nessa prática.

Para saber mais, conversei com quatro especialistas do setor sobre esse tipo de comércio de café verde. Continue a ler para saber o que disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como podemos aumentar o consumo de café nos países produtores.

Grãos de café secando em terreiro

Análise de dados comerciais entre países produtores

José Dauster Sette, ex-diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), conta que entre 2015 e 2018 o mundo exportou em média cerca de 121 milhões de sacas de 60kg por ano. Essas quantidades incluem café arábica e robusta verde, torrado e solúvel.

Da cifra acima, aproximadamente 8,5 milhões de sacas são comercializadas entre países produtores, o que representa cerca de 7% do total das exportações. Nesse cenário, o robusta verde foi a categoria mais comercializada, totalizando pouco menos de 5 milhões de sacas (cerca de 59% do mercado).

O café verde para solúvel ficou em segundo lugar, com 1,7 milhão de sacas, o equivalente a 21%. O arábica representou 19% e o café torrado apenas 0,43%. José explica: “Isso mostra que o comércio é principalmente concentrado em solúvel, por razões de processamento, e robusta por razões de preço e qualidade”.

“Quando subdividimos o comércio de café verde entre os países produtores nesses diferentes segmentos, as proporções são bem diferentes do comércio geral. No total, o café solúvel representa 21% das exportações em comparação com 8% das exportações globais”, ele acrescenta.

Curiosamente, José aponta que 74% de todo o café exportado pelo Vietnã, Brasil e Indonésia foi para outros países produtores nesse período. Outro grande exportador é Honduras, que despachou 460.000 sacas para países produtores, incluindo México, Peru, Índia e Colômbia.

Tabela contendo dados sobre as exportações de café verde

Por que há comércio de café verde entre países de origem

João Mattos é o Coordenador Latino-Americano de Produção e Mercado de Café da CLAC Comércio Justo, uma rede que representa todas as organizações certificadas de Comércio Justo da América Latina. Ele explica que há dois motivos pelos quais os países produtores importam café.

Em primeiro lugar, diz ele, atende a demanda doméstica e fornece estoques para o setor de café solúvel, que costuma ser popular. Em segundo lugar, o preço do café recebido é frequentemente muito mais barato devido à sua qualidade inferior.

José concorda, mas acrescenta que é difícil definir o destino das importações. Depois que os grãos entram em um país, é difícil rastreá-los. Portanto, não se sabe quanto dele é usado para solúvel em comparação com quanto é usado para misturas, por exemplo.

Vejamos o México, nono maior produtor de café do mundo, como exemplo. De acordo com os números da ICO, sua produção foi de cerca de 4 milhões de sacas desde 2017.

No entanto, entre 2015 e 2018, a quantidade média anual de café verde importado atingiu 715.000 sacas – a terceira maior para os países produtores. Esses grãos vieram principalmente do Brasil, Vietnã e Honduras.

“O Robusta é ideal para fazer café solúvel, porque tem um rendimento de xícara muito maior”, diz José. “Portanto, um saco de robusta produz mais café solúvel do que um saco de arábica.

“Porém, o México não está importando apenas para satisfazer seu mercado interno. Algumas das importações são realmente processadas e re-exportadas como café solúvel, principalmente para a América Central ”, afirma ele.

Vera Espíndola Rafael é economista agrícola e consultora de café baseada no México e Diretora de Desenvolvimentos Estratégicos da Azahar Coffee. Ela explica que seu país possui uma das maiores indústrias de café solúvel da região.

“No México temos duas fábricas e há outra em construção ”, afirma. “É uma planta enorme, uma das maiores da América Latina para café solúvel, simplesmente porque a Nestlé tem uma presença muito forte. Então o café está sendo importado simplesmente porque é mais barato ”.

Em contraste com a produção, o consumo doméstico no México é baixo – cerca de apenas 1,6 kg de café per capita ao ano. A maior parte das importações é destinada ao atendimento da demanda interna de café solúvel, como explica Vera.

Embora nem todos estejam felizes com a situação, diz ela, as enormes exigências de grandes produtores como a Nestlé os deixam com pouca escolha. “Há a crítica de que o café usado deve ser mexicano”, diz Vera. “A Nestlé entende essa parte e alega estar comprometida em comprar mais café mexicano”.

“Mas, ao fim e ao cabo, a produção do México não é suficiente para atender a demanda de uma fábrica como essa.”

A produção de café em alguns países também foi enfraquecida por surtos de doenças, e João diz que o México é um dos países afetados.

Tabela contendo dados do comércio de café verde global

Comércio de café verde: qualidade e preço

Os diferenciais de preços para o café de cada país também são um fator determinante na comercialização do café verde.

Um exemplo é a Colômbia, que é o terceiro maior país produtor de café do mundo. Em 2019, sua produção totalizou quase 14,8 milhões de sacas de 60kg. Destes, 13,7 milhões (93%) foram exportados.

Consequentemente, sobraram apenas 1,1 milhão de sacas (7%) para atender à demanda local. O consumo interno na Colômbia é estimado em cerca de 1,8 milhão de sacas, deixando uma lacuna de cerca de 700.000 sacas. A Colômbia, portanto, tem que importar café de outros países produtores.

Isso também ocorre porque o prêmio que o café colombiano recebe pela qualidade ao exportar internacionalmente é muito maior do que em países vizinhos com qualidade de exportação semelhante. Equivale, em média, a USD  0,26 a mais por libra-peso no mercado internacional.

João explica: “Em janeiro, o sexto destino mais importante para o Brasil era a Colômbia. Acho que  boa parte vai para o mercado interno, mas também é usado para a indústria de café solúvel.”

Em geral, é aceito que as exportações internacionais resultam em melhores preços para os cafeicultores e que o comércio internacional é benéfico para a economia nacional. Isso também se aplica ao comércio entre origens, especificamente quando o país que compra o café pode pagar um preço mais alto do que o mercado local.

“Se você olhar para os diferenciais de preço de diferentes países hoje, é bastante diverso”, acrescenta João. “Temos países com diferenciais negativos como o Brasil e outros grandes diferenciais como a Costa Rica.”

Por causa das diferenças de preços dos cafés de diferentes origens, algumas pessoas até começaram a contrabandear café entre países vizinhos para obter melhores preços.

René León Gómez é Secretário Executivo da Promecafé. Ele explica que essa prática ilegal é surpreendentemente comum em países produtores, especialmente na América Central onde o preço do grão oferecido por um país de origem pode ser inferior ao pago em outras regiões. “Em Honduras, muitas pessoas na indústria de exportação ou comercialização de café reclamavam e constantemente traziam isso à tona”, diz René.

“Eles alegavam que muito café de Honduras estava escapando para a Guatemala por canais ilegais ou informais,mas nem tudo é desconsiderado. As pessoas que comercializam esse café ou os próprios produtores de café têm seus motivos e nós os entendemos”, ele acrescenta.

René finaliza: “Por exemplo, novamente com o café de Honduras, o preço que está sendo pago no mercado nacional pode ser inferior ao preço pago por um comprador – alguém que está pensando em levar o café para a Guatemala ou o México.”

Tabela contendo dados sobre o comércio de café verde no mundo

Benefícios e desvantagens do comércio de café verde entre países produtores

Apesar de todos os benefícios percebidos, existem alguns críticos dessa dinâmica de negociação única. João e José apoiam. Eles dizem que isso dá aos países comerciais a capacidade de fortalecer os laços comerciais, aumentar o fluxo de caixa e agregar valor ao café de qualidade inferior.

“Sempre há alguma preocupação no setor produtor, em termos de importação. Por exemplo, algumas pessoas acham que isso diminui os preços no mercado interno”, diz José.

“Mas acho que, na maioria das vezes, o que entra no país libera café de melhor qualidade para obter preços mais altos no exterior. Então, há uma certa complementaridade. Não vejo isso tanto em termos de ameaça”, ele acrescenta.

Também existem preocupações sobre a qualidade inferior do café comercializado entre os países produtores, que se concentram em não melhorar a qualidade do café consumido internamente. No entanto, em resposta, José explica que a maioria dos países produtores tem pouco poder de compra em comparação e não consegue sustentar um grande mercado de café de alta qualidade.

“Isso é uma realidade”, diz ele. “Devemos fazer algo a este respeito? Sim. Eu olho para o meu país, o Brasil. Era um país com baixo poder aquisitivo e baixa qualidade no café. Com o tempo, programas de melhoria na qualidade e de marketing aumentaram o volume de consumo. Agora está passando por essa fase de diferenciação, com o surgimento dos cafés especiais”.

“Sou a favor de primeiro fazer o mercado crescer e, posteriormente, segmentá-lo e buscar esse tipo de agregação de valor”, ele finaliza.

Vera concorda, dizendo que participou de um estudo relevante. O estudo indica que, nos próximos anos, os preços do café não devem subir. Nesse caso, será necessário estimular o consumo interno de cafés de melhor qualidade. Isso reduziria a pressão sobre os países produtores criada pelo mercado internacional.

“A criação de um programa de promoção do consumo de café teve sucesso tanto no Brasil quanto na Colômbia. Houve treinamento de profissionais e disponibilização de informação para os consumidores e, assim, aumentou-se o consumo de café. Isso levou a uma maior demanda no entendimento dos cafés especiais locais”, ela afirma.

tabela contendo dados a respeito do comécio de café verde

O comércio de café verde entre os países produtores é um fenômeno único no setor cafeeiro que raramente se discute. É, embora complicada, uma forma de os agricultores dos países produtores obterem melhores preços pelo café que cultivam.

São preços que não necessariamente seriam alcançados no mercado interno. Ao mesmo tempo, também ajuda a atender a demanda por café solúvel e o consumo doméstico.

No papel, essa não é necessariamente uma relação negativa. O principal objetivo desses países é garantir um mercado para a produção de seus agricultores e manter uma economia saudável.

No entanto, isso abre uma outra discussão: como os países produtores podem promover o consumo interno de café de melhor qualidade. Isso, por sua vez, melhorará enormemente a subsistência dos cafeicultores locais e a sustentabilidade da produção de café a longo prazo.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o que está impedindo os países produtores de cultivar o consumo de café.

Créditos das fotos: Tatiana Guerrero, OIC.

Postado originalmente no PDG Español.

Tradução: Daniela Andrade.

PDG Brasil

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Como o El Niño afeta a produção de café? https://perfectdailygrind.com/pt/2022/11/28/como-el-nino-afeta-producao-de-cafe/ Mon, 28 Nov 2022 11:04:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11790 Sabemos que as principais áreas de cultivo de café ao redor do Globo Terrestre se encontram numa faixa chamada de “Cinturão dos Grãos”, localizada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. Apesar de apresentar as condições ideais para a produção de café, nesta área também há registros frequentes de padrões climáticos incomuns como ciclones e furacões. E um dos fenômenos mais […]

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Sabemos que as principais áreas de cultivo de café ao redor do Globo Terrestre se encontram numa faixa chamada de “Cinturão dos Grãos”, localizada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.

