19 de abril de 2023

Há espaço para novas competições de baristas e café?

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No café especial, há uma gama de competições projetadas para testar as habilidades e o conhecimento de diferentes profissionais. Dentre estes, os Campeonatos Mundiais de Café (WCC) são amplamente reconhecidos como os respeitados e conceituados no setor. E entre eles, o destaque fica com os Campeonatos Mundiais de Baristas (WBC).

Sem dúvida, há muitas razões para celebrar eventos WCC, incluindo as tendências inovadoras e únicas que podem surgir a partir das performances dos concorrentes. No entanto, nos últimos anos, o WBC, em particular, tem recebido críticas por falta de inclusão e acessibilidade, levando alguns a propor mudanças no formato dessas competições.

Então, há espaço para novas competições de café na indústria? E como podemos tornar as competições existentes mais inclusivas? Para saber mais, conversei com dois organizadores de eventos de café. 

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o Campeonato Mundial de Baristas precisa mudar.

Juízes trabalhando em competição de baristas

Entendendo o WBC – Campeonato Mundial de Baristas

Ola Brattås é o fundador do Kokekaffe Championships, uma competição anual em que os competidores preparam seus cafés usando um método tradicional nórdico.

Segundo ele, o organizador do WCC, World Coffee Events (WCE), é uma grande organização que ajudou a estabelecer a autoridade e a credibilidade das competições. “Organizou eventos do WCC por muitos anos e reformulou as regras à medida que as competições evoluíram ao longo dos anos”, ele acrescenta.

Embora existam sete eventos WCC, incluindo a World Brewers Cup e o World Coffee in Good Spirits Championship, a WBC é sem dúvida a mais impactante. 

Os vencedores anteriores do WBC muitas vezes lançam tendências, adotadas pelo café especial mais amplamente. Por exemplo, o Campeão Mundial de Baristas de 2015 Saša Šestić usou um lote da variedade Sudan Rume processada através de maceração carbônica em sua rotina vencedora – levando a um crescente interesse no método e na variedade. Além disso, competir no WBC permite que os baristas mostrem suas habilidades e conhecimentos em uma plataforma global – potencialmente levando a novas oportunidades de carreira e negócios.

A questão do formato das competições WCC

Os eventos do WCC também são conhecidos por serem muito formais e focados em regras, aumentando seu prestígio e credibilidade. Para alguns, essa abordagem fornece aos concorrentes orientações claras sobre como desenvolver suas rotinas na esperança de receber pontuações mais altas.

No entanto, alguns afirmam que isso pode tornar os eventos WCC exclusivos e inacessíveis – especialmente para concorrentes que não são de países de língua inglesa.

Steve Moloney é o fundador da Ordna  Event Agency e da The Barista League, uma competição de estilo barista que acontece em vários países todos os anos. De acordo com ele, a A WCE ajudou a estabelecer padrões internacionais para competições de café há cerca de 20 anos.

“No entanto, o conceito original para o WBC foi criado em um momento em que havia mais necessidade de estabelecer padrões e práticas comuns às competições de café. Apesar das críticas, devemos reconhecer que as competições em geral se beneficiaram do formato padronizado da WBC”, acrescenta ele.

Competição The Barista League

E Quanto a outras competições de baristas ou de café?

Ao lado de eventos WCC, há uma série de competições de café que ocorrem todos os anos. Um desses eventos é o World AeroPress Championship (WAC), que foi criado em 2008. Há ainda a The Barista League que acontece anualmente desde 2015 e o Coffee Masters que acontece bianualmente durante os festivais de café de Londres e NY.

No caso do WAC, todos os anos cerca de 3.000 profissionais de café de 60 aproximadamente países participam de competições nacionais e regionais. Nelas, o preparo do café é feito sempre usando a AeroPress e o ambiente é bem menos formal e focado em regras.

Da mesma forma, a The Barista League é outro exemplo de uma competição de café inclusiva e informal. Nela, os participantes competem em várias rodadas de desafios com um foco significativo em práticas sustentáveis – incluindo o uso exclusivo de leite de aveia. Já no Coffee Masters, os concorrentes são testados em várias habilidades diferentes – incluindo cupping, preparo com filtro e latte art.

Outros exemplos de competições alternativas

Além disso, há as competições de café que se concentram em outros métodos de preparo que estão se tornando mais comuns.

Entre elas está o primeiro Toddy Cold Brew Championship, realizado na PRF Colômbia no início deste ano. Nele, os concorrentes prepararem três tipos diferentes de bebidas frias.