Apesar de apresentar as condições ideais para a produção de café, nesta área também há registros frequentes de padrões climáticos incomuns como ciclones e furacões. E um dos fenômenos mais importantes é conhecido como El Niño.

Trata-se de um fenômeno complexo, causado por variações nas temperaturas oceânicas no Pacífico equatorial, cujos efeitos são mais sentidos com maior intensidade na América Latina.Ali as temperaturas e o regime de chuvas são bastante afetados, trazendo consequências à cadeia produtiva do café.

Para saber mais sobre o El Niño, conversei com alguns especialistas da indústria regional. Eles me contaram mais sobre o que é e como pode afetar a produção de café na América Latina. Continue a ler para saber mais.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como  os produtores de café podem se preparar para um clima inesperado.

Mulher, de perfil, em meio à pés de café, analisando os frutos em um deles

O que é o El Niño

El Niño (O Menino, em espanhol) é um fenômeno climático que a cada intervalo entre dois ou sete anos e tem duração que varia de dois meses a dois anos, dentro dessa janela.

De uma forma bastante simplificada, ele pode ser descrito como o aumento da temperatura de uma faixa de água do oceano no Pacífico central e oriental – incluindo a costa do Pacífico da América do Sul.

Ele é ainda uma fase de um fenômeno climático mais amplo conhecido como El Niño-Oscilação Sul (ENSO), um período de padrões de vento variados e temperaturas irregulares da superfície do mar no Oceano Pacífico, que foi observado pela última vez entre 2018 e 2019.

O El Niño faz com que uma área de águas superficiais quentes surja nas áreas central e oriental do oceano, criando uma “faixa” ao longo da costa da América do Sul e Central. Isso traz como consequências temperaturas mais altas e aumento nas possibilidades de ocorrência de tempestades.

Curiosamente, o El Niño tem um efeito diferente no sudeste da Ásia, na Oceania e no sul da China. Embora essas regiões também possam experimentar um aumento nas temperaturas, esse aumento é acompanhado por longos períodos de seca.

Esse fenômeno normalmente cria condições secas e quentes na América Central, norte do Brasil e Colômbia. No entanto, durante a primavera e o verão também faz com que o sul do Brasil, o norte da Argentina e o Chile recebam mais chuvas do que o normal.

A fase fria do ENSO, quando as temperaturas da superfície da água no Pacífico oriental são mais frias do que o normal, é conhecida como La Niña (a menina). Tanto o El Niño quanto o La Niña influenciam direta ou indiretamente os padrões climáticos em todo o mundo.

Homem com boné, de costas, olhando para a lavoura de café

Como o El Niño afeta a produção de café

O clima desempenha um papel vital em todos os aspectos da produção de café, dado que tanto a temperatura quanto as chuvas têm grande influência no rendimento dos cafeeiros e na qualidade dos seus frutos.

O impacto causado pelo El Niño depende da intensidade das condições que ele traz. Embora os meteorologistas sejam capazes de prever a incidência do fenômeno com algum grau de precisão, seus efeitos  geralmente são sentidos apenas depois que o café é colhido e processado.

Nos casos em que o El Niño causa temperaturas mais altas e chuvas reduzidas, as fazendas que costumam ter pouco sol e chuvas intensas costumam ter um aumento na produção. No entanto, fazendas em altitudes mais baixas com solos de baixa retenção de umidade podem experimentar o desenvolvimento de árvores atrofiadas e, como resultado, rendimentos mais baixos.

Ana Lucrecia Glaesel Coloma é Coordenadora de Marketing e Comunicação da Anacafe. Ela me disse que o El Niño pode ser surpreendentemente benéfico para certas regiões.

“Em muitas áreas de cultivo de café na Guatemala, em um ano normal, chove entre 3.000 e 5.000 mm por ano. Com o El Niño, esse volume pode cair para cerca de 2.000 mm e com isso temos melhores rendimentos e mais intensidade de sabores”, diz ela.

Maria Alejandra Olana trabalha em Vendas de Cafés Especiais na Federação Colombiana de Cafeicultores (FNC). Ela diz que embora o El Niño possa ser benéfico para a produção de café, também pode ter efeitos negativos devastadores em algumas áreas.

“Quando o El Niño traz condições muito secas, isso afeta negativamente o crescimento”, ela afirma. “Isso pode causar um desenvolvimento incorreto de todo o cafeeiro, levando a uma produção menor de cerejas.” O tempo seco também pode significar mais insetos, expondo as plantações a pragas como a broca.

A seca é menos problemática em regiões com solo com boa retenção de água, como em certas partes da Colômbia. No entanto, em regiões que o solo é “mais seco” (como México e partes do norte do Equador, Colômbia e Peru), longos períodos sem chuva podem resultar em rendimentos muito baixos.

E assim como a falta de chuvas é um problema, o excesso também pode ser problemático. No Brasil, por exemplo, o El Niño pode causar chuvas excessivas e com isso sobrecarregar a capacidade de retenção de água do solo, inundando as plantações de café e, potencialmente, causando uma floração irregular.

Isso, por sua vez, significa que as cerejas de café não amadurecem uniformemente – o que geralmente está associado a lotes de qualidade inferior.

Close-up em um ramo de um cafeeiro, com frutos verdes e ferrugem nas folhas

Mudanças climáticas e o El Niño

As mudanças climáticas complicaram ainda mais o ENSO – um padrão climático já irregular. Isso pode causar dificuldades para os produtores que procuram planejar e projetar seus níveis de produção.

As fases recentes do El Niño têm sido irregulares, mas não há consenso sobre se a mudança climática é melhor ou pior para os ciclos ENSO. No entanto, em algumas regiões, o El Niño pode acentuar os efeitos das mudanças climáticas que já são vivenciados atualmente.

Marianella Baez Jost, sócia do Farmers Project e proprietária do Finca Cafe Con Amor na Costa Rica, conta que as mudanças climáticas em geral significam que os cafeicultores precisam colher prematuramente, o que leva a interrupções subsequentes no plantio, poda e colheita.

Ela acrescenta: “Com a mudança climática já causando um aumento na temperatura, os aumentos adicionais de temperatura do El Niño levaram a ferrugem do café a encontrar condições para se instalar nos cafeeiros de altitudes onde normalmente ela não seria um problema”.

Por outro lado, um aumento nas temperaturas também pode permitir que os cafeicultores se mudem para áreas que antes eram inadequadas para a produção de café.

Mudas de café plantadas

Como o El Niño afeta o preço C

Em todo o mundo, a renda dos cafeicultores está vinculada ao preço C, que é bastante volátil dependendo de certos fatores. O El Niño, com seus padrões climáticos imprevisíveis, é um deles.

Ao afetar indiretamente a produtividade da colheita, o El Niño influencia a demanda e a confiança do mercado – o que afeta diretamente os produtores, segundo Maria. “Durante um forte e severo El Niño, os cafés disponíveis são escassos e podem ser de qualidade inferior impactando o preço pago aos produtores”.

Ana concorda, citando o impacto direto no preço de mercado quando o fenômeno atinge grandes produtores de café como o Brasil. “isso repercute no preço global devido à incerteza que gera nos compradores”, explica.

Como se preparar para o El Niño

Reduzir o impacto de padrões climáticos complexos como o El Niño pode ser crucial para os produtores. No entanto, por meio de um gerenciamento cuidadoso da fazenda e da planta, os efeitos adversos desses fenômenos podem ser gerenciados com eficácia.

“As principais recomendações são uso de café à sombra, análise de solo, aplicação de fertilizantes balanceados, incorporação de matéria orgânica, construção de curvas de nível e terraços), evitar o controle químico de ervas daninhas, permissão da presença de cobertura do solo e captação de água da chuva”, afirma Ana.

“Quando se trata de café processado em via úmida, os registros de garantia e o constante monitoramento da qualidade, além da dinâmica da secagem ao sol, a avaliação da umidade relativa do ar e da temperatura do armazém são fatores a ser considerados durante o El Niño.”

Marianella também enfatiza a importância dos testes anuais de solo. Ela diz que isso permite aos produtores o ajuste no manejo de nutrientes e o acompanhamento das deficiências que podem se tornar mais proeminentes durante padrões climáticos irregulares.

Ela também concorda que a sombra é vital. “Quando esperamos seca e menos chuvas, especialmente durante o El Niño, o sombreamento nos ajuda a manter a umidade. Isso significa que as plantas de café podem permanecer frescas e sem queimaduras de sol.”

Pesquisar e implementar sistemas de irrigação pode garantir que suas plantas de café obtenham a quantidade necessária de água durante as secas. Em certas áreas afetadas, também pode valer a pena procurar soluções para o manejo de pragas, bem como evitar o plantio de variedades mais suscetíveis a doenças.

Grãos de café secando num terreiro coberto

Os efeitos do El Niño são complexos e é muito difícil rotulá-los como negativos ou positivos, já que o impacto exato varia amplamente de região para região. Em algumas áreas, a produção de café se beneficia com o aumento das chuvas, enquanto em outras, a seca que ela causa pode prejudicar a qualidade e a produtividade do café.

Com planejamento e práticas agrícolas corretas, pode-se prever o que o El Niño pode trazer como consequências. Isso permite aos produtores explorar os efeitos benéficos do fenômeno ou minimizar quaisquer impactos negativos.

Gostou? Então leia nosso guia para  secagem de café.

Créditos das fotos: Finca Cafe Con Amor, Farmers Project

Tradução: Daniela Andrade.

PDG Brasil

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Elasticidade-preço da demanda: O que aconteceria se o café ficasse mais caro? https://perfectdailygrind.com/pt/2022/11/23/o-que-aconteceria-se-o-cafe-ficasse-mais-caro/ Wed, 23 Nov 2022 11:06:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11724 Quanto você pagaria por uma xícara de café? Se um café coado custasse o mesmo que um copo de uísque, você o beberia com a mesma frequência? Se um pacote de café custasse o dobro do que custa agora você ainda compraria no mesmo ritmo? Você estaria disposto a gastar menos em outras coisas para poder comprar […]

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Quanto você pagaria por uma xícara de café?

Se um café coado custasse o mesmo que um copo de uísque, você o beberia com a mesma frequência? Se um pacote de café custasse o dobro do que custa agora você ainda compraria no mesmo ritmo? Você estaria disposto a gastar menos em outras coisas para poder comprar um café?

Em economia, a forma como o comportamento de compra muda com base nas alterações de preço é chamada de “elasticidade-preço da demanda”. No setor cafeeiro, a fixação de preços é uma questão controversa e bastante discutida. O chamado “preço C” afeta agricultores, comerciantes e torrefadores em todo o mundo.

Muitos argumentam que os cafeicultores precisam receber valores mais altos para deixar de viver de subsistência e tornar suas lavouras verdadeiramente sustentáveis. Mas como as mudanças nas políticas de precificação do café afetariam o seu consumo?

Continue lendo para aprender mais sobre a elasticidade-preço da demanda e por que ela é tão importante no setor cafeeiro.

Você também pode gostar de nosso artigo sobre a história inicial do mercado C.

Prancheta com três blocos de grãos de café crus

Elasticidade-preço da demanda: primeiras impressões

Em economia, a palavra “elasticidade” é usada para descrever como o comportamento muda devido a uma mudança no contexto.

A elasticidade-preço da demanda é apenas um tipo de elasticidade. Refere-se a quanto mais ou menos de algo as pessoas comprariam se o preço mudasse.

É importante no setor cafeeiro, especialmente para os formuladores de políticas e os principais atores do setor que buscam mudar a maneira como a cadeia de valor do café funciona.

Muitos dos estimados 24 milhões de cafeicultores do mundo enfrentam dificuldades financeiras, com os preços baixos e a volatilidade frequentemente apontados como fatores contribuintes. Embora seja fácil dizer que pagar mais pode resolver o problema, prever como isso influencia as decisões de compra dos consumidores não é simples.

A complexidade dessa tarefa costuma ser subestimada, o que significa que, quando as decisões são tomadas, elas costumam ser baseadas nas suposições que os tomadores de decisão ou especialistas fizeram sobre o comportamento esperado do consumidor.

Infelizmente, porém, essas previsões de “bom senso” costumam ser insuficientes. Em termos gerais, eles serão baseados em evidências comportamentais anteriores e, portanto, serão menos relevantes ou tendenciosos.

Ramo de um cafeeiro com grãos ainda em processo de maturação

Princípios fundamentais

Se aceitarmos que a evidência histórica não é suficiente para prever adequadamente o comportamento futuro do comprador, como você determina o que acontecerá com o comportamento de compra se aumentarmos o preço do café?

Bem, o primeiro passo é entender as relações e os diferentes fatores que influenciam as decisões de compra. Isso nos ajudará a entender as relações de causa e efeito.

Na maioria dos mercados se verifica o que é chamado de “elasticidade-preço negativa da demanda”.

gráfico da elasticidade-preço da demanda, mostrando a variação no consumo de algo em função do seu preço

Nela, as pessoas compram mais à medida que o preço baixa e menos à medida em que o produto fica mais caro. A elasticidade é justamente o resultado dessa relação entre a quantidade comprada e as alterações nos preços.

Se uma mudança de preço não causa grandes alterações na demanda, consideramos que ela é inelástica. No entanto, se a demanda é altamente dependente do preço, consideramos que há grande elasticidade.

Com menor elasticidade-preço da demanda, a curva acima fica mais íngreme; com maior elasticidade ela fica mais plana, como você pode ver abaixo.

Gráfico de uma demanda relativamente inelástica, onde a demanda pouco se altera em função do preço
gráfico de uma demanda altamente elástica, onde há muita alteração na demanda em função do preço

Utilidade marginal e rendimentos decrescentes

Claro, fica muito mais complicado do que isso. A partir de um gráfico, é fácil dizer que um preço mais baixo poderia aumentar a quantidade demandada a um ponto teoricamente infinito, o que não se aplica na realidade porque simplesmente não existiria produto suficiente para suprir essa demanda

Em primeiro lugar, temos que considerar a lei dos rendimentos decrescentes. Ela está relacionada ao conceito de que as pessoas vão consumir mais de algo quando é mais barato e pressupõe que mais é “melhor”.

Partindo desse princípio, podemos perguntar: dois espressos são melhores do que um? Para as pessoas que gostam dessa bebida, provavelmente podemos dizer que sim. Mas e dez espressos? Depois de duas ou três xícaras a maioria das pessoas provavelmente não vai optar por beber outro, mesmo que fosse de graça.

O quanto um consumidor gosta ou aprecia ter um produto, no caso as doses de espresso, é chamado de “utilidade” do produto e, a partir dessa linha de pensamento, podemos concluir que ela é maior quando se pede a primeira xícara do que na terceira ou na quarta, e assim sucessivamente.

A “dose extra” de satisfação que um comprador passa ter quando tem acesso a mais unidades de algo é chamada de “utilidade marginal”, e para entender como isso influencia a elasticidade-preço da demanda dê uma olhada no gráfico abaixo:

Gráfico compreendendo o conceito de utilidade do produto em função da quantidade demandada

Substitutos: como eles afetam a elasticidade-preço da demanda no café

Outro conceito muito importante ao prever a demanda por um produto é a substituição. A “elasticidade-preço cruzada da demanda” é o quanto a demanda por um produto muda de acordo com o preço de outro que poderia substituí-lo.

Para simplificar: se o café se tornasse extremamente caro, as pessoas poderiam passar a escolher tomar chá. Por outro lado, se o chá ficar muito caro, a demanda por café pode muito bem aumentar.

Gráfico da elasticidade-preço da demanda quando se analisam substitutos de um produto

A disposição dos consumidores em aceitar um substituto para um produto é chamada de “taxa marginal de substituição”. 

Se um consumidor se satisfaz da mesma forma ou com pouca variação quando troca o café pelo chá em função do preço, é mais provável que ele faça a troca de um pelo outro.No entanto, isso não ocorre caso os consumidores tenham uma elevada predileção por esse ou aquele produto.

A mesma lógica pode ser aplicada em diferentes segmentos do setor cafeeiro. Se os preços do café especial giram em torno de US$ 15, enquanto os do café tradicional de US$ 10, o consumidor compraria o de melhor qualidade se considerasse que a satisfação que obtém dele é igual ou superior aos 5 dólares de diferença entre os dois tipos.

Há ainda outra pergunta a se fazer nesse sentido: com esse valor da diferença entre os dois produtos, o consumidor poderia comprar algum outro item que lhe traria mais satisfação do que a qualidade do café? Ele ficaria mais satisfeito por beber um café especial ou preferiria pagar por um café tradicional e um sanduíche?

Grãos de café secando em terreiro

O que a elasticidade-preço da demanda significa para o setor cafeeiro?

Esses vários exemplos ilustram, acima de tudo, que a questão sobre a intenção de pagar mais ou não por seu café não tem uma resposta simples, e que isso sempre depende do contexto.

Mas como esse conhecimento da elasticidade-preço se relaciona com o mundo real? Quais são as implicações para o setor cafeeiro em que vivemos e trabalhamos?

O café, como uma única categoria de produto, é geralmente tido como razoavelmente inelástico em relação ao preço nos mercados consumidores de alta renda, o que pode ser verificado nesse artigo de 2005. Quanto aos mercados de renda mais baixa, infelizmente há menos informações disponíveis.

Também sabemos que o café é uma categoria de produto muito competitiva em muitos mercados consumidores, já que caso o café se tornasse um pouco mais caro em geral seria improvável que os varejistas aumentassem muito os preços finais para os consumidores. Isso porque eles provavelmente passariam a comprar produtos substitutos comparáveis a preços mais baixos.

Já foi visto ainda, historicamente, que em meio a picos de preço os torrefadores aumentam o uso de cafés mais baratos em seus blends, como robustas de grau commodity ou arábicas de pontuação mais baixa. Isso os ajudou equiparar os custos e a evitar o aumento dos preços para o consumidor final, o que tornaria seus produtos menos competitivos.

Caso no. 1: Você poderia aumentar os preços do café para que os produtores ganhem mais dinheiro?

Existem vários argumentos para explicar por que o aumento artificial dos preços no consumidor final levaria ou não aos resultados desejáveis.

Ao examinar as implicações da elasticidade-preço da demanda, conforme mencionado, o aumento teórico dos preços ao consumidor não levaria a uma redução significativa da demanda, assim como não há evidências de uma elevação no preço do varejo resultem um aumento nos preços do café verde.

No entanto, se um aumento no preço do café verde fosse ditado por grupos de produtores, a cadeia de abastecimento posterior (torrefadores e varejistas) e seus clientes teoricamente seriam capazes de absorvê-lo.

close em punhado de grãos de café de processamento natural (com as cascas), sobre uma mesa.

Caso no. 2: Podemos promover o consumo nos países produtores de café?

Há um argumento popular de que, se a demanda por café aumentar e a oferta permanecer estável, os preços naturalmente aumentarão. Como a demanda é inelástica ao preço (ou seja, não é sensível ao preço), então, em teoria, o mercado deveria consumir a mesma quantidade, mesmo a preços um pouco mais altos.

Como a maioria dos países importadores de café de alta renda está saturada com as marcas existentes, muitos procuram os países produtores de café para impulsionar uma nova demanda.

Em alguns países produtores que exportam a grande maioria de sua produção e importam café de baixo custo do exterior, temos visto uma pressão para proibir as importações e aumentar a demanda pelo café produzido localmente. Em teoria, isso pressionaria automaticamente os preços para cima.

No entanto, a eficácia dessas medidas dependeria maciçamente da elasticidade-preço da demanda no mercado em questão. Em países de renda mais baixa, as pessoas têm menos renda disponível e um hipotético aumento no preço do café poderia cortar o orçamento de bens e serviços “essenciais”, como alimentação, abrigo e roupas.

Se as pessoas têm dinheiro suficiente para comprar café, leite e pão aos preços atuais e o café fica mais caro, precisamos saber se comprariam menos leite ou pão para beber café. Pão e leite são mais propensos a serem considerados essenciais e, portanto, oferecem mais utilidade, remetendo à ideia de utilidade marginal tendo uma relação com a demanda.

Se uma medida destinada a aumentar a demanda por café produzido internamente fez com que o preço subisse, há uma boa chance de que ela pudesse, inadvertidamente, reduzir a demanda até certo ponto. Isso atenuaria a eficácia da política.

Grãos de café com muitos defeitos sobre uma mesa

Em última análise, esses são apenas alguns dos muitos fatores a serem levados em consideração ao avaliar medidas que podem alterar ou influenciar o preço do café.

Embora esses conceitos possam ajudar proprietários de empresas, legisladores e produtores a entender o que acontece quando o preço do café muda, a realidade é que eles ainda são muito teóricos. Para realmente entender como o mercado reagirá quando o preço mudar, é importante reunir o máximo de dados possível e realizar todas as análises relevantes.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como repensar o preço C.