Há ainda o Campeonato Mundial de Kokekaffe, uma competição relativamente nova na indústria do café que, segundo Ola, é um pequeno evento com algumas regras simples que são fáceis de entender.

“A competição dura cerca de duas horas, e também há a opção de ter um substituto participando em seu nome para reduzir os custos dos concorrentes, se necessário. No campeonato, um mesmo café é fornecido a todos e não é necessário criar uma apresentação para participar”, ele acrescenta.

Steve destaca a importância de incentivar o surgimento de novas competições de café. “Quanto mais eventos e competições diferentes tivermos na indústria do café, melhor para todos”, diz.

“Somos uma indústria diversificada, mas às vezes pode haver muito foco em um padrão de competição de café, o que significa que estamos potencialmente perdendo o apoio a outros tipos de criatividade e inovação. Novos formatos de competição e eventos podem inspirar as pessoas e impulsionar o setor em direções novas”, conclui.

Competidores na The Barista League

Os desafios de lançar uma nova competição de baristas

Tendo em conta os valores da indústria do café especial, há, sem dúvida, espaço para mais inovação e diversificação no que diz respeito a eventos e competições.

“Em todo o mundo, há tanta inovação acontecendo com as competições de café que podem não ser exibidas em uma plataforma global”, diz Steve. “É uma oportunidade de criar algo novo – testar diferentes ideias e ultrapassar os limites de outras competições.”

No entanto, Ola explica que pode levar vários anos para estabelecer uma competição de café. “Pode depender de vários fatores, como o nível de cobertura da mídia e a aceitação dos profissionais de café”, diz ele.

“Pode levar cerca de quatro a cinco anos para que um organizador estabeleça plenamente uma competição na indústria do café especial. O Campeonato Mundial de Kokekaffe foi realizado por seis anos consecutivos. Estamos começando a receber mais credibilidade no circuito à medida em que o evento cresceu nos últimos anos”, ele acrescenta.

O fator diversão

Steve acredita que, embora as competições testem, na maior parte das vezes, as habilidades dos concorrentes, elas também precisam ser divertidas e positivas para aqueles que estão envolvidos.

“Mesmo a equipe que ficou em último lugar na competição precisa obter tanto valor do evento quanto a equipe vencedora, ou como um juiz ou voluntário”, explica. “Ao fazer isso, mudamos o foco predominante da vitória e mais para a criação de mais oportunidades para as pessoas na indústria do café.”

Ola concorda, dizendo: “Para muitos baristas, as competições apresentam a possibilidade de criar uma plataforma a partir da qual possam iniciar seu próprio negócio.”

Participante da competição de baristas The Barista League

Sobre acessibilidade e inclusão nas competições

Uma das maiores críticas aos eventos da WCC, particularmente a WBC, é que os concorrentes muitas vezes têm que gastar uma quantia significativa de dinheiro em equipamentos e recursos para suas rotinas. Isso também inclui seus cafés, que normalmente são lotes, variedades ou até espécies mais sofisticadas e únicas.

Em última análise, isso pode significar que os concorrentes com menos apoio financeiro tendem a estar em desvantagem.

“O WBC é o maior evento da indústria do café”, diz Steve. “A competição tem, indiscutivelmente, as maiores apostas, mas também é caro participar, o que significa que tem uma grande barreira à entrada em comparação com outras competições.

“Acredito que esse problema possa ser facilmente abordado pela WCE”, acrescenta.

Igualdade de condições entre os participantes

Eventos mais acessíveis, entretanto, poderiam criar condições de concorrência mais equitativas para os concorrentes. Ao melhorar o acesso às competições para aqueles com menos apoio financeiro, eles podem conseguir mostrar suas habilidades e conhecimentos em uma escala muito maior.

“Quando se trata de desenvolver regras para competições de café, às vezes precisamos olhar fora da caixa. E à medida que a competição acontece todos os anos, os organizadores podem estabelecer mais facilmente quais elementos do evento precisam mudar para garantir que desenvolvam uma competição alinhada com seus objetivos”, conclui Steve.

The Barista League

É provável que os eventos WCC continuem a ser considerados as competições mais prestigiadas na indústria do café, mas há claramente uma necessidade crescente de eventos mais acessíveis e inclusivos que também ocorram ao lado deles.

Ao organizar e organizar competições de café mais acessíveis, podemos incentivar e apoiar uma gama mais ampla de profissionais de café a participar – ajudando a criar uma comunidade de café mais diversificada.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre se  devemos permitir leites vegetais nos Campeonatos Mundiais de Baristas.

Créditos das fotos: The Barista League

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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