Créditos das fotos: Karl Wienhold, Cedro Alto

Perfect Daily Grind

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Entendendo a colheita tardia de café na Chapada Diamantina https://perfectdailygrind.com/pt/2022/10/13/entendendo-a-colheita-tardia-de-cafe-na-chapada-diamantina/ Thu, 13 Oct 2022 16:06:42 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=11040 A colheita do café no Brasil costuma ocorrer entre os meses de abril a agosto. Em geral, temos mais de 90% da safra colhida até agosto. Mas e a safra restante?   A resposta é o que buscamos com esse artigo do PDG Brasil, entrevistando produtores de referência na Chapada Diamantina para fecharmos uma melhor compreensão […]

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A colheita do café no Brasil costuma ocorrer entre os meses de abril a agosto. Em geral, temos mais de 90% da safra colhida até agosto. Mas e a safra restante?  

A resposta é o que buscamos com esse artigo do PDG Brasil, entrevistando produtores de referência na Chapada Diamantina para fecharmos uma melhor compreensão da colheita tardia, também conhecida como colheita fora de época que pode durar até o mês de outubro na região.

Você também pode gostar de ler nosso artigo sobre Como cuidar da lavoura após a colheita?

O que ocasiona a colheita tardia na Chapada?

Iniciamos as conversas com um dos ícones da cultura cafeeira de excelência no Brasil, o produtor Antônio Rigno do Café Rigno, o único tricampeão no mundo (2009, 2014 e 2015) do Concurso Cup of Excellence, promovido pela BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais). 

Em 2002, o proprietário das Fazendas São Judas Tadeu e Ouro Verde em Piatã (BA) iniciou sua produção de cafés especiais, buscando dar mais visibilidade ao seu café com a participação em concursos, o que daria naturalmente um maior retorno financeiro. E assim aconteceu quando o Café Rigno foi premiado como o melhor café baiano em 2003, 2004 e 2005 pela ASSOCAFÉ Bahia (Associação dos Produtores de Café da Bahia).

Os 80 hectares de produção das variedades catuaí (vermelho e amarelo) e bourbon entregam uma xícara com nuances de rapadura, capim-limão e frutas vermelhas. 

Além da produção premiada, na própria fazenda, há uma cafeteria chamada Recanto do Café, onde Dona Terezinha, esposa de Antônio, prepara um delicioso café colonial.

Um dos fatores que proporcionam ao café tamanha qualidade é a colheita tardia. Rigno nos explica que, entre os meses de outubro a junho do ano seguinte, o clima é frio e seco na região, o que entardece a maturação. Somada a isso, uma secagem mais lenta tende a conservar mais os atributos do café. E, com isso, alcançam os prêmios e o reconhecimento do mercado e dos consumidores. “Sou um produtor realizado!”, diz. 

Vantagens da colheita tardia

Fomos muito bem recebidos na Chácara Vista Alegre pela nova geração de produtores de cafés especiais na Chapada Diamantina, o casal Renato Rodrigues e Tainã Bittencourt e seus filhos Benjamin e Sara. 

Renato é diretor comercial da COOPIATÃ (Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã), além de ser um especialista na comercialização de café verde ou grão cru e ter alcançado o posto de 6° melhor café do Brasil no Cup of Excellence da BSCA em 2021.

Segundo as palavras de Antônio Rigno, ” Renato e Tainã são o futuro da cafeicultura na Chapada Diamantina”. E comprovamos isso na aula que Renato Rodrigues nos deu sobre o café na região.

Renato nos apresentou duas visões sobre o tema. A primeira é que o fato de a região ser composta basicamente por produtores de agricultura familiar isso propicia a colheita ser seletiva, manual e a “panha” poder ser realizada quantas vezes forem necessárias. Assim já ocorre a primeira seleção do fruto ainda no pé.

A maturação ideal proporciona o ápice dos atributos no grão, uma vez que, quando a umidade sai do fruto, é nesse momento que os açúcares permanecem na película e trazem mais complexidade à xícara. O microclima frio, seco e de umidade baixa também contribuem, ajudando o café a virar “passa” ainda no cafeeiro.

Um grande ponto de informação conforme Renato citou é que a umidade baixa leva a uma boa estadia do fruto no pé; em contrapartida caso ocorresse uma elevada umidade, a probabilidade seria maior para o desenvolvimento de fungos, o que poderia ocasionar uma fermentação indesejada. 

Uma segunda visão da colheita fora de época é que essa se dá devido à florada ocorrendo mais tardiamente, conforme o sombreamento do cafezal e à própria variedade cultivada.

O descanso pós-colheita é outro ponto de indagação, e eis que o produtor tão jovem quanto sábio, nos diz que seu café permanece por até 60 dias (natural) e de 90 a 120 dias (CD/cereja descascado) nessa etapa. Um tempo fundamental para que a bebida fique “redonda” na xícara, conforme Renato.

Como isso afeta o mercado de café e o consumidor? 

Sobre o diferencial dessa colheita tardia para o mercado consumidor, Renato diz: “Temos como resultado uma bebida com mais complexidade, o que nos dá mais acesso a um mercado competitivo como o de cafés especiais. São cafés geralmente mais densos e que passarão mais tempo ‘vivos’, objetivando passar bem pela entressafra”.

Essa é a opinião também de Eulino, produtor da região cafeeira mais alta em Piatã: Santa Bárbara, situada a 1.400 m de altitude. 

Sr. Liu, como é conhecido, atribui ao microclima, mas também ao solo argiloso que auxilia na umidade do grão e a uma adubação mais “segura”, como os diferenciais dessa localidade.

O experiente produtor nos afirma: “O café na colheita tardia possui um amadurecimento mais lento e maior complexidade, tendo como uma das bases de preço o café das outras regiões produtoras do país que já fora precificado. E esse é um parâmetro importante, não esquecendo que é a bebida na xícara o maior parâmetro quando da negociação do produto com os compradores, sejam eles internos ou externos”.

Os cafés produzidos na Santa Bárbara vão em grande parte para os maiores consumidores per capita de café no planeta, os nórdicos europeus, e também para a Austrália, na Oceania. O Brasil figura apenas como 14° país nesse ranking, apesar de sermos os maiores produtores e exportadores no mundo. 

Eulino, um produtor vivido e comprometido com a cafeicultura salienta que “o consumidor deveria ter mais conhecimento da nossa ‘lida’ na roça, para assim valorizar mais nosso produto”. Palavras de quem há décadas produz café de qualidade com chuva e sol, noite e dia, frio e calor. Os cafés da Santa Bárbara ainda não possuem redes sociais, mas é possível o contato via e-mail: heloisoassuncao@gmail.com e romamattos9@gmail.com.

Como superar os desafios dessa colheita tardia

Conversamos também com Kleumon Moreira, do Café Entre Vales, produzido no Sítio Canaã, um parceiro dos novos empreendimentos da Sílvio Leite Café. Para quem não conhece, Silvio Leite é um personagem de extrema relevância para os cafés da Chapada Diamantina alcançarem o mundo. Agora proprietário da Fazenda Cerca de Pedra São Benedito, Silvio também é head judge e um dos fundadores do Programa de Protocolo do Cup of Excellence. No ano de 2021, na primeira amostra enviada para o Concurso COE, esse já alcançou o 17° posto entre os finalistas.

Foi com Kleumon que conversamos sobre o diferencial da colheita tardia, justamente quando as outras regiões do país estão entrando na entressafra. “Conseguimos uma melhor qualidade do café devido ao maior tempo recebendo os nutrientes do cafeeiro”, explica. 

“Em contrapartida, temos um aumento no nosso custo de produção, em especial a mão de obra, devido ao aumento do número de vezes que as ‘panhadeiras’ devem retornar ao cafeeiro, colhendo apenas os maduros em duas ou até três ‘panhas’ em dias distintos”, diz.

Nos aprofundamos mais no tema e buscamos a compreensão da Single Origin Brazil e o impacto e consequências da colheita fora de época nessa realidade.

Segundo Kleumon, os compradores externos buscam os microlotes para fortalecer a “Single Origin Brazil” e quebrar o paradigma de que os cafés brasileiros são utilizados exclusivamente para blends com cafés de outros países.

Os importadores têm a expectativa de obter os cafés brasileiros entre dezembro e janeiro; porém têm o entendimento de que o café que chegará apenas em fevereiro se deve ao tempo necessário para o alcance da excelência da qualidade.

O jovem produtor complementa: “É fundamental ter o conhecimento da janela de tempo para que nossos cafés não choquem com a chegada de cafés de outras regiões do mundo ao mesmo destino”. 

As palavras de Kleumon nos leva à reflexão de que nossos cafés têm acesso a qualquer lugar do mundo, pois percebemos nessas andanças pelas fazendas produtoras um trabalho árduo e dedicado para que cada vez mais sejamos reconhecidos mundialmente pela qualidade do café aqui produzido.

Kleumon é mais um produtor da nova geração que, junto à sua esposa Diana, seu filho Caio e a mais nova integrante da família, a vindoura Valentina, bebeu da fonte dos pioneiros como Michael Alcântara, do Café Gourmet Piatã, e Antônio Rigno, do Café Rigno, visando agregarem valor e conhecimento aos cafés especiais produzidos nesta região privilegiada da Bahia para o cultivo do nosso apreciado “ouro negro”.

Pudemos ver como a Chapada Diamantina tem se destacado em concursos de qualidade. Os motivos para a excelência dos cafés da região são muitos, mas especialmente envolvem a questão da colheita tardia, que contribui com a manutenção de muitos atributos positivos nas xícaras. Há desafios para a produção, especialmente quanto ao entendimento do mercado sobre o período de disponibilidade desses cafés. Mas não há dúvidas de que há mais vantagens para os produtores da região, que já conquistam inúmeros prêmios e um bom valor agregado em seus cafés.  

Créditos: Acervo Cafeteria Righo Piatã (lavoura) e Augusto Carvalho (pôr do sol nas montanhas, Recanto do Café, Sr. Antônio Rigno na Lavoura, Terreiro Suspenso na Chácara Vista Alegre, Família de Renato Rodrigues e Tainã Bittencourt, Panorâmica de Santa Bárbara, Sr. Eulino no Terreiro, Cafezal na Fazenda Cerca de Pedra São Benedito, Viveiro de Mudas do Sítio Canaã e Kleumon com sua família no Cafezal).

PDG Brasil

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Frete no Brasil: por que tão caro?   https://perfectdailygrind.com/pt/2022/09/16/frete-no-brasil-por-que-tao-caro/ Fri, 16 Sep 2022 14:03:07 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=10720 Muito tem se falado do alto custo de produção para o produtor de café e o sobe-e-desce dos combustíveis, que, aliado a mais uma série de fatores, acabaram elevando os preços também para outras pontas da cadeia.  Um exemplo foi o frete rodoviário, com mais de 50% de valorização em seus itens de composição, trazendo […]

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Muito tem se falado do alto custo de produção para o produtor de café e o sobe-e-desce dos combustíveis, que, aliado a mais uma série de fatores, acabaram elevando os preços também para outras pontas da cadeia. 

Um exemplo foi o frete rodoviário, com mais de 50% de valorização em seus itens de composição, trazendo novos desafios não só para os produtores, mas também para o setor de torrefação, principalmente os que estão localizados em pontos mais distantes das origens produtoras. 

O PDG Brasil foi buscar entender por que o frete no Brasil é tão caro. Siga lendo para saber o que nossos entrevistados disseram. 

Você também pode gostar de ler Por que a promoção do café do Brasil no exterior é importante?  

produção café

Muitos fatores 

Quando se observa o macroeconômico, que vem puxando a alta dos custos, da inflação, muitos fatores têm influenciado para a valorização expressiva nos custos do frete rodoviário no Brasil. 

De acordo com os dados da Fretebras, só nos últimos 12 meses o frete rodoviário no Brasil foi puxado principalmente pela alta dos insumos, como pneu, lubrificante, entre outros, mas principalmente pelo aumento do diesel registrado nesse período. 

“Porém, vemos que de maio 2021 a maio 2022, o frete no geral nacional, aumentou cerca de 3,8%, enquanto o diesel, principal insumo do transporte rodoviário, aumentou 53%. Vemos, também, que os caminhoneiros têm negociado, mas estão mais atentos aos fretes que de fato valem a pena”, destacou Bruno Hacad, diretor de Operações da Fretebras ao PDG Brasil.  

“As transportadoras têm negociado também os contratos com embarcadores, colocando gatilhos de ajuste de acordo com o aumento do combustível.” 

Desde o dia 24 de fevereiro o mundo sente os impactos do conflito político entre Rússia e Ucrânia, que desde então vem impactando a alta no combustível. Porém, o especialista explica que, apesar do impulso ocasionado pela guerra, a alta já era uma realidade para o setor, devido ao rompimento de cadeias logísticas por causa da pandemia. 

Com a leve redução no valor do diesel, ocorrida no último mês, esse cenário deve ter uma melhora. Mas ainda incipiente. Segundo dados do Ministério da Infraestrutura, a malha ferroviária federal do Brasil tem uma extensão de 75,8 mil quilômetros. Se tratando de um país continental, com margem territorial tão extensa como o Brasil, é comum observar diferentes variações no custo de frete. 

frete no Brasil

Sudeste sofreu mais

Os dados da Fretebras mostram que a região Sudeste, justamente a maior produtora de café do Brasil, foi a que mais sentiu a alta dos fretes, com valorização de mais de 7% no período, puxada principalmente pelos produtos industrializados. 

“Nós monitoramos três grandes setores que juntos somam mais de 50% do PIB. São eles: produtos industrializados, agronegócios e construção. O primeiro (industrializado) foi, de fato, o que registrou maior aumento no preço do frete por km rodado / eixo, quando comparamos maio 2021 x maio 2022. Foi de quase 5%. Naturalmente, como o Sudeste é uma das regiões mais industrializadas, vimos esse aumento no preço do frete”, explica. 

Para ele, outro impacto importante tem a ver com a exportação de commodities. “A Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores do agronegócio e, naturalmente, com o bloqueio do comércio internacional com esses países, o mundo olha para outros grandes produtores, como o Brasil. O preço dos grãos lá fora aumenta, a variação cambial é positiva para a exportação, com o dólar em alta, então vemos mais produtores brasileiros destinando uma parte maior da produção para a exportação”, acrescenta.

transporte de café

Digitalização 

Bruno comenta ainda que a pandemia forçou para que o setor se tornasse mais digital, o que inclusive ajudou na redução de custos. Segundo a Fretebras, tanto caminhoneiros, como transportadores passaram a adotar soluções digitais, que resultaram em economia de 20 a 30% nos custos do transporte. 

“Ao buscar caminhoneiros autônomos por meio da nossa plataforma, quando comparado com o aumento da frota própria, por exemplo. Os caminhoneiros também estão mais atentos ao uso dos aplicativos de fretes. Na nossa plataforma, superamos a marca dos 720 mil caminhoneiros ativos, o que representa 47% da frota de autônomos do Brasil”, complementa. 

logística café

Crescimento no índice de fretes

É importante destacar que, inclusive, um estudo realizado pela Fretrebras mostrou que o transporte rodoviário no Sudeste do Brasil cresceu 42% na comparação com o mesmo período em 2021, o que, segundo porta-voz, mostra que a maior região produtora de café do Brasil, está também cada vez mais digitalizada quando o assunto é transporte de carga. 

O levantamento mostra que a alta no período foi de 70,1% na plataforma da Fretebras, que é atualmente a maior plataforma online de transporte de cargas da América Latina. Outro importante estado produtor, o Espírito Santo, aparece na sequência com avanço de 43,8%. São Paulo também apareceu na lista com alta de 26,2% no período. 

“O que temos notado é que o Sudeste está cada vez mais digitalizado, com as transportadoras e os caminhoneiros autônomos utilizando plataformas online para realizar os fretes. Por conta disso, a gente consegue monitorar melhor as movimentações e ajudar eles com um transporte mais seguro e eficiente”, destaca o diretor de operações. 

Quando consideramos todo o país, o volume de frete na plataforma no primeiro trimestre deste ano teve alta de 36,8%. Os dados mostraram que as regiões Centro-Oeste e Sul (com altas de 65,1% e 10,2%, respectivamente) ajudaram a puxar esse crescimento, junto da região Sudeste, pela representatividade dos fretes movimentados nessas localidades. Ao todo foram distribuídos R$ 18 bilhões em fretes de janeiro a março de 2022. 

“O grande fator que está por trás da digitalização das rotas é a pressão da inflação sobre os custos do transporte, puxada principalmente pela alta do diesel [verificada até agosto deste ano]. O mercado tem notado que a contratação de autônomos usando aplicativos de frete, como o nosso, tem gerado economias de 20 a 30% quando comparado com frota própria. Por isso, grandes setores como agro, construção e indústria apostam por este tipo de solução”, reforça. 

cafés especiais

Sobre a metodologia do estudo 

Pela primeira vez, o estudo buscou entender quais são as rotas que estão mais digitalizadas, ou seja, onde os transportadores têm olhado com mais frequência para a busca de caminhoneiros autônomos para o transporte de suas cargas.

Os dados que compõem a 7ª edição do “Relatório Fretebras – O Transporte Rodoviário de Cargas” têm base no fluxo de dados da Fretebras. Com mais de 695 mil caminhoneiros cadastrados e 18 mil empresas assinantes, os fretes publicados na plataforma cobrem 95% do território nacional.

custo logística café

Piso mínimo do frete rodoviário tem reajuste 

No último dia 19 de julho a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) divulgou novo reajuste na tabela de piso mínimo de frete do transporte rodoviário, que vai de 0,87% até 1,96%. 

A atualização está dentro da regra de que a agência deve realizar os reajustes até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano. 

Veja o histórico da lei 

Histórico – A Lei nº 13.703, de 8 de agosto de 2018, que instituiu a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas (PNPM-TRC), determinou que compete à Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT publicar norma com os pisos mínimos referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado, consideradas as distâncias e as especificidades das cargas definidas no art. 3º da Lei.

O parágrafo 1º do artigo 5º da Lei nº 13.703/2018 estabelece que a ANTT deverá publicar nova tabela com os coeficientes de pisos mínimos atualizados, até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano, estando tais valores válidos para o semestre em que a norma for editada. Por sua vez, o parágrafo 2º do artigo 5º estabelece que na hipótese de a norma não ser publicada nos prazos estabelecidos no § 1º, os valores anteriores permanecerão válidos, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou por outro que o substitua, no período acumulado.

custo café

Bruno destaca que muitos fatores continuarão influenciando a formação dos preços do frete rodoviário, um cenário muito semelhante ao que vem acontecendo no mercado de café, seja externo ou interno.

Enquanto o mercado aguarda pelo número oficial da safra brasileira, resolução efetiva dos problemas logísticos e acompanha os impactos da guerra no Leste Europeu na economia global para saber a direção dos preços e dos negócios, o analista afirma que fatores como político-econômicos, climáticos e ambientais continuarão no radar do setor ditando o ritmo dos preços, pelo menos, no longo prazo. 

“Precisamos acompanhar de perto as variações do combustível, a inflação e os juros, a guerra da Ucrânia e agora, também, a questão das exportações e importações da China. Internamente, todos os olhos se voltam para as eleições que se aproximam. Para tentar controlar um pouco as variáveis, é importante as empresas e caminhoneiros se digitalizarem cada vez mais, porque o uso de ferramentas digitais permite maior controle, maior acesso à informação”, acrescenta. 

Créditos: Acervo CNA (caminhão/destaque; produtora removendo café no terreiro; produtor com trem ao fundo; caminhão com torre de eletricidade); Projeto Café Gato Mourisco (vista de fazenda de café em São Sebastião da Grama); Hannes Egler (portões de desembarque de mercadorias); Marcin Jozwiak (vista aérea de caminhões estacionados); Annie Spratt (cafeteira moka e xícara).

PDG Brasil

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Classificação do café no Brasil explicada: análise sensorial e de qualidade de bebida https://perfectdailygrind.com/pt/2022/08/16/classificacao-do-cafe-no-brasil-explicada-analise-sensorial-e-de-qualidade-de-bebida/ Tue, 16 Aug 2022 14:07:04 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=10209 A prova da bebida, ou a “prova da xícara”, que analisa a qualidade do perfil sensorial, de aroma e sabor dos grãos de café commodity, é feita após a classificação física. A metodologia de avaliação e termos classificatórios são ditados pela normativa oficial COB, sigla da tabela oficial da Classificação Oficial Brasileira de Café, que […]

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A prova da bebida, ou a “prova da xícara”, que analisa a qualidade do perfil sensorial, de aroma e sabor dos grãos de café commodity, é feita após a classificação física. A metodologia de avaliação e termos classificatórios são ditados pela normativa oficial COB, sigla da tabela oficial da Classificação Oficial Brasileira de Café, que foi estabelecida pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA).

Neste artigo o PDG Brasil vai explorar a análise organoléptica, ou sensorial, quanto à qualidade da bebida por meio da classificação chamada “prova da xícara” no dia a dia dos escritórios comerciais.

Saiba mais sobre os defeitos do café e como reduzi-los para obter mais qualidade no artigo do PDG Brasil sobre como evitar defeitos.

análise de café

A classificação dos cafés no Brasil

Todos os lotes de grãos de café produzidos e comercializados no Brasil são submetidos a análises classificatórias quanto à escala de qualidade do grão e do perfil de bebida, para que seja possível a precificação necessária a transações em âmbito nacional e internacional.

As regras e instruções de categorização de todos os processos de análises físicas e organolépticas indicadas pela COB avaliam características do café verde, o grão cru, por meio das análises por tipo, cor (classe), umidade e granulometria (peneiras).

A variação de classificação mais associada ao café brasileiro é a por tipo, que se dá pela contagem de defeitos de lotes de 300 g de amostra de café verde, cuja pontuação se alinha aos graus da escala de qualidade por tipo na tabela da COB. A avaliação granulométrica define o tamanho dos grãos através de um jogo de peneiras. As avaliações por cor (classe) e umidade discriminam a idade, condições de armazenamento e possíveis doenças do cafeeiro absorvidas pelos grãos. 

Importante ressaltar que os classificadores mencionados na normativa COB avaliam grãos de café comercializados como commodity, enquanto os Q-Graders (ou avaliadores de qualidade, em tradução livre) são credenciados e formados em degustação de cafés especiais, por meio dos quesitos ditados pelo instituto internacional de qualidade do café (Coffee Quality Institute – CQI) em parceria com a SCA (Associação de Cafés Especiais, instituição referência em cafés de qualidade de abrangência mundial).

A escala da SCA não contempla valores inferiores a 80 pontos da avaliação por tipo quanto à contagem de defeitos, e avalia a qualidade dos cafés por meio de critérios específicos para esse tipo de transação (vendas diretas e fora dos sistemas de compra e venda e precificação do café commodity). A descrição dos aromas e sabores dos cafés especiais é baseada na roda de sabores da associação internacional. 

classificação de cafés no Brasil

A “prova da xícara”

Em 1917, com a instalação da Bolsa Oficial de Café e Mercadoria de Santos, surgiu no Brasil a “prova da xícara”, então empregada de forma não oficial para julgar o aroma e sabor da bebida. Em 14 de setembro de 1949, através do Decreto n. 27.173, o governo promulgou novas especificações para a classificação do café, como a avaliação da qualidade por meio tanto das características físicas quanto sensoriais. A “prova da xícara” passou a ser um processo oficial e hoje é uma etapa fundamental para classificar a qualidade final tanto do grão quanto da bebida derivada. 

Considerada pelo ramo da corretagem como o fator mais importante para a classificação, a “prova da xícara” é o que de fato determina a precificação do café a ser comercializado. Os lotes analisados de forma organoléptica (sensorial) também formam a base de dados necessária para que as torrefações (clientes) definam o conteúdo dos lotes vendidos como blends (mistura de lotes).

A qualidade da bebida do café é classificada de acordo com uma série de critérios, e isso se dá pois a correlação com a análise física dos grãos verdes não se traduz necessariamente em qualidade quanto às características de gosto e aroma da bebida gerada.

classificação de café

As regras de classificação da qualidade da bebida

Os grãos selecionados para a torra e prova degustativa são classificados por análises físicas (intrínsecas, às inerentes do grão, e extrínsecas, as impurezas externas) imediatamente antes do processo da “prova da xícara”.

A torra para a prova da xícara deve ser clara, para que se possa identificar defeitos na bebida, e o nível de moagem grosso. A cada torra de amostras, deve ser feita uma torra de limpeza, para se certificar de que não há contaminação de grãos diferentes. 

Os escritórios de comércio exterior utilizam torradores específicos para as amostras, que contêm menor capacidade de grãos e uma série de tambores que funcionam ao mesmo tempo. A instrução da COB também dita quais os procedimentos de limpeza e cuidados gerais que devem ser seguidos durante todo o processo de classificação.

avaliação de cafés

As etapas da análise organoléptica

Quando chega à mesa específica para a “prova da xícara”, cada copo de teste leva 10 gramas de café e 100 ml de água (mole, ou filtrada e sem resíduos excedentes de minérios como calcário), cuja temperatura ideal é de 90ºC. 

A mistura permanece em infusão por 4 minutos, quando a crosta formada é “quebrada” com uma colher específica para a prova para que se avalie os aromas da mistura. Os resíduos são misturados levemente com o líquido antes da prova degustativa. A bebida não é ingerida pelo classificador, que a cospe em um copo de descarte.

análise sensorial de café

O profissional então avalia as características qualitativas da bebida de acordo com o corpo, aroma e sabor, e cruza as informações considerando a designação física da amostra, que deve especificar a data do processamento e local de origem do cultivo e tipo de fermentação. 

De acordo com a normativa da COB, é mediante a “prova de xícara” que se determina o grupo e subgrupo dos cafés beneficiados “grão cru”. 

Há uma escala de classificação diferente quanto à qualidade da bebida dos grupos robusta e arábica. 

Bebidas do grupo robusta

  • Excelente: café que apresenta sabor neutro e acidez mediana; 
  • Boa: café que apresenta sabor neutro e ligeira acidez; 
  • Regular: café que apresenta sabor típico de robusta, sem acidez;
  • Anormal: café que apresenta sabor não característico ao produto.  

As designadas “bebidas finas” do grupo arábica são as consideradas de qualidade superior de acordo com a COB. Já as “fenicadas” do grupo arábica são as bebidas de qualidade inferior, que apresentam aroma e sabor desagradáveis. 

Bebidas finas do grupo arábica

  • Estritamente mole: todos os requisitos de aroma e sabor “mole”; 
  • Mole: aroma e sabor agradável, brando e adocicado; 
  • Apenas mole: sabor levemente doce e suave, sem adstringência ou aspereza de paladar; 
  • Duro: café que apresenta sabor acre, adstringente e áspero, porém não apresenta paladares estranhos. 

Bebidas fenicadas do grupo arábica

  • Riado: café que apresenta leve sabor típico de iodofórmio; 
  • Rio: café que apresenta sabor típico e acentuado de iodofórmio; 
  • Rio Zona: aroma e sabor muito acentuado assemelhado ao iodofórmio ou ao ácido fênico, sendo repugnante ao paladar. 

Como características adicionais da amostra no laudo de qualidade nos moldes da COB, a critério do comprador, podem ser solicitados: a análise do grau de cafeína, tipo de processo (via seca, úmida), qualidade da seca (processos de via seca), qualidade da torração e aparência dos grãos. 

prova de xícaras café

A classificação de qualidade da bebida na prática

Na época da publicação da COB, em 2013, era prática que os classificadores de café tirassem uma certificação oficial, com cursos autorizados pelo MAPA, mas, na prática e no dia a dia dos escritórios de corretagem, esse treinamento é feito internamente. 

Clique aqui para entender melhor os pormenores da seleção realizada costumeiramente no meio de comércio exterior de café.

“O treinamento da função da maioria dos classificadores (antigos e contemporâneos) é desenvolvido internamente, tanto na prática quanto em desenvolvimento da aptidão, apesar de existirem cursos introdutórios disponíveis quanto aos critérios COB. Já os Q-Graders devem atualizar seus certificados de três em três anos”, explica Edgar André Gomes, diretor de controle de qualidade da empresa de comércio exterior de café Wolthers & Associates, baseada em Santos (SP).

Uma das razões para o enfoque na formação interna é que há diferenças objetivas entre os critérios normalmente solicitados por clientes, tanto nacionais quanto internacionais, diz Edgar. “Os critérios de classificação e da política interna de certificação de qualidade solicitada são abrangentes e subjetivos”, diz Edgar. 

prova de xícaras café

Características de avaliação na prática 

Segundo Edgar, as análises realizadas nos escritórios podem seguir tanto as regras da COB, ou das tabelas de análise de qualidade da Bolsa de Café de Nova Iorque (NYBOT), que controla os preços do comércio internacional quanto a contratos de compra e venda de café arábica, e da Bolsa de Café de Londres, que centraliza as operações de café robusta (canéforas), ou ambas. 

“O mesmo lote pode passar por critérios diferentes de classificação por tipo, bebida e peneira entre diferentes clientes (internacionais), com valor de aceitação mínima de defeitos (segundo as bolsas) diferentes.”

Além de tocar os processos de qualificação dos lotes negociados pela Wolthers, tanto de commodity quanto em negociações diretas (cafés especiais), Edgar é responsável pelo departamento de Quality Control, um serviço de classificação e qualificação prestado pelas corretoras como parte terceirizada. 

“O cliente pode ser tanto o vendedor quanto o comprador do café, nós apenas fazemos a análise de aprovação de que o lote corresponde aos valores de qualidade esperados. A amostra de aprovação chega no mínimo de um mês antes do embarque, e quando certificada, aguarda-se o aviso de embarque para checarmos. Caso haja rejeição do cliente quanto às qualificações da avaliação ou demandas específicas de padrão que devem ser alteradas, o processo é reiniciado.”

As normativas de classificação e determinações quanto à designação de qualidade do Brasil seguem em evolução, como o mercado do café global em geral, que demanda transparência quanto ao ciclo produtivo e aos atributos dos grãos. 

Prova disso é que em maio de 2022, o MAPA aprovou uma nova determinação quanto ao padrão de classificação do café torrado, em parceria com a ABIC. Entre outras mudanças, a nova normativa torna obrigatório a partir de janeiro de 2023 que as embalagens dos cafés comercializados no Brasil contenham as informações do tipo de grão e o grau da torra nas embalagens. 

prova de xícaras de café

Critérios internos à parte, quanto maior o número de informações dos cafés, quem ganha é o produtor, que tem seu trabalho valorizado, e o consumidor, que dispõe de ferramentas para escolhas de compra. 

Créditos: Embrapa Café (mesa de classificação de qualidade da bebida); Divulgação Wolthers (mesa de contagem de defeitos, mesa de prova da xícara, degustador Edgar e amostras); Victor de Paula Souza (degustador de óculos, Anderson Nunes; provador com o avental).   

PDG Brasil

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Classificação dos cafés no Brasil explicada: peneira, cor e umidade https://perfectdailygrind.com/pt/2022/07/13/classificacao-dos-cafes-no-brasil-explicada-peneira-cor-e-umidade/ Wed, 13 Jul 2022 05:30:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8717 O Brasil produz uma gama variada de cafés, seja em relação a perfis de sabor, regiões produtoras ou variedades da planta. A qualificação física do café produzido em território nacional, para fins de comercialização interna e de exportação, é ditada de acordo com a avaliação do grão verde, em uma gama de processos de análise.  […]

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O Brasil produz uma gama variada de cafés, seja em relação a perfis de sabor, regiões produtoras ou variedades da planta. A qualificação física do café produzido em território nacional, para fins de comercialização interna e de exportação, é ditada de acordo com a avaliação do grão verde, em uma gama de processos de análise. 

A COB, sigla da tabela oficial da Classificação Oficial Brasileira de Café, foi estabelecida pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

Neste artigo, parte da série “Classificação dos cafés no Brasil explicada”, do PDG Brasil, iremos explorar três dos processos físicos de classificação de qualidade dos grãos usados no Brasil: análise por granulometria, análise por cor (ou classe) e análise por índice de umidade. 

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classificação do café no Brasil

Uma visão geral sobre as classificações do café no Brasil

As classificações das características dos lotes de café são as responsáveis por fornecer as informações necessárias para a negociação e precificação dos grãos.

O café verde, o grão cru, é classificado por meio de uma série de processos de análises físicas. A variação de classificação mais associada ao café brasileiro é a por tipo, como o PDG Brasil explicou em detalhes no artigo “A classificação dos cafés no Brasil: por tipo e defeitos dos cafés”. A categorização da qualidade por tipo se dá pela contagem de defeitos de lotes de 300 gramas de amostra, e a pontuação equivale a um tipo de qualidade tabelada COB (Classificação Oficial de Cafés do Brasil). 

Saiba mais sobre os defeitos do café e como reduzi-los para obter mais qualidade no artigo do PDG Brasil sobre como evitar defeitos.

Também se classifica o café por meio de análises físicas quanto à avaliação granulométrica na qual o tamanho dos grãos é medido através de um jogo de peneiras; pela cor (classe), o que discrimina a idade, condições de armazenamento e possíveis doenças do cafeeiro absorvidas pelos grãos; e avaliação por meio dos níveis de umidade dos grãos.  

Os grãos crus (verdes) só são avaliados fisicamente após o processo de beneficiamento, que prepara os lotes de café já processados (via seca ou úmida) para a classificação de qualidade, por meio de operações mecanizadas de limpeza e descascamento dos grãos.

Bica-corrida” é o termo de mercado que corresponde a todo grão já beneficiado, mas que ainda não passou pelas análises de classificação de qualidade. 

A prova da bebida, ou a prova da xícara, que analisa a qualidade do perfil sensorial, de aroma e sabor, é feita após a classificação física, cujo processo o PDG Brasil abordará em outro artigo. 

café verde no terreiro

A COB na prática

As regras e instruções de categorização de todos os processos de análises físicas e organolépticas são indicadas no texto da COB, de 2013, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

Na época da publicação da COB, em 2013, os classificadores de café tinham de obter uma certificação oficial, com cursos autorizados pelo Ministério, mas, na prática, e no dia a dia dos escritórios de corretagem, esse treinamento é feito internamente.

Vale ressaltar que os classificadores avaliam grãos de café comercializados como commodity, enquanto os Q-Graders são classificadores credenciados para atestar a qualidade e características de cafés especiais, com pontuações acima de 80 na tabela de tipos, negociados em vendas diretas. 

classificação do café por peneiras

Classificação por peneira: granulometria

A avaliação física pelo método da peneira chama-se granulometria, estabelecida de acordo com a medição do tamanho e da forma dos grãos.

As peneiras são divididas entre formas circulares ou alongadas, segundo regulação da COB, e confeccionadas com malhas de diferentes tamanhos e de acordo com os tipos de grãos: grão chato, grão moca ou grão triângulo. A mensuração é conduzida por frações de polegada (1/64), com amostras de 100 gramas. Cada número de peneira é correspondente à quantidade de furos calculados.

Para os grãos chatos, os de tamanho padrão no mercado, são usadas peneiras de crivos arredondados, numeradas de 10 a 19. 

As peneiras de medição de grãos redondos, também chamados de grãos moca (anomalia de formação, quando em vez de dois, é formado um grão em uma parte única), são de crivos alongados, e numeradas de 8 a 13. 

Saiba mais sobre os grãos moca e sobre os termos Mocca no mundo do café.

O propósito da separação dos cafés por peneiras é preparar os lotes para que a torra seja uniforme, pois na etapa da torra, as variáveis de volume e dimensão dos grãos são vitais. 

Grãos miúdos torram mais rápido que os graúdos, o que pode inviabilizar o café para venda. Os grãos maiores, os “graúdos”, são mais valorizados comercialmente justamente por serem menos passíveis de carbonização durante a torra. 

“Quando o Café Beneficiado Grão Cru não for submetido à separação em peneiras, ou quando submetido se enquadre em quatro ou mais peneiras, será considerado ‘bica corrida’ (B/C)”, dita o texto da instrução normativa que regula a classificação de cafés. 

Conheça a classificação por peneiras: 

  • Chato grosso, de peneiras 17, 18, 19 e 20; 
  • Chato médio, de peneiras 15 e 16; 
  • Chato miúdo, de peneiras 13 e 14; 
  • Moca graúdo, de peneiras 12 e 13; 
  • Moca médio; de peneiras 10 e 11; 
  • Moca miúdo, de peneira 9.

Os grãos mais valorizados pelo mercado são os de tamanho médio, pela performance uniforme na torra, o que gera lotes homogêneos e bebidas de maior qualidade. As numerações intermediárias são associadas à qualidade superior pelo mercado. 

Os grãos classificados com os números de peneiras de 13 a 20 são o padrão destinado à exportação, pela qualidade associada aos tamanhos. 

cor do café verde

Classificação por cor 

A classificação do café verde, ou do grão cru beneficiado por cor é tratada como avaliação por “classe” na normativa da COB. São 8 classes de classificação por cor, sendo que a paleta de cores quanto ao envelhecimento do grão a ponto de deterioração vai de verde a esverdeada, esverdeada-clara, amarelada e esbranquiçada.

Dependendo do tipo de processamento usado no pós-colheita (via seca ou úmida), as cores dos grãos crus são diferentes. O café despolpado ou degomado tem a coloração da classe verde-azulada e verde-cana. 

A cor verde designa o café gru pós colheita, e conforme passa o tempo a coloração do grão se torna (classe) amarelada (os tons de amarelo indicam envelhecimento, e quanto mais claro, mais antigas são as safras correspondentes).  A classe discrepante aponta a mistura de grãos de safras diferentes, pela mistura de cores na mesma amostra. As outras classes: marrom, chumbado e esbranquiçada.

avaliação do café verde

A classificação por nível de umidade

A classificação por níveis de umidade está completamente associada à classificação por cor. Apesar de a normativa da COB ditar que os teores “não poderão exceder os limites máximos de tolerância de 12,5%”, na prática, a incidência aceita quanto à água presente nos grãos pode variar de acordo com a negociação. 

Quanto maior a umidade no grão, mais rápido é o processo de decomposição, pois a umidade favorece a fermentação e oxidação. Para o comprador é importante medir a umidade para saber por quanto tempo os lotes podem ficar armazenados até que o sabor e qualidade se deteriorem. 

A umidade do café é analisada via amostras de 100 gramas, que devem estar livre de impurezas e descascadas, ou seja, sem casca e pergaminho. Os aparelhos medidores de umidade para fins agrônomos apontam o índice de água presente em qualquer tipo de grão cultivado (como milho, soja, feijão). 

Além da análise pós-beneficiamento da umidade, para os produtores, particularmente, ter esse aparelho em mãos auxilia o produtor a controlar o processo de secagem, que é o fator determinante da incidência de água nos grãos. 

Abaixo de 10% de umidade

Quanto mais tempo passa o café na secagem, menor a porcentagem de água. “Grãos com umidade inferior ao padrão (abaixo de 10% de umidade) são quebradiços, e isso afeta os lotes durante o processo de torra, pois os pedaços tendem a carbonizar, e na mistura final isso atrapalha significativamente a qualidade da bebida”, explica André Peres, corretor e trader de café da ACS Exportações. Isso faz com que esses grãos percam valor de venda.

10% a 12,5% de umidade

O ideal é que o índice de umidade pré-beneficiamento seja de 10% a no máximo 12,5%, pois, após aproximadamente seis meses, os grãos passam a adotar a coloração branca, o que indica a presença de mofo e outras deteriorações. 

12% de umidade

O índice de umidade equivalente a 12% aponta o início do processo de envelhecimento do grão, o que não é ideal para compradores que pretendem deixar os lotes armazenados. Grãos com umidade inferior ao padrão são quebradiços, e isso afeta a qualidade dos lotes durante o processo de torra, pois os pedaços tendem a carbonizar, e na mistura final isso atrapalha significativamente a qualidade da bebida.

Acima de 13% de umidade

Já grãos com tempo de secagem insuficiente, com acima de 13% de umidade, demoram a torrar, e ficam esbranquiçados, “velhos”(classificação por classe e cor) mais rápido. 

classificação do café

A fase do rebenefício

Normalmente são as empresas exportadoras, cooperativas ou comerciantes intermediários que conduzem essa etapa, padronizando lotes para os mercados demandantes. O rebeneficiamento é feito em armazéns específicos, e “muitas vezes, ficam por conta dos compradores de revenda, que querem reclassificar os grãos para aumentar o valor comercial dos lotes adquiridos, além de assegurar a qualidade específica demandada pelos contratos”, diz André.  

O re-beneficiamento é praticamente um processo de nova catação para eliminar defeitos físicos, além de outra peneiração para homogeneização. Os contratos de café têm definições específicas quanto às numerações referentes às peneiras, porcentagem de classificações de defeitos aceitos, cores e índices de umidade. 

O mercado aponta que cafés de alta qualidade correspondem à classificação das peneiras 14, 15 e 16, de grãos chatos, miúdos e médios.

Cerca de 80% do café comercializado no Brasil é composto por misturas de numerações de peneira, com arábica e canéforas, o que revela a importância vital da prática eficaz desses três métodos de classificação, que, junto com a contagem por defeitos e a avaliação de qualidade da bebida (em artigo a ser publicado em breve), compõem o valor final de mercado dos lotes de cafés.

café verde como avaliar

Conhecer a fundo os aspectos avaliados na classificação do café é essencial para que produtores e produtoras de café saibam conduzir o preparo de amostras e avaliar o trabalho dos armazéns responsáveis pelo preparo de seus lotes. 

Dessa forma, conseguirão controlar melhor a qualidade de seus cafés e oferecer a seus compradores um produto mais adequado às diferentes necessidades e preferências. 

Créditos: Cid Manicardi (frutos maduros/destaque); Sítio Flor da Lua (trabalhadoras no cafezal: Fátima, Anny e Cleude); acervo Isabelle Mani (medição de peneiras, de arquivo de amostras e pesagem de grãos); Embrapa Café (beneficiamento e rebeneficiamento); Pixabay (grãos crus, grãos em secagem); Alexander Schimmeck (terreiro com café); Battlecreek Coffee Roasters (café verde); Divulgação Pinhalense (equipamento de benefício); Mariliz Lopez (café verde com mãos).

PDG Brasil

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Calibrar é preciso: a importância da calibragem para degustadores de café https://perfectdailygrind.com/pt/2022/06/21/calibrar-e-preciso-a-importancia-da-calibragem-para-degustadores-de-cafe/ Tue, 21 Jun 2022 14:46:55 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=8969 No meio de provas profissionais de cafés, que envolvem laudos e avaliações técnicas rigorosas, há profissionais que treinam diariamente para estarem qualificados a exercer essa função.  A avaliação dessa capacidade se dá por meio do curso e da prova de Q-graders desenvolvidos pela Quality Coffee Institute (CQI) e pela Specialty Coffee Association (SCA). Mas o […]

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No meio de provas profissionais de cafés, que envolvem laudos e avaliações técnicas rigorosas, há profissionais que treinam diariamente para estarem qualificados a exercer essa função. 

A avaliação dessa capacidade se dá por meio do curso e da prova de Q-graders desenvolvidos pela Quality Coffee Institute (CQI) e pela Specialty Coffee Association (SCA). Mas o que acontece depois da certificação do profissional?

De tempos em tempos, para garantir que os profissionais ainda estejam aptos a atuar e que estejam sendo coerentes com o sistema de avaliação mundial, é feita uma reavaliação para renovar a certificação e comprovar que continuam qualificados a seguir provando. Essa prova periódica é chamada de “Calibragem”.

Para descobrir mais sobre o tema, o PDG Brasil conversou com dois profissionais que já atuam no ramo há anos e têm experiências em avaliações, treinamentos e consultorias, além de possuírem certificação da CQI.

Você também pode gostar de ler O que faz um Q-grader?

cupping de café

Importância e necessidade

As provas de café têm como intuito gerar laudos de qualidade sobre os cafés. Existem diversos níveis de avaliações para diferentes situações, podendo ser desde uma avaliação para verificação de torra até mesmo uma prova para uma negociação grande. 

Conforme o nível vai subindo, o peso que recai sobre a avaliação aumenta da mesma forma. Profissionais cada vez mais especializados nessa área são necessários, uma vez que compras e vendas são realizadas visando sempre um nível de qualidade predefinido pelo comprador.

Um profissional apto a realizar tal procedimento de forma correta e que esteja de acordo com a indústria é algo fundamental. Por essa razão, existem protocolos mundiais para tal avaliação. Dessa forma, os degustadores conseguem se comunicar de forma coerente e unificada em todo o mundo.

A calibragem se torna então essencial nesse contexto, pois garante que nenhum profissional esteja realizando laudos fora do padrão e cometendo erros que podem prejudicar uma negociação. 

Cecília Sanada, proprietária da Cecília M Sanada Consultoria, que fornece serviços internacionais, possui certificação de Q-arabica grader, Q-assistant instructor, é juíza certificada (COE, BSCA e FairTrade) e possui prêmios como barista. Ela compartilha conosco sobre a sua visão da importância do procedimento.

“A calibragem sensorial é a atualização constante de memórias do olfato e paladar. 

A degustação profissional tem sido a prática de controle de qualidade que determinou tanto o acesso ao mercado quanto o valor de mercado por pelo menos 100 anos. Uma atividade que depende dos sentidos de um indivíduo foi feita o mais objetiva possível, graças à ciência sensorial e alimentar, treinamento e painéis sensoriais de triagem e alinhamento e calibração de padrões.”

Ela explica que existem vários sistemas de classificação para medir a qualidade do café da forma mais objetiva possível. “No entanto, a qualidade continua a ser um termo relativo e complexo. Por isso, como profissionais, temos a necessidade de estar sempre calibrados com o mercado. Trabalhamos com um produto que exige muito da qualidade apresentada, e também muito dinâmico.”

calibragem degustação de café

Riscos e problemas

Conforme o nível de negociação aumenta, os riscos seguem junto, e a possível quantidade de problemas vai para a mesma linha. Portanto, as avaliações são mais rigorosas e realizadas por mais de um profissional qualificado.

Uma avaliação incorreta não somente gera uma negociação ruim, mas também uma quebra de confiança entre ambas as partes, atrapalhando futuros fluxos de negociação e causando possíveis prejuízos econômicos.  

Rodrigo Ésper, proprietário da Damasco Cafés, voltada para consultoria e assessoria em cafés, possui certificação Q-grader e anos de experiência dentro da indústria. Ele nos dá alguns exemplos de onde um profissional descalibrado pode gerar erros. 

“Os riscos são muitos, vou citar alguns: interpretação errada de potencial de qualidade de uma propriedade produtora de cafés, mistura de lotes de cafés com perfis sensoriais distintos, problemas com conferência e embarques de cafés negociados.”

Cecília acrescenta que é preciso considerar as novas tendências do café. “Com o desenvolvimento de novos processos, fermentações, secagem de diferentes tipos, consequentemente novas nuances e diferentes perfis começaram a aparecer nas mesas de prova. Se o provador não estiver calibrado com o que o mercado procura, talvez possa perder uma grande oportunidade de venda, ou dar uma avaliação equivocada a um produtor/processador que está tentando produzir um microlote ou experimento, para concursos e também para comercialização do café.”

Empresas grandes e cooperativas que lidam com quantidades maiores de compra e venda de cafés e possuem um time de profissionais, podem também se deparar com essa situação caso o time esteja descalibrado. Como evitar isso?

Para Cecília, problemas como esse dentro do time podem causar uma bola de neve. “Geram-se muitos malefícios e muitas vezes grandes prejuízos, principalmente se esse profissional descalibrado tiver uma opinião forte sobre os demais. Algumas vezes há provadores que se sentem inseguros em avaliar cafés e acabam indo pela opinião dos outros. Assim, pode não oferecer uma avaliação correta para um café que teria um mercado certo, ou cliente específico.”

Para evitar isso, Rodrigo nos dá um exemplo de como calibrar, junto a outros colegas da área. “A melhor forma é sempre estar provando cafés com outros provadores (calibrados), principalmente em outras empresas, cidades e regiões, e sempre observando os perfis sensoriais que os outros provadores estão gostando mais e também aqueles perfis que não estão gostando tanto.”

Para ele, muitas vezes o foco do problema está na quebra de protocolos e metodologias de provas, fazendo com que a forma de analisar os cafés seja diferente entre os provadores. “E a consequência, na maioria das vezes, é termos interpretações diferentes do mesmo lote de café. É possível conseguir corrigir e evitar essa questão, por meio do próprio exercício de calibragem e cursos.”

cupping de café

Degrau a degrau

As avaliações não se restringem somente aos Q-grader, há também os profissionais de classificação e degustação que fazem a parte mais volumosa do trabalho, provando todos os lotes de ponta a ponta que chegam na empresa.

Além de profissionais de cafeterias, os baristas são conhecidos como especialistas dos cafés e dominam diversos métodos de preparo.

Tais profissionais possuem importância dentro da indústria e, apesar de não terem provas oficiais para uma calibração, existem outras formas de manterem-se no padrão de avaliação com os demais colegas.

Para Cecília, é importante notarmos os diferentes níveis de conhecimento exigidos e a importância de estarmos olhando para um mesmo “norte” dentro das provas. Ela diz: “É importante entender que realmente temos os mais diversos níveis de provadores em um país produtor, do provador na fazenda, da cooperativa, dos exportadores, torradores e baristas. E cada um com a sua necessidade diferente de acordo com seu interesse comercial, standard (commodity), premium (volumes consistentes e qualidade em escala) e cafés especiais (qualidade, relacionamento, consistência)”. 

“O profissional que caminha entre todos esses mundos é um profissional que precisa estar calibrado com o que cada mercado pede, pois assim sabe separar diferentes tipos de qualidade, com resultados consistentes.”

Devemos lembrar dos baristas, que estão na parte final da cadeia do café e são responsáveis por atender os clientes, explicar para o público sobre os aspectos do café e entender o que ele procura.

Perguntado sobre isso, Rodrigo nos fala que os baristas são profissionais muito importantes para a cadeia do café. “São eles que vão preparar e servir o café ao consumidor final. É muito importante o barista saber e entender o café que está servindo. Além disso, é importante entender o perfil sensorial que seus clientes estão preferindo e procurando mais.”

avaliação de café

A calibragem para degustadores e degustadoras de café

O momento da calibragem pode ser desafiador, mas é uma reafirmação essencial para a realização de um trabalho coerente e padronizado. Pedimos dicas aos nossos entrevistados para ajudar nesse momento importante.

Rodrigo, em tom leve fala para manter a calma e confiar no seu trabalho. “Costumamos dizer que todos os anos o café muda, pois estamos falando de uma empresa a céu aberto, então o café muda, e o consumo muda junto. Estar calibrado nos permite acompanhar essas mudanças.” 

“Indico aos provadores que procurem mais as associações de cafés especiais, busquem provar cafés de regiões diferentes, frequentem mais as cafeterias, aproveitem mais essa evolução dos perfis sensoriais dos cafés.”

E Cecília diz: “A minha dica é usar bastante o formulário para avaliar os cafés. Existem diversos modelos e aplicativos. É uma ferramenta incrível e, quanto mais você usa, mais você se avalia como provador. Observar suas notas, conversar com provadores de outras regiões, torradores, provar todos os cafés possíveis e também provar outros produtos (cerveja, vinho, kombucha, chá, azeite) para estimular sua memória e aumentar o vocabulário sensorial.”

degustação de café

Ao final, estar calibrado e avaliar adequadamente um café, além de um compromisso profissional, é uma questão de ética. O trabalho deve ser bem feito, não somente pelas empresas, mas pelas famílias de produtores que estão envolvidos nesse processo e que se esforçam diariamente para fazer um bom trabalho. 

Vale lembrar que, ao provar aquele café, estamos analisando a dedicação de toda uma safra, que pode ser de apenas uma propriedade, de uma região ou até mesmo de um país. E podemos, por meio de um laudo, ser responsáveis por tornar o cultivo de café rentável e justo para os envolvidos.

Créditos: Beatriz Borges Teixeira (destaque e Rodrigo Ésper); Franciele Biscaro Dias (Cecília Sanada na Golden Cup Brasil e detalhe Golden Cup); Joel Schuler (Cecília Sanada no Q-grader Exam). Rene Porter (cupping final).

PDG Brasil

